De n Modos:
Como se vive um, ou outro, escritor e pesquisador (alternativos) no Brasil.
Faltando pouco mais de 144 horas para o ano de 2016, é chegada a hora de dizer algumas das últimas palavras – e isto quer dizer, aqui, também, consecutivamente, neste canal comunicativo – e postar algumas das últimas coisas que serão datadas originalmente de 2015.
Hoje, será abordado sobre o não-main-stream brasileiro, ou aquilo que não é convencionalmente aceito.
Vamos começar? Esta postagem é um texto simples, sem maiores recursos gráficos ou de HTML – exceção da arte que ilustra esta post, feito pelo autor –, é um texto que se pertencia a demonstrar alguns pontos importantes sobre a questão dos paradigmas e daquilo que foge a eles, dos dons e de como aproveitá-los. Certo? E por dizer em aproveitar, esperamos que vocês estejam aproveitando estas datas festivas da conclusão do corrente ano. Boa leitura e obrigado por visitar este blog.
“Êe, ôo, vida de gado, povo marcado, Eê e, povo feliz!” – Zé Ramalho in Admirável Gado Novo [Zé Ramalho].
“Ô patrão, ô patrão, ô patrão, prenda o seu gado / na lavra tem um ditado / quem mata gado é jurado / missa de padre é latim / rapaz solteiro é letrado” – Martinho da Vila in Patrão, Prenda seu gado [Pixinguinha e João da Bahiana].
Será que são os patrões que nos impõem os padrões? Assim, onde, se eu tenho emprego fixo, salário certo no fim do mês, se sou heterossexual, se sigo uma crença ou um dogma, se participo deste ou daquele grupo, enfim, se isto é observado eu sou normal e feliz; se isto não acontece, então serei um maldito? Mas ora, que grande tolice tudo isto. Temos que respeitar e aceitar o diverso: as pessoas com algumas necessidades especiais, os doentes e necessitados, as pessoas mais simples e ignorantes, tal como os supra gênios incompreendidos, ou as minorias e os alternativos; todas estas pessoas ou estes paradigmas de pessoas devem ser aceitos e integrar a atual sociedade – é apenas assim que deve ser e se formar o mundo contemporâneo.
Todos temos que entender que a natureza é o diverso e não apenas um dado gabarito ou modelo. Não apenas os brancos, os de cada crença tradicional, não apenas os homens ou as massas, os militares, os políticos, que nada, masque nada disto, mas, sim, todos aqueles que formam o atual instante do mundo (em um dado tempo e espaço), ou, em uma palavra, a diversidade. Tomemos como exemplo, uma pessoa qualquer, como eu, o autor.
AFINAL: O que eu sou além de mim? Eu gosto muito de uma definição de Nietzsche, dos padrões, do que deve ser o comum e o aceito (motivo subentendido do alçar – dançar – sobre as suas próprias cabeças, isto, quer dizer do quebrar de preconceitos & limitações, e, etc.):
“XIX – [do O Homem Superior, ou O Homem Superado; Quarta Parte]
Elevai, elevai cada vez mais os vossos corações, meus irmãos! E não vos esqueçais também das pernas! Alçai também as pernas, bons bailarinos, e melhor ainda se vos sustentardes sobre as vossas cabeças!
Também animais pesados conhecem a ventura; há cambaios de nascimento que forcejam singularmente à maneira de um elefante que tentasse suster-se sobre a cabeça.
Mas vale estar doido de alegria do que de tristeza; vale mais dançar pesadamente do que andar claudicando. Aprendei, pois, comigo a sabedoria: até a pior da coisas tem dois reversos, até a pior das coisas tem pernas a bailar; aprendei, pois, vós, homens superiores, a afirmar-vos sobre boas pernas.
Esquecei a melancolia e todas as tristezas da populaça. Como hoje me parecem triste os arlequins plebeus. Mas isto hoje pertence a populaça” (NIETZSCHE, Friedrich; 2010, p. 245 – 246; in Assim Falou Zaratustra, 4ª Edição, Tradução de Alex Marins; São Paulo: Ed. Martin Claret).
Assim, é necessário evoluir e buscar outras (ou rebuscar as suas) metas e desejos a alcançar [CONTA PESSOAL DA SUA VIDA: aquilo, in-táctil-mente, a que quero alcançar-me – isto, em Investimentos-Próprio ou no Capital Pessoal de cada um]; assim, onde isto se aplica perfeitamente ao que o filósofo citado afirma com suas palavras, palavras tais como ‘afirmar-vos sobre boas pernas”” e “melhor ainda se vos sustentardes sobre as vossas cabeças” (Nietzsche, 2010; Obra Citada). E entendo isto categoricamente como o superar a si mesmo, o buscar do auto melhorar-se a priori em qualquer circunstância ou situação. Notemos, ainda, que o filósofo (e filólogo) citado faz importante distinção entre as tristezas da população e os arlequins plebeus, mas que isto, é mesmo da populaça (e, consequentemente, não é da filosofia).
Creio que este deveria ser o padrão e o comum da humanidade, buscar o melhor, o mais evoluído e aquilo de que apenas se espera que traga nos benefícios, a todos – pois superar-se a si mesmo, não é justamente podar as próprias arestas a fim de melhor contribuir para o conjunto social? Estar bem e disposta-mente sadio à vida social não é só o melhor para si, como o é, inclusive, para toda a sociedade (e evolução, creio). E não apenas os padrões de trabalho ligado à sacrifícios e esforços, com choro e murmúrios; enquanto que festas e paixões humanas desmedidas, estejam ligadas à felicidade e riso solto. Repetimos, apenas para ressaltar: que o melhor deveria ser superar-se e cura-se de meras vaidades e passatempos mundanos (que entretêm, ao mesmo tempo em que desgastam os seus praticantes, isto quando não os expõem em risco direto, inclusive com risco contra a suas próprias vidas).
É assim que dentro do padrão aceito, seja de sucesso, de harmonia, ou mesmo de conceitos de festas como natal e carnaval, há um desequilíbrio (maior ou menor), justamente, que surge nesta padronização, de modo que algumas práticas são “louváveis” e aceitas, enquanto que minorias ficam à mercê de suas próprias rotinas que nem se alteram e nem são respeitadas (nisto há comportamentos e ideias que se impõem, enquanto que reprimem demais ideias – contrárias as que se impõem); pois na impossibilidade do que fazer, acabam por tendo apenas que contentar-se em observar e ouvir aquilo que os demais propagam / fazem; onde, o uso de um padrão determinado, geralmente, traz conflito a quem é adepto de outra filosofia ou política de vida (em menor ou maior grau, em uma escala de irritante a letal).
Por isto, o padrão normal aceito, para nós, letrados e estudantes, é a evolução ou “o bailar sobre as nossas próprias cabeças” (Nietzsche, 2010). E cremos que assim deveria ser propagado e ser, de fato; mas, isto, não pode (nem deve) ser imposto, mas sim conquistado: o padrão do superar a si mesmo é para aqueles que já se desprenderam de demais anseios do instinto, por fim.
E além de superar a nós mesmos, devemos, impreterivelmente respeitar o outro, principalmente àqueles que têm opções e conceitos inteiramente diferentes dos nossos, pois se não os respeitarmos, entraremos em conflitos com aqueles que pensam e são diferentes de nós [e de nossos modos, dados por “aceitos” (ou, mais apropriadamente convenientes?), mas isto sempre gera mais conflitos e certames]. Deve-se se tolerar, mutuamente.
Se foi recorrido ao famoso filósofo prússico (atual Alemanha) para se dizer do que eu creio que somos enquanto nova humanidade (pós 2010), Nietzsche; de mesmo modo, recorremos a questões de intolerância clássica, para ilustrar estas “guerras” de religiões aqui no Brasil, a princípio, e recorremos a histórias do começo do Espiritismo, no interior de SP, dizendo de quão absurdo a não aceitação do outro pode nos fornecer pensamentos de pura irracionalidade.
Os fatos narrados a seguir, dizem, mais precisamente, da cidade de Matão – a mesma em que eu resido, desde minha nascença, há 34 anos –, porém no início do século XX, e, seus ilustres fundadores e moradores (especialmente, Schutel, Cairbar).
“O primeiro texto enfrentado por Cairbar Schutel foi com o folclórico vigário Antônio Cezarino, que, quando soube que ‘seu’ fiel estava se envolvendo com o espiritismo, mandou um recado a ele através de Belarmino de Castro, proprietário da linha de ‘trolley’ que unia os dois municípios [Mattão e Araraquara, interior de SP]:
‘Diga ao Schutel que eu vou a Matão especialmente para lhe dar uma surra de relho e ensiná-lo a nunca mais se meter com esse negócio de Espiritismo. [...]
Passados uns quinze dias, o padre calabrês foi de fato a Matão. Ao estacionar o “Trolley” em frente a farmácia, Schutel grita para D. Mariquinhas [sua esposa]: ‘Mariquinhas, prepara-se que vai haver barulho. O padre Cezarino está aí!’
Ledo engano... o valente vigário, solicita e prevenida-mente gritou já da porta: ‘Schutel, eu preciso que você me faça um curativo na mão. Acidentei-me na estrada e está sangrando muito’. [...]
Ele vinha caçando pelo caminho quando o ‘Trolley’ parou num córrego para os cavalos beberem água e descansarem. Nisso, um barulho no mato assustou os animais, que deram um tranco na carruagem, e o padre, que estava com uma das mãos apoiadas no cano da espingarda e a outra com o dedo no gatilho, disparou acidentalmente e feriu a própria mão”. [...]
“Já era de se prever um confronto ríspido entre católicos e espíritas quando selecionaram o violento padre João Batista van Esse para a paróquia de Matão. [...]
A disputa entre os dois começou através das páginas de ‘O Mattão’, jornal leigo da cidade, que publicou a polêmica religiosa, eivada de ofensas pessoais e tom agressivo da parte de padre Van Esse. [...]
O subserviente subdelegado Otávio Mendes, temeroso das consequências trágicas que tal confrontação poderia ter, dirigiu-se a Schutel e contou que o padre havia combinado com seus fiéis conduzir a procissão de sexta-feira santa até à frente do Centro Espírita e de lá atentar contra a Casa, incendiando-a.[...]
Muito bem. Então agora eu vou dar um conselho ao senhor [disse Schutel]. Como autoridade policial desta cidade, o senhor tome todas as providências cabíveis, porque eu vou abrir o Centro à hora de costume e vou pronunciar a palestra que já havia sido marcada ad-rede-mente. Caso aconteça alguma tragédia eu responsabilizarei o senhor. Meu centro não é clandestino, tem alvará, e vai continuar funcionando normalmente. [...]
Chegando o dia, ele abriu o Centro às dezenove horas e dispensou mulheres e crianças. Ficaram só os homens, já prevenidos do risco a que se exporiam, e receberam uma ordem: quando Cairbar desse um alerta, todos deveriam se jogar ao chão incontinenti.
[...] Cairbar, falava a todos os pulmões, num entusiasmo como poucas vezes se viu. [...]
A procissão começa a se aproximar do [Centro Espírita] ‘Amantes da Pobreza’ [...]. Entoavam suas cantigas e ladainhas, como de costume, com toda a certeza esquecidos de que iriam cometer um ato indigno, em nome Daquele que nos houvera dito que somos todos irmãos [...]. As vestes ‘sagradas’ serviam para ocultar punhais, porretes, pedras e revólveres. [...]
Quase em frente ao Centro, a procissão, entre excitada e agitada, aumenta o vozerio sob a batuta do vigário e desperta a ira do advogado Abel Fortes, chefe político temido, que morava nos arredores, e cuja esposa convalescia de difícil parto acometido naquele dia.
Apreensivo e indignado, o advogado, sobe num muro, [...] e fala, [...] ameaçando a responsabilizar o padre e seus acompanhantes se algo acontecesse à sua esposa e filho, além de lembrar contundentemente o desrespeito que estava se perpetrando contra a Constituição de 24 de fevereiro de 1891. E reiterou, que embora não fosse espírita e não tivesse procuração de Schutel para defendê-lo, que ele estava com a razão, pois agia dentro de seu direito de liberdade de expressão e religião.
E sua alocução foi tão violenta e exaltada e cheia de ameaças, que o povo, temeroso, começou a evacuar o local [...].
[...] Quase que indiferentes à algaravia que se processava lá fora, prosseguia a bela preleção de Cairbar Schutel.
[...] No dia seguinte, durante a sessão ele iria sofrer sérias admoestações dos Espíritos: ‘Schutel, então que belo cristão você está pretendendo ser? Você confiou em uma carabina e dois revólveres e se esqueceu de confiar em nós, aqui do outro lado [...]!
[...] A ordem que ele houvera dado para que todos se deitassem ao seu aviso, era devido a que, nas gavetas da mesa, ele trazia escondidos armas para proteger o centro na eventualidade de uma invasão. Caso acontecesse, ele pretendia defendê-lo até as últimas consequências.
[...] O padre Van Esse, depois do fiasco a que se expôs, foi transferido para Araraquara.”
(MONTEIRO, Eduardo Carvalho; GARCIA, Wilson; 2009, p. 53 – 54, e as páginas 59 – 62; in Cairbar Schutel, o Bandeirante do Espiritismo, 2ª Edição; Matão: Casa Ed. ‘O Clarim’).
Monteiro e Garcia (2009) demonstram que tragédias maiores poderiam acontecer se tais indisposições ou divergências de interesses e filosofias e dogmas (e comportamentos) tivessem sido legadas até as últimas consequências; apesar de tais rixas serem assuntos comuns no início do século XX – e final do século XIX, também – e o serem muito comum ainda hoje, infelizmente; mas repete-se, tais posturas são muito perigosas. Ter racismo, preconceito, ódio, não-aceitação, praticar bullying e demais práticas segregatícias só trazem mais divisões e incompreensões. Notaram a carga dramática que há nestes episódios citados?
E ainda, como é notável, recortei alguns trechos que considero de maior doutrinação, para evitar “usar” um texto de fim de ano, para tentar converter pessoas a fé espírita, não haveria problema nenhum nisto, mas o motivo deste texto /post não é este e por isto, abstive algumas partes de maior relevância espiritual, em respeito aos meus leitores de outras crenças diametralmente opostas ao espiritismo, mas é recomendado ao leitor do blog, que se interessou, conhecer este livro e demais obras espíritas (como os livro de Chico Xavier e a codificação clássica de Allan Kardec, Livros dos Espíritos, o Evangelho Segundo o Espiritismo, o Livro dos Médiuns, etc.); tal drama há ainda hoje em Matão, talvez não deste modo, como antes, como descrito mas há; tal “guerra” ainda existe quando um gay tem que esconder quem é verdadeiramente porque o pastor da igreja não vai aceitar, ou quando uma mulher divorciada é desprezada pela vizinhança e bairro; isto ainda existe na indiferença que temos pelos drogados, pelos mendigos e vagabundos (mas que fique claro: que estas três últimas categorias e classes de pessoas, podem ser concomitantes entre si, mas que a princípio, são igualmente distintas e isoladas entre si), onde são todas pessoas como nós, mas por algum motivo acreditam (os outros, os que formam os padrões que “devem” ser aceitos nos moldes deles) que eles – as minorias, os fora de padrões – são alienígenas ou malditos, apenas porque conservam suas “diferenças”; igualmente, ser escritor, ser artista, viver de arte e música no Brasil, tal como ser um pesquisador alternativo, um livre pensador (mas não iniciado cientificamente), é de certo modo um grande teste e um martírio sem paredes, pois, ora, quantos problemas, tristezas e sofrimentos, há guardados para quem segue estes caminhos “alternativos”, neste país? Muitos, problemas e dificuldades, sem dúvida, mas é como dizem: quanto maior o sofrimento (ou aquilo que se deve superar), mais se depura o ser e sua consciência; bem, assim esperamos. E sim, você que é comum e padronizado, pense um pouco em quanto sofrimento seus conceitos podem trazer aos diversos e diferentes. Por favor, pondere-se e tolere.
Percebe-se que há uma ligação entre a não aceitação das religiões e a intolerância (óbvio, desde a muito tempo) e o terrorismo, mais recentemente; o que isto causa, em si, é apenas uma humanidade cada vez fragmentada e não em uníssono aos anseios e necessidades que o PLANETA têm; se todos entendemos e amamos ao meus Deus – que como Jesus mesmo disse, é um só – porque estas guerras de argumentação de crença e lógica que existe entre os evangélicos VS os espíritas, ou ainda que existe entre os espíritas VS os católicos, os as intrigas entre o pessoal de um conga (Centro) de umbanda e outros, de quimbanda e etc.; o estado islâmico usa isto para manter os seus argumentos insanos a dizer que ocidente não aceita a religião Islã, e que os valores ocidentais são inteiramente distintos dos valores do oriente médio ou da lei do(s) Profeta(s), e etc. Jesus também já disse que amar a Deus sobre todas as coisas e amar o outro como a ti mesmo contém todas as leis e tudo sobre os profetas – e com certeza, o caminho deve ser por este sentido, mesmo.
Pois que o ódio não é vencido com mais ódio, mas todos sabem que o antônimo de ódio é o amor, é assim que se vence e não odiando mais do que eles nos odeiam; uma vez que isto, mais ódio, não ajuda em nada; em suma, deve-se ir ao foco do problema (as pobrezas, o mundo desigual e gritantemente contrataste, o não respeito a natureza, e etc.), e o foco tem ligação direta com todos os de fato, que de fato, alimentam este abismo ininteligível e preconceituoso de ódio e de raiva (e loucura!) entre as diferenças das concepções e das percepções de mundo (entre suas repulsas, repelências e uniões, entre as regiões) Oriental / Oriente Médio / Leste Europeu / Ocidental / América / África – entendo que para diminuir e acabar com tal abismo, deve-se tornar o mundo mais igual e mais tolerante; neste sentido, vejamos Voltaire (2015) em seu Tratado sobre a Tolerância.
“A Fé não se incute a golpes de espadas. (Cerisiers, Sobre os reinados de Henrique VI e Luís XIII) [...]
Com a religião ocorre o mesmo que com o amor: a imposição nada consegue, a coerção muito menos; não há nada mais independente do que amar e crer. (Amelot de laHoussaie, a propósito das Cartas do Cardeal d’Ossat)
Se o céu vos amou o bastante para vos fazer ver a verdade, ele vos proporcionou uma grande graça; mas cabe aos filhos que têm herança do pai odiar os que não a tiveram? (Montesquieu, Espírito das Leis, liv. XXV)
Poderíamos fazer um livro enorme, composto apenas de semelhantes passagens. Nossas histórias, nossos discursos, nossos sermões, nossas publicações de moral, nossos catecismos, respiram todos, ensinam todos atualmente esse dever sagrado da indulgência. Por qual fatalidade, por qual inconsequência desmentiríamos na prática uma teoria que anunciamos todos os dias? [...] Há, portanto, mais uma vez, um absurdo na intolerância. Mas, dirão, os que têm interesse em atormentar as consciências não são absurdos” (VOLTAIRE; 2015, p. 86; in Tratado sobre a Tolerância; Tradução de Paulo Neves; São Paulo: Folha de S. Paulo).
O Tratado original é de 1763, e foi escrito em virtude de morte de Jean Calas e de todos os outros pormenores envolvidos nesta questão (o livro é uma experiência por si só única, unido, então, ao caso real e chocante narrado em suas páginas, torna-se assim, um livro imortal). Mas Voltaire não era apenas um filósofo renomado e grande escritor; uma vez que em 1762 ele publica o livro Monseigneur le chancelier, que foi redigido por Voltaire, mas que é assinado por Donat Calas. O Traité sur la tolérance – Tratado sobre a Tolerância – é concluído em 1763, em abril, mas a sua difusão na França é complicada, devida a proibição do livro – que com este mesmo livro, Voltaire conseguiu alterar toda a opinião pública e jurídica, sobre esta questão, inclusive, dentro de sua própria época. Mais um livro que recomendamos ao leitor conhecer ou reler.
Enfim, é recomendado que se tolere, para que melhor se possa entender. Afinal, como podemos entender um poeta marginal, um trovador das filosofias niilistas ou um filósofo natural se não queremos nem ouvi-lo?
Para que finalmente possamos entender e apreciar profissões mais abstratas (e ou dogmas ou conceitos com os quais menos nos afeiçoamos), devemos, primeiramente, aceitar a condição e a posição do outro; e também, considerar que cada pessoa tem suas habilidades e aptidões específicas, e que para cada talento, há que haver suas respectivas ações ou valorizações de aproveitamento; e tudo isto em exercícios diários de aceitação e tolerância, de superação e indulgência, a fim e buscarmos a real irmandade e a pacificação global.
Depois, deve-se dizer, ainda, que sobre a não aceitação de profissões como escritores ou mesmos as profissões mais tecnológicas e avançadas, isto pode ocorrer em virtude do medo do novo, de velhos conceitos equivocados, enfim, por motivos de desconfiança e receio. Mas, afirma-se que sim, há que haver um lugar para cada talento, ou então, o sujeito poderá estar com dificuldades de aproveitar as suas totais aptidões (ao menos, as aptidões mais latentes ou visíveis), onde então ele deve, imediatamente, se esforçar para achar outras atividades a fim de que possa ir se desenvolvendo (ou mesmo vivendo; ou sobreviver) enquanto que suas capacidades máximas não sejam inteiramente exploradas ou utilizadas.
E fatalmente, aquilo que você considera ser, é sim, muito importante. Porém, como diz, o Wagner de um texto de teatro meu (que está sendo transcrito a este blog na parte de teatro – Quem vai morar com o tio Carlos?) “Minha vontade nunca se realiza se a vontade dos outros assim não quiser”. Isto é um tanto niilista e fatalista, mas contém muito dos tempos individualistas e um tanto quanto frívolos em que vivemos; e para terminar, mais uma citação, agora do lendário álbum Clube da Esquina (1972), de Lô Borges e Milton Nascimento:
“Você queria ser o grande herói das estradas / tudo que você queria ser / sei de um segredo / você tem medo, só pensa agora em voltar / não fala mais da bota e no anel de Zapata / tudo o que você podia ser, sem medo” – Milton Nascimento in Tudo o que Você Podia Ser [Lô Borges e Márcio Borges].
Muito obrigado por acessar este blog; e que vocês tenham um 2016 exatamente como desejarem e fizeram por merecer; e sim, obrigado por manterem conexão comigo, em 2015, e que continuemos conectado, daqui pra frente. Sinto-me muito honrado sendo lido, ouvido e visto por vocês. Obrigado também por vocês que me acompanham desde há mais tempo... cheers long time!!!
Até mais. Muitíssimo Obrigado.
E pra acabar, uma frase célere (risos), feitas em uma experiência de trabalho minha:
_ E então? Vamos preencher com etanol?
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