Sobre a Escrita e os Escritores
Postagem 127 de Livros do Edson
Feita em Word 2013.
“§34: O Principal e mais alto grau de probabilidade se verifica quando o consentimento geral dos homens em todas as épocas, na medida em que possa ser conhecido, coincide com a constante e infalível experiência em todos os casos semelhantes para confirmar a verdade de uma proposição particular qualquer. É o caso da constituição e das propriedades das coisas naturais e dos procedimentos regulares de causa e efeito no curso ordinário da natureza” (LOCKE, 2015, p. 56, In Draft A - do Ensaio Sobre o Entendimento Humano).
INTRODUÇÃO
Ao seus modos, os seres vivos comunicam-se, e esta é uma de suas propriedades. A comunicação, por vezes, falha em seus sistemas, e, também, por vezes as falhas passam-se pelos próprios sistemas (equivocadamente), enquanto que os próprios sistemas passam despercebidos, e sobrevivem (simulacramente, óbvio) em segundo (terceiro ou quarto) plano.
Há quem ache que ao se viver com fisionomias fechadas e carrancudas, ou que vivendo de modo a se exibir violenta e intolerantemente, (ache) que seja isso uma expressão de força ou de poder (físico, social, qual seja); mas o único contexto que se passa com estas mensagens (violentas e intolerantes) é que se trata de uma pessoa sem modos, educação ou consideração alguma pelas coisas fundamentais da existência, por exemplo. Todavia, aos seus tempos, todos os enigmas, tratam-se, apenas, de umas questões ao qual o TEMPO se resolve por responder; quem deixa aqui (seja na web, nas mídias impressas, ou gravadas em áudio ou vídeo e etc) uma comunicação de boa qualidade e conteúdo, certamente será replicado no futuro, conquanto que quem se preocupa com vaidades ou agressividades, por vezes, será relegado ao esquecimento, ou terá suas colocações refutadas ou desconsideradas, simplesmente.
Considera-se, assim, que a importância da comunicação é incalculável, uma vez que é pela comunicação que as ideias passam de uma geração a outra, e assim, o conhecimento adquirido em determinada era da humanidade, pode se deslocar até outros pontos (e esta é apenas uma das importâncias de comunicar-se).
Os sistemas de comunicação são os idiomas (os canais); já as linguagens podem ser tanto as “faladas”, quanto as linguagens escritas, ou as linguagens não verbais, e etc., segundo a (revisão da) teoria de Roman Jakobson.
O Presente Texto / Post trata da questão da comunicação e daquilo que os textos representam no conjunto linear de acontecimentos entendidos (o TEMPO). Além de tratar da questão dos escritores que se “exibem” (que são famosos, notáveis – em uma palavra: reconhecido) e dos escritores que se ocultam (que escrevem para não aparecerem muito no texto, tal como os revisores, os formatadores, os tradutores – por vezes –, além de demais profissionais da escrita, que não sejam os “escritores”).
A COMUNICAÇÃO FALADA E ESCRITA
A comunicação sempre foi (é) mais auditiva, visual e de (baseadas em) percepções grosseiras, isto é, não-refinadas e não-complexas, do que, significativamente, foi / é sutil, decodificada e atemporal; sobre muitos pontos de vista (e de compreensão), por vezes, falar errado é se fazer ser muito mais bem entendido do que o falar correta e gramaticalmente perfeito. Mas, ainda, deve-se entender, nas situações diversas (ou adversas), qual adequação o emissor da mensagem deve fazer de variações e de níveis linguagem, em acordo com o exigido a uma comunicação bem desenvolvida. Outro ponto: quanto mais palavras se conhece, mais a chance de se usar uma palavra que outra pessoa não conhece, e há ainda a questão da pessoas não aceitar explicações ou teorias, e etc. Assim, os mais simples se entendem melhor do que os mais “eruditos”. Isto ainda pode ser uma das associações dos 4 Idola de Sir Francis Bacon, mas, por vezes, excluído os rumos perigosos de quem desconsidera a semântica, a estética, a ética, as correntes filosóficas, as ponderações elaboradas, e a aplicabilidade mais cabível a determinada situação, excluído tudo do bom senso e da elegibilidade plausível, ainda assim, os simples entendem-se, sim, aos seus modos, mesmo em seus próprios e comuns erros e incapacidades. Enquanto que eruditos fazem questões (desproporcionais) por colocações, formatações, citações, traduções, teorias, etc. e etc.
Mas se a comunicação simples funciona tão bem, ao que se preza; e, apesar de certamente ter havido alguma influência do Espírito Santo na “reprodução” da “teoria” de Jesus Cristo [apesar que o próprio Cristo, segundo consta, Ele mesmo disse que “não veio fundar religião alguma, nem revogar lei alguma”; Jesus disse que veio “cumprir a Lei e dar novo mandamento”, (e) “amai-vos entre vós mesmos”], uma vez que são notadas as similaridades de passagens na vida de Cristo, entre um evangelista e outro, além de semelhantes posições de observação. Mas, mesmo assim, a comunicação falada é circunscrita a um determinado tempo e uma determinada região, ao passo que a comunicação escrita é aquela que melhor transmuta-se de seu tempo e chega mais claramente em outros tempos, ou outros povos, outras culturas, outras regiões, e / ou mesmo, outros planetas (quem o sabe? Eu não posso dizer com absoluta certeza que isto é inteiramente impossível; afinal, a matemática, ao que supõe-se, é universal).
É desta maneira que a língua escrita é mais apropriada para se deixar um poema, uma tese, etc. do que pura e simplesmente, discursá-la, ou mais simplesmente ainda, por fim, dizê-la, falando-a.
Ainda citando Jesus, foi através da Palavra escrita que o Evangelho (Novo Testamento, melhor dizendo) chegou até outros continentes e se mantem vivo até os dias de hoje, com adaptações das traduções, que melhor explicam os significados de algumas passagens bíblicas, e etc. Jesus não se preocupou apenas na teoria, uma vez que sua prática, demonstrava as suas teorias (em parábolas, ou analogias, geralmente) e mais, davam o bom exemplo que deveria ser seguido. Mas ele tinha doze apóstolos, e segundo se sabe quatro (ou cinco ou seis deles) escreveram os seus textos sobre a vida do mestre Jesus, e suas as consequências.
Mas nem só para transmitir conhecimento servem os escritos e a língua escrita. FOUCAULT (2015) afirma que, cientistas incompreendidos, como Mendel, mas que tem sua metodologia atualmente atestada (“aceita”), têm seus lugares de destaque assegurados no hall da fama dos grandes pesquisadores, mesmo que, na época deles, eles tenham sido ridicularizados ou expostos a certo teor de “loucura” com a repercussão de suas obras.
‘“Muitas vezes se perguntou como os botânicos ou biólogos do século XIX não puderam ver que o que Mendel dizia era verdade. Acontece que Mendel falava de objetos, empregava métodos, situava-se num horizonte teórico estranho à biologia de sua época. Sem dúvida Naudin, antes dele, sustentara a tese de que os traços hereditários eram descontínuos; entretanto, embora este princípio fosse novo ou estranho, podia fazer parte – ao menos a título de enigma – do discurso biológico. Mendel, entretanto, constituiu o traço hereditário como objeto biológico absolutamente novo, graças a uma filtragem que jamais havia sido utilizada até então [...]. Mendel dizia a verdade, mas não estava “no verdadeiro” do discurso biológico de sua época: [...] foi preciso toda uma mudança de escala, o desdobramento de todo um novo plano de objetos na biologia para que Mendel entrasse “no verdadeiro” e suas proposições aparecessem, então, (em boa parte) exatas’” (FOUCAULT, 2015, p. 93-94; in A Ordem do Discurso).
A escrita tem muitas particularidades: são os rigores da forma definitiva do texto no espaço tempo, ou antes, a sua forma original, que assim o exigem. E quando a sociedade está indisposta a entender um dado escrito, seja esta sociedade científica, civil (qual seja), é muito mais simples dizer que não há validade em um texto, do que ter que dedicar-se para conseguir compreender tal conteúdo. Afinal, quantos projetos de pesquisas existem sem que haja orientadores dispostos para que se os supervisione?
Isto, também, é o que ocorre com as teorias rebuscadas, os discursos, as poesias, etc. As pessoas, algumas pessoas, seja por elitismo, esnobismo, segregação, ou ideologias, tendem a dizer que tal coisa é apropriada e que outras coisas não são apropriadas. Nossa sociedade ensina que saber ler e escrever é bom, mas ler e escrever longos textos, ou longos discursos, é algo chato (desnecessário) e muito específico, e que não deve ser ensinado em sala de aulas de escolas de subúrbios do Rio de Janeiro, por exemplo. Tudo bem, mas se então uma garota do Rio de Janeiro é escolhida para discursar na ONU, neste caso, só as crianças que tiveram aula de Retórica e Discurso poderiam falar na ONU – de certo que este não é o caso.
Mas o fato é que aquilo que tem valor vai o ter hoje, e sempre, do mesmo modo, aquilo que se deprecia rapidamente, começa a perder o seu valor tão logo é adquirida. Além do mais, textos são documentos, e como tão, conservam seu valor histórico e cultural.
Foucault (2015) diz assim sobre o discurso:
“Desde que foram excluídos os jogos e o comércio dos sofistas, desde que seus paradoxos foram amordaçados, com menor ou maior segurança, parece que o pensamento ocidental tomou cuidado para que o discurso ocupasse o menor lugar possível entre o pensamento e a palavra; parece que tomou cuidado para que o discurso aparecesse apenas como certo aporte entre pensar e falar; seria um pensamento revestido de seus signos e tornado visível pelas palavras, ou, inversamente, seriam as estruturas mesmas da língua posta em jogo e produzindo um efeito e sentido. Esta antiquíssima elisão da realidade do discurso no pensamento filosófico tomou muitas formas no decorrer da história. Nós a reconhecemos bem recentemente sob a forma de vários temas que nos são familiares” (FOUCAULT, 2015, p. 98; in A Ordem do Discurso).
Ou seja, muitos ainda consideram muito mais apropriado falar e agir, do que sentar e escrever. Isto sugere apenas segregação e guerra de conflitos - o presente texto tende apenas a dissertar sobre o que é comunicação e literatura.
Como foi afirmado, para cada situação há um momento de agir, e para cada fala, intenção, há que se usar um determinado nível de texto e certas variações de linguagem. Mas, há que se ressaltar que quando se escreve por si só, há, também, o mérito de poder dizer por suas próprias palavras.
“Eu mesmo falarei
Sobre o meu tempo
E sobre mim. [...]
eu falarei a vocês
como um vivo fala aos vivos.”
(MAIAKOVSKI, in poema “Depois de Morto Falarei como Um Vivo” - Livro Maiakovski Vida e Obra, 2° Ed, de autoria de Fernando Peixoto, Paz e Terra, 1978, p. 214 - 215).
A citação de Maiakovski está assim disposta porque este autor (Maiakovski) apreciava estas disposições de formatações diferentes entre uma linha e outra de seus poemas. O próprio título desse poema diz tudo “Depois de Morto Falarei como Um Vivo”, ou seja, a escrita dele se transmutaria e mesmo morto, poderia dizer como se fosse um vivo, ou seja, a palavra de Maiakovski não iria se decompor pelo tempo, pelo contrário, a poesia dele se mantêm viva no tempo. E de fato, ele continua sendo uma referência da poesia revolucionária russa do início do século XX, um modelo a ser seguido por poetas de 2015 em diante...
Assim quem fala por si, diz o que entende se si (e do mundo). Mas, não pode-se deixar de dizer do lado espiritual e intelectual da fenomenologia (estar no mundo) toda por traz dos textos. Se alguns textos precisam ser publicados e se o autor já morreu, porém se tem médiuns capazes de receberem a mensagem (livro), por que não iria se fazer a psicografia? E mais, se existem médiuns e escritores, poderiam haver Médiuns-Escritores (conscientes do que fazem)? Alguns escritores teriam seus textos ditados por espíritos? Seria correto, se médiuns transmitem textos de espíritos para vivos, que profissionais de escritos escrevessem (e revisassem) ideias de outras pessoas com menos tempo disponível, e até mesmo menos disponibilidade de conhecimento (mesmo que em parte) sobre letras, formatações e textos?
A resposta para todas as perguntas é sim (afirmativa). Acredita-se, no presente texto que a literatura é muito mais do que meramente física, e ela também contém mistério que desconhecemos, mas que o tempo irá comprovar. O fato é que há pessoas que precisam escrever e não sabem, ao menos em algumas partes, como fazê-lo; por isso deve ser ter um revisor de textos; do mesmo modo, os vivos querem respostas que os próprios vivos não tem, e por isso devem haver os livros espíritas. E etc.
O ESCRITOR E OS ESCRITOS
Desde os primórdios da humanidade, os escritores, basicamente, se dividem em duas espécies: os que aparecem, e os que não aparecem.
Sobre os que aparecem, Maiakovski diz muitíssimo bem, assim:
“Eu quero meu lugar
Entre as fileiras dos Edisons
Entre as fileiras dos Lênins,
Entre as fileiras dos Einsteins.”
(MAIAKOVSKI, in poema “Um Mergulho Violento Dentro de Si Mesmo” - Livro Maiakovski Vida e Obra, 2° Ed, de autoria de Fernando Peixoto, Editora Paz e Terra, 1978, p. 141).
Esta é a notoriedade, ser conhecido por suas ideias e proposições. Já os escritores que não aparecem, diz- se do trabalho de outros profissionais das letras (que não os escritores), d’aqueles que escrevem para outras pessoas, que revisam, que organizam ideias, e etc. Muitas pessoas desaprovam este trabalho, mas afirma-se isto é questão de tempo (rotina do dia a dia), além de ter disposição (e conhecimento) suficiente, incluindo ter facilidade com estas habilidades e capacidades; além de envolver questão espiritual e outras, como mencionado.
A escrita é um dom estranhíssimo e dinâmico: Camões parece ser indelével a ação do tempo; Goethe e Locke são do mistério e da sabedoria eternas; Ferreira Gullar vive, pós 2010, sua redescoberta (da obra) própria pelo clamor (e interesse) popular.
É claro que todo escritor deseja ser reconhecido; tão claro como que todo controller deseja atuar em uma grande empresa; porém se oscontrollers (todos, os grandes e melhores, apenas) não conseguem ser gestores em grandes companhias, então, que melhor seja assim, porque as universidades irão continuar tendo ótimos professores associados e excelentes mestres em seu corpo docente.
Do mesmo modo, há quem tenha um bom projeto, tenha que fazer uma tese, etc., mas que não tenha muitas aptidões para os textos, uma opção é contratar um revisor; igualmente como alguém que até aprecia escreve, mas que se estranha com os padrões de artigos científicos, por exemplo, deve contar com um apoio de um formatador, no mínimo. Isto são sugestões, não vias de regras, mas acredita-se que elas deveriam ser postas em prática.
E, no mais, é importante sim o trabalho do revisor, do tradutor, do diagramador dos textos; claro, a notoriedade maior, na maioria das vezes, é do autor, em si, mas deve-se reconhecer o mérito que há em quem organiza tais trabalhos.
CONCLUSÃO
A comunicação é uma propriedade dos seres humanos, apropriadamente: a humanidade se comunica.
As comunicações faladas são mais envolventes e dinâmicas, mas a comunicação escrita ultrapassa barreiras de espaço e tempo, além de ter aplicações diversas e documentais.
Os rigores dos padrões de escrita podem exigir que se faça necessário os serviços de um profissional de diagramação ou revisão de textos, quando da época de confecção de tais papéis.
A maior notoriedade é do autor e de suas teorias, isto em virtude da questão da propriedade intelectual, e mesmo de associações de classes científicas e editoriais; mas, sem o trabalho do revisor e tradutor (e diagramador – e compositor, algumas vezes), simplesmente, uma obra (pesquisa) não conseguiria se realizar.
Haja em vista a importância da linguagem escrita, nada mais comum que ela seja elaborada em conjunto (se isto assim for necessário: por volume de trabalho ou dificuldade do mesmo), em conjunto com outros profissionais, equipes multidisciplinares, etc., isto, mesmo quando se tratar de ideias inteiramente originais; e, sim, certas descrições, de revisão e adequação de textos, ainda devem ser mantidas por questões de legislação.
Não se pode dizer que a ética está sempre acompanhada ao direito legítimo da pessoa, mas, afirma-se que não se inflige teor ético algum ao se auxiliar na produção de um texto alheio, e muito pelo contrário, algumas grandes obras, só foram possíveis graças a colaboração de muitas outras mãos (e dedos, e línguas / e ouvidos e olhos).
Uma determinada obra assume seu espaço definitivo no corredor das grandes peças literárias ou científicas de acordo com sua coesão, elegância, relevância, exposição, argumentação e estilística.
E por último, um último fator, talvez o mais importante, o fator de a aceitação, e o estar no tempo certo e no lugar certo, a ponto de tal obra ser (ou não) aceita: isto é ser reconhecido com escritor, cientista, ou ter que fazer outras coisas para sobreviver.
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