DA Matéria ou DO Abstraí-la
“VIII - E nem por isso se deve recorrer aos átomos que pressupõem o vazio e a matéria estável (ambos falsos), mas às partículas verdadeiras, tal como se encontram. Tal sutileza, tampouco, é de causar espanto, como se fosse inexplicável. Ao contrário, quanto mais a investigação se dirige às naturezas simples tanto mais se aplainam e se tornam perspicazes as coisas, passando o objeto (assunto) do multíplice ao simples, do incomensurável ao comensurável, do insensível ao calculável, do infinito e vago ao definitivo e certo, como ocorre com letras do alfabeto e com as notas musicais. Todavia, a investigação natural se orienta da melhor forma quando a física é rematada com auxílio da matemática. E então, que ninguém se espante com as multiplicações e com os fracionamentos, pois quando se trata com números, tanto faz colocar ou pensar em mil ou em um, ou na milésima parte ou inteiro” (BACON, 1973, p. 107 in Novum Organum,Livro II).
Sejam bem vindos, amigos e leitores. Tudo bem?
Nesta postagem de Livros do Edson, vamos ter um texto simples, com citações de grandes sons (canções) MPBs, e textos clássicos de diversas épocas; à saber, da Idade Média e do século XIX (e as suas respectivas atualizações de revisão de literatura / tradução no século XX e XXI), basicamente, além de clássicos da MPB / Samba, do século XX, como se espera.
O texto diz sobre a natureza, o que de fato somos - brasileiros, humanos, morais ao nosso modo, enfim – diz, um pouco de um Brasil que creio que eu mesmo já deveria ter esquecido, sequer lembrando- de que ele ainda havia; mas este Brasil há, e agora está aqui.
Boa leitura, e obrigado por visitarem e compartilharem este blog.
E desde já quero desejar aos leitores desta página:
Bom fim de ano, divirtam-se e instruam-se, sempre.
Texto: Da Matéria ou Da Sua Abstração
Os climas do semiárido, da caatinga, da Floresta Amazônia e das zonas de transições de biomas trazem uma certa sensação de desconforto à cabeça, de agonia ao peito e de raiva, apenas no simples feito do transpirar. Não saberíamos dizer o que é viver constantemente sobre os efeitos do ar-condicionado e dos filtros que não sofrem de sistemas de manutenções decentes e eficientes; porém, sobre a temperatura de ambiente controlado, isto é um item de primeira importância nas casas dos brasileiros (que a maioria não dispõe de linha de crédito especial para comprar estes equipamentos), mas, de todo modo, pensa-se muito em eliminar o calor e muito pouco em criar e gerenciar um sistema nacional de produção e transmissão de energia limpa, renovável e livre de grandes emissões de CO2. Dizemos apenas que do jeito que está não dá pra continuar, mas é justamente do jeito que está o modo que eles (“os poderosos”, os políticos que só pensam em si) querem continuar. Enfim, cada um com seu clima e com a sua situação, porém, esta visão é equivocada, uma vez que todos vivemos em um planeta só (um planeta apenas), que é muito maior do que todos nós juntos (pois já abrigou muitas outras gerações antes de nós e há de abrigar muitas mais gerações futuras), e certamentenão tão imenso quanto todo o cosmos, e considero que isto seja evidentemente explicativo por si só.
Existe um clima quente no país do samba e do futebol, uma quentura que não cessa (quase nunca) no país das mulatas, dos morenos e dos mulatos bambas; tal como a letra de Noel Rosa para Mulato Bamba:
E quando tira samba é novidade,
Quer no morro ou na cidade,
Ele sempre foi o bamba.
As morenas do lugar vivem a se lamentar
Por saber que ele não quer se apaixonar por mulher.
O mulato é [gay] de fato,
E sabe fazer frente a qualquer valente
Mas não quer saber de fita nem com mulher bonita (Compositor: ROSA; Intérprete: Mário Reis; s/d, DP).
Dizem que este mulato bamba era a própria madame Satã, um travesti ou um homossexual semelhante, polêmico e descarado (bem feliz mesmo), da época; eu considero, que este som é um grito de modernidade e um fora pra lá bem humorado na homofobia, isto, no início do século XX, uma vez que Noel Rosa nasceu em 1910 e faleceu em 1937.
Mas também, segundo o autor João Máximo (2010), ao falar desta canção (Mulato Bamba, s/d), afirma que ela se trata de um enaltecimento aos malandros da época (os marginais, os boêmios), que no caso, se tratava de um homossexual, tal gay era valente e vivia sendo perseguido pela polícia. E este é o mulato bamba, e isto também é nosso.
O Brasil é disto também (não só os índios, não só as belas mulheres), mas os mulatos bambas, os alternativos, o diversos – eis o Brasil e toda tentativa de normalizar o país a um padrão ou a uma estigmatiza-ação, sem dúvida alguma, há de falhar catastrófica e impreterivelmente.
O Brasil é tal como a música “Cravo e Canela” (1972): A chuva cigana / A dança dos rios / O mel do cacau / E o sol da manhã / É morena quem temperou / Cigana quem temperou / O cheiro do cravo / A cor da canela (Milton NASCIMENTO e Ronaldo BASTOS, 1971, EMI-Odeon Brasil).
Este país é aquilo que de mais natural existe; de fato, parece que as histórias que se contam da época do descobrimento são muito controvérsias (e, talvez, imprecisas ou parciais), dizem que serviam para camuflar a influência que os índios tiveram na mentalidade europeia, onde foi necessária extrema força e agressividade, para que os índios pudessem, por fim, serem catequizados e convertidos à Fé da Igreja católica do século XVI. Mas, de tão natural, intentava-se que o paraíso deveria (ter sido e) ser sugado e doutrinado, de um modo ou de outro.
Mas afirmo que de nada disto (de sugação – sucção – e doutrinação) precisamos por aqui. O fato é que o Brasil vive querendo ser uma coisa que ele não é ou aquilo que os demais, sejam os demais interna ou externamente, acham que o brasileiro – e nosso país – deve ser & fazer das suas vidas – mas, realmente, existe uma só consideração plausível a este respeito: neste País cada um pode, sim (resguardadas as devidas proporções e potencialidades), cada um pode fazer aquilo que bem entender e quiser, desde que isto não afete diretamente o direito de fazer o que bem quiserem, ou seja, desde que isto não afete os direitos que os outros têm.
Enfim, eu só quero que saibam que o Brasil não é nada disso do que pensam, por aí. Não é só sexo e vulgaridade, nem é só corrupção e roubalheira, nem só pobreza e catástrofe social e cultural sem chance alguma de melhora; o Brasil não é só epidemia de HIV / AIDS ou Microcefalia encefálica (ou outras doenças gravíssimas), em potencial ou epidémica já em curso, que seja, se é isso em virtude de dengue, de Zyka vírus, de liberação sexual, de falta de opções de cultura e lazer, de falta de política pública de incentivo à mulher em foco – no propor de melhor analisar e ponderar sobre as repercussões que uma gravidez jovem tem, e etc... O Brasil é muito mais que isto.
E sim, existem muitas coisas boas e naturais por aqui, que são de fato as coisas daqui mesmo, nós, povos nascidos de fato aqui, na miscigenação das raças e das transas, vindo ao mundo nesta terra brasileira – e que comemos de seus frutos e bebemos de suas nascentes; é uma pena que sempre tem alguém querendo explorar e tirar proveitos dessas terras, querem nos importar seus estilos, suas tendências e deveríamos replicá-los, sem acrescentar um tom apenas que fosse, na melodia, da nossa cuíca? Sim, pois, a ligação que o brasileiro tem com as nádegas é evidente, não só na parte sexual, corporal e de movimentos de danças e ritmos, a bunda é para o brasileiro o que os seios das norte-americanas é para o típico americano heterossexual (ou para s travestis dos USA, quem o sabe? E quem se dispõe a responder?). Assim, nós brasileiros devemos sim impregnar a nossa cultura e nossas preferências naquilo que nos pré-dispusemos a fazer, sempre, sem dúvida alguma. Não se deve reprimir esta nossa cultura, porque ela é sim natural. Nem uma semi-nudez para deixar as coisas mais naturais? Nada, mas nada de subversão e antropofagia tupiniquim, ora pois, como assim, não o ponho em mim? Devemos ser como somos, e isto é muito natural. Inclusive, isto se aplica a mim.
Mas sobre mim e meu lugar, apenas Schelling (2015) pôde expressar com tamanha naturalidade o que nós fazemos observando a natureza, as pessoas e o tempo das coisas; quando ele diz que não se pode entrar no círculo (da conexão do eu interior – o singular – com o singular da natureza), uma vez que isto se remete até ao infinito, fixamente conectados de modo “eternamente livre e simplesmente em si mesma” (SCHELLING, 2015, p. 89):
XXXVII. Em vão, tentas romper esse círculo e encontrar um ponto onde gostarias de compreendê-lo, ou mesmo um lugar do começo. Tudo nesse todo é apenas eternamente recolhido, como em um círculo mágico, que existe de um único golpe, simultaneamente, e com ele tudo o que lhe pertence também tem que ser eternamente aí e verdadeiramente presente, tanto quanto ele mesmo é presente. Tu também só ésno interior desse círculo, não podendo, portanto, simultaneamente ultrapassá-lo (SCHELLING, 2015, p.89).
Profundas investigação filosóficas feitas, de modo apenas a dizer aquilo que mais persegue-se e menos se obtém: entrar no círculo, e entender o eu tal como entende a natureza a vida; segue-se agora, para as ponderações finais.
E sim, consideramos tudo isto muito natural, apesar de que alguns querem dizer que o Brasil é preconceituoso, violento e intolerante (apesar de o ser muitas vezes), o fato é que sempre a sociedade aceitou (ou melhor, suportou) gays, lésbicas, pessoas viciadas, mas contida sem seus vícios em drogas química sou álcool a fim de permanecerem produtivas e controladas; enfim, a recente “onda de moralidade” brasileira é um jogo forjado de quem acha que o Brasil é a fuça e semelhança deles, mas de fato, o Brasil é muito antigo, e muito mais antigo e natural do que a própria organização indígena em tribos e clãs.
E eles (os outros, aqueles que querem manipular o país) não sabem com quem mexem, e piora tudo se pensarem que as forças de Jesus e Deus estão ao lado deles e que estas forças são maiores que os seres ancestrais dos Brasil, uma vez que o próprio Brasil foi feito especialmente pelas Forças do Mais Alto, senão o País não estaria tão firme e forte & em pé até os dias de hoje, e com perspectivas de melhoras significativas para daqui a setes anos...
Tudo isto deveria ser-nos muito natural, e de fato, deveríamos entender a natureza e as coisas naturalmente dela – como nós, tropicais, miscigenados e saudáveis – tal como as ideias naturalistas do Eterno Retorno, de Nietzsche (2010):
Então os animais disseram: “Zaratustra, para os que pensam como nós, todas as coisas bailam, vão, dão-se as mãos, riem, fogem... e tornam. Tudo vai, tudo torna, a roda da existência gira eternamente. Tudo morre; tudo torna a florescer, correm eternamente as estações da existência. Tudo se destrói, tudo se reconstrói, eternamente se edifica a própria casa da existência. Tudo se separa, tudo se saúda outra vez, o anel da existência conserva-se eternamente fiel a si mesmo. A todos os momentos a existência principia; em torno de cada aqui, gira a bola acolá. O centro está em toda a parte. A senda da eternidade é tortuosa”. “Ah! Astutos órgãos-zinhos!” Respondeu Zaratustra tornando a sorrir. “Como sabeis bem o que se devia cumprir em sete dias! (NIETZSCHE, 2010, p. 188)
A própria natureza constrói e destrói as coisas dela, mas o homem ainda é responsável por seus atos.
Os animais entendem a natureza como criação e destruição; o ser humano entende as características envolvidas neste processo todo, como o tempo, as ações de estabilizações de construções, de alterações no processo e etc.
Mas, de todo modo, a natureza envolvente e cria de si mesma deveria ser mais respeitada e menos sufocada por interesses mesquinhos e que servem apenas as maquinações de empresas e sistemas, e quase nunca se preocupam de fato com o que é o natural de cada um, de cada região e de cada dada circunstância e suas relações. O fato é que a natureza deve prevalecer ao sufocamento de interesses e maquinações humanas, se se sufoca a natureza, a vida é também sufocada.
Entretanto, mesmo assim, afirmamos: cá estamos, Brasil, firme e forte, sobrevivendo a cada dia, a cada ano.
E como sabemos, um dia, todas estas crises, haverão de passar, ou nós passaremos por ela. Perpetuando nossa arte e nossa natureza, nossos feitos e nossas ideias.
E sobre a matéria: exatamente é esta mesma; e o que somos é a nossa natureza, é da nossa natureza. E da abstração, neste texto, ela diz acerca de ignorar a matéria e nossa natureza, ou de pensá-la, apenas, segundo uma dada visão singular.
E sobre a matéria: exatamente é esta mesma; e o que somos é a nossa natureza, é da nossa natureza. E da abstração, neste texto, ela diz acerca de ignorar a matéria e nossa natureza, ou de pensá-la, apenas, segundo uma dada visão singular.
Referências
Abril Coleções. NASCIMENTO, Milton; BORGES, Lô. Clube da Esquina – 1972. São Paulo: Abril, 2012. Abril Coleções: Coleção Milton Nascimento, vol. 2.
BACON, Francis. Novum Organum ou Verdadeiras Indicações acerca da Interpretação da Natureza. Tradução e notas de José de Aluysio Reis de Andrade. São Paulo: Abril Cultural e Industrial S.A., 1973. Coleção Abril Os Pensadores, Vol. 13.
MÁXIMO, João. Noel Rosa. Rio de Janeiro: MEDIAfashion, 2010. Coleção Folha Raízes da Música Popular Brasileira, Vol. 1.
NIETZSCHE, Friedrich. Assim Falou Zaratustra. Tradução de Alex Marins. 4° Edição. São Paulo: Editora Martin Claret Ltda, 2010.
SCHELLING, Friedrich Wilhelm Joseph von. Aforismos Sobre a Filosofia da Natureza. Tradução e introdução de Márcia C.F. Gonçalves. São Paulo: Folha de S. Paulo, 2015. Coleção Folha; Grandes nomes do pensamento; vol. 18
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