Zero.Um : Prefácio →
Tudo é ambientado numa cidade pequena, o conto do Noctâmbulo fala da vida de alguns jovens que vivem em cidades pequenas. Tudo é muito simples:um narrador conta o que um jovem que vive em uma cidade pequena faz quando quer se divertir. Ocorre que Luis(um dos personagens do Conto do Noctâmbulo)tem alguns hábitos um pouco marginal; Luis tem poucas condições na vida e a única porta que lhe era acessível era a porta da marginalidade. Nos contos que se referem a Luis,percebemos um clima de sujeira, degradação e atos criminosos e isso se contrapõe com a imagem que se tem de cidades pequenas - com pessoas sentadas nas calçadas e a calmaria como atrativos desta "vida tranquila" que se tem em cidades pequenas - ; Luis é o símbolo do poder influenciador do crime, pois ele mora em uma cidade com menos de cem mil habitantes, onde poderia desfrutar de uma vida de paz(como é rotineiro em cidades pequenas), porem, ele acabou caindo em um caminho perigoso e progressivamente decadente.
Luis é uma crítica à carência de diversões que sofrem as cidades pequenas, é uma denuncia às pregações sanguinárias e insanas do crime, da maldade; é o choque de realidades (pois, de repente, em uma cidade pequena existe sem dúvida alguém como Luis, alguém que vive da mesma forma e do mesmo jeito com que ele "vive") e é também totalmente verossímil. Luis poderia perfeitamente viver e essa generalização de todos os garotos marginais é a síntese perfeita dele.
O interessante aqui é o aviso. Pois, ao lerem os Contos, vocês perceberam que Luis é muito "bandido", muito mal gente,um típico garoto sentenciado à prisão.
Mas nem só de Luis consiste O Conto do Noctâmbulo. Outro personagem( que vive na mesma cidade - que chama-se Matão) é O introspectivo, um personagem um pouco experimental, se me permitem tal ousadia, pois ele também utiliza drogas mas as usa de uma maneira um pouco diferente das de Luis. O introspectivo é um cara cheio de citações e contextos,um observador dos fatos, porem ele tem todo um mundo particular dentro de si e isto o torna experimental. Ele é um personagem que pouco se relaciona. Ele gosta de observar bastante para tirar suas próprias conclusões e as obtém por um método de introspecção, ele reflete sozinho, a maior parte do tempo, e quando diz fala "se é bom ou mau, deixa que eu descubro".
E se eu disser mais tudo ficará muito sem graça,prefiro leitores livres, que leiam e entendam à suas maneiras próprias. Gostaria muito de ouvir, ler ou observar críticas sobre o livro.
No mais é isso. Também gostaria de ressaltar que a Matão do Conto não é essa Matão verdadeira, a semelhança se deve, unicamente, a quantidade de habitantes, escassez de lugares para público jovem e demais problemas que cidades pequenas enfrentam hoje. Os personagens do Conto poderiam, se fossem reais, perfeitamente vagar pela Terra da Saudades e é só isso.
Pois
"Ele queria entrar em uma porta, queria ver outros lugares. Não sabia, de fato, o que queria ver, e isto é lógico; pois se ele tinha um forte anelo pelo conhecer, como poderia ele conhecer? Se ele estava buscando um novo, como poderia saber o que era esse novo? Até que uma novidade vem: alteradores de estado. Eis que, finalmente,surge o novo, era tudo o que ele queria, era o novo e eis que ele entrava por uma porta: a passagem para as drogas."
(Como Luis Começou)
E lhes desejo uma boa leitura!
Zero.Dois : Em Defesa de Luis →
Creio que muitas pessoas podem confundir Luis com apologia ao crime. Mas antecipadamente, em função de ser o autor, já lhes digo: Luis não é um incentivo ao uso de drogas, é apenas um reflexo artístico da realidade das ruas; quis transformar as situações degradantes e delinquente que via nas ruas e disto fê-se essa obra. Luis é minha interpretação desta juventude decadente que vemos nas ruas. Ele poderia existir, é contemporâneo e verossímil. E, caso venha a mim alguma crítica, já dou como resposta a seguinte afirmação: ele é apenas fruto das minha visões sobre as ruas, um reflexão do caminho criminal, uma crítica a arquitetação da sociedade;pois mesmo que alguns odeiem Luis, não importa, porque, então, está, em tese, se odiando milhões de jovens como ele, ou parecido com ele.
Sei que ele é um puro bandido...Deveria estar preso. Deveria ser escondido porem quis torná-lo público...Só o fato dele pensar neste personagem, diriam alguns, torna-me espantado: que tal mente doentia e perversa poderia idealizar tal obra, esse autor é herege. Sim, sei que muitos podem pensar assim de meu tão adorado Luis; sei que estou sujeito a uma camisa de força,mas eu continuo provocando, pois se abominam tal ficção o que dirão da realidade que serviu para a base de tal obra?
Luis existe dentro do universo de definições: ele é uma análise absolutamente possível da sociedade atual( pois a história dele poderia ser perfeitamente a história de um garoto marginal), é um aviso dos perigos do crime ( com toda a abordagem crua e decaída fica fácil perceber como é tormentoso, até mesmo para quem vive dentro, esse caminho da marginalidade) e é também o cúmulo da ratoeira( quem arma a armadilha cai nela própria - pois mesmo sendo um péssimo caminho para se seguir, dia após dia mais jovens estão indo por esse caminho, pois muitas vezes não existe outro caminho para se ir ou até mesmo se é impossível pensar em outro que não fosse este).
Dorian Gray me decepcionou em um ponto em especial, quando mal entendeu Sibyl Vane: no capítulo VII do livro do Oscar Wilde, Dorian, termina o receito noivado com Sibyl somente porque ela, uma atriz, representara mal Julieta; isso causou ao jovem Dorian, profundo nojo de sua jovem noiva, pois ele havia levado ao teatro em que ela se apresentava dois outros amigos (um lorde e o outro um pintor) e nenhum dos dois assistiu ao "espetáculo"mais do que um ato; acabando o fiasco, Dorian vai até o camarim da jovem, que está muito feliz, e a ofende. Nessas ofensas, ele diz que ela esteve péssima e seria melhor até que nem tivesse se apresentado. A garota dizia que essa era a intenção, pois agora que ela tinha um verdadeiro amor (Dorian Gray), ela não mais precisava apenas amar e viver integralmente no palco; agora a jovem não poderia representar melhor pois o amor dela não era mais o palco, mas sim Dorian Gray. O moço não gostou nada da ideia e acabou brigando com ela e terminando o noivado dizendo "Sim mataste o meu amor. Costumavas excitar a minha imaginação. Agora não pode sequer excitar a minha curiosidade. Já não me causa nenhuma emoção. Amava-a porque era maravilhosa; porque tinha talento e inteligência; porque realizava os sonhos dos grandes poetas e davas forma e substância às sombras da arte. E destruíste tudo. És inepta e estúpida. Meu Deus! Que louco fui em amar-te. como fui tolo! Agora já nada mais és para mim; Não quero ver-te nunca mais. Não quero mais pensar em ti. Não quero jamais pronunciar o seu nome. Não sabes o que eras antes para mim. Antes... Oh, não quero pensar mais nisto! Quisera nunca ter te visto! Puseste a perder a paixão romântica da minha vida. Como conhece pouco o amor para dizeres que ele corrompe tua arte! Tu, sem a tua arte, nada és. Eu queria torna-te famosa, esplêndida, magnífica. O mundo inteiro te teria reverenciado e terias usado o meu nome. O que és agora? Uma atriz de terceira classe com um rosto bonito?
Pois bem, essa passagem do livro, que aliás é maravilhosa, fez eu perceber o quanto Dorian ainda não compreendia o esforço alheio. Pois Sibyl abriu mão do que ela mais gostava por um gosto maior: ela amava muito mais Dorian do que pode amar em toda a vida o Teatro. Ela foi mal compreendida. Mas se quiserem saber o resto leiam o livro. O Retrato de Dorian Gray de Oscar Wilde.
Bem, eu dizia que assim como eu me decepcionei com Dorian Gray em relação a sua falta de compreensão, pode ser que muitos mal compreendam Luis e por isso,estive aqui para defende-lo.
Luis não é uma obra espoliada do crime, pois o crime não é dever de tal obra,tal obra se preocupa com as pessoas, se preocupa com a influência negativa do crime na vida das pessoas. Peço com austeridade: Olhem com cautela para Luis. Tente entender que exponho a realidade desse modo, pois ela sendo assim exposta (em sua fase original - como o é no dia a dia) o efeito da crítica é mais puro. Qualquer um pode ler Luis e já dar uma opinião bem condizente com a atual situação da criminalidade,pois é para isso que tal obra serve. Tal obra demonstra o ser integrado na marginalidade e na medida exata da semelhança com a realidade. Só não pode ser de todo real(documentário) por se tratar do fruto de uma produção literário, id est, não aconteceu de verdade mas poderia perfeitamente ter ou estar acontecendo.
Se alguém se impressiona com isto, deixo apenas mais um refletir, para se impressionar mais ainda...
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as ruas
Um.Um : → Luis Está Aprontando
Carcaste, tu trembles?
Tu tremblerais bien devantage,
si tu savais, où je te mène.
(carcaça,tu tremes?
Tremerias muito mais
se soubesse aonde te levo) - Turenne
Luis estava todo eufórico e andava por uma marginal. Não era um lugar de uso estrito de veículos - como pode se supor de uma marginal - ; de fato, a marginal era mesmo movimentada, mas esse movimento ocorria tanto para os automóveis como para as pessoas. A marginal é um aglomerado: onde Luis está tem muitos carros subindo e descendo pela rua; muitas pessoas estão olhando os carros passar, conversando, procurando e fazendo outras coisas que as pessoas fazem; e, e isso é muito importante, a marginal também tem uma proposta, uma finalidade de diversão.
Ocorre que Luis vive em uma cidade pequena e como não se tem muito o que fazer(em cidades pequenas), as pessoas que querem ver outras pessoas e carros, acabam, todas (essas pessoas que gostam de pessoas e carros) indo para um mesmo lugar, e esse lugar é uma marginal. Então, esse lugar onde Luis está, é uma marginal onde as pessoas vão, quando chega sábado à noite. Para se divertir, muitos saem de suas respectivas casas e vão rumo a um só lugar: essa marginal. Para eles a marginal é sinônimo de diversão, além de não custar nada, ter amigos por perto, carros passando e fácil acesso a bebidas - dizem que a tendência do momento é pinga com groselha, um copo inteiro de trezentos ml, por apenas Um Conto).
Por exemplo, agora, Luis está perto de um automóvel, com mais um amigo, bebendo Um Conto de Vodka e ouvindo um Rap. Luis não curtia muito rap, mas o dono do carro (um amigo do amigo do Luis) curtia, e é melhor não contraria-lo: afinal é sempre bom ter um carro à mão - assim pensava Luis.
Luis olhava para o outro lado da rua e via um grupinho fumando uma substância risonha. Por um instante pensou em ir até lá e pedir alguns tragos, mas, interrompendo esse pensamento de Luis, o dono do carro batia com tudo a porta do voyage velho e dava ignição no veículo.
_ Ei, o que que tá acontecendo? - disse Luis alterado de vodka.
_ Sinto Muito Luis - começou dizendo o passageiro - , mas ele e eu estamos saindo. Falô.
_ Não. Espera. E eu? Eu estava com vocês.
_ Estava. Já era.
Luis apenas ficou olhando o carro descer a movimentada marginal. Ele olha para o seu copo e vê que já não é à toa que sua visão está esfumaçada, faltava muito pouco para o corpo ficar vazio. Ele acaba com o resto da vodka pura, olha na direção do grupinho maconheiro e vê que não havia mais ninguém daqueles que interessavam Luis. Pensou em como estava sem sorte e sem dinheiro.
_ Aqui!
Uma garota acabava de gritar. Era uma menina solitária, que gritava e acenava com a mão para um ford fiesta. Logo Luis pensou: a garota está a minha direita, bem afastada do grande povo, um pouco pra baixo da esquina escura, e ela está esperando o carro; porém o carro terá de descer e subir para para chegar onde a garota está, pois essa é uma marginal de pista dupla e ele só passou essa primeira vez para localiza-la, tenho dois ou três minutos antes dele vir.
Luis disparou em direção a garota,mirando a bolsa preta dela e se preocupando em fazer tudo certo. Luis dava grandes passadas com as pernas direita e esquerda, os olhos estavam fixos na bolsa, enquanto a garota mexia no cabelo. Por um instante Luis pensou em não roubar, mas a facilidade era tamanha...A garota para de alisar o cabelo e Luis se aproxima. A garota abre a boca e antes que o grito saísse, Luis empurra ela no chão com a mão direita e com a mão esquerda segura a bolsa, enquanto as pernas corriam e corriam. Pronto, a garota estava ao chão, gritando, Luis corria com a bolsa na mão esquerda e a distância entre os dois ia aumentando.
Bem a frente de Luis, a cerca de uns oitenta metros, existia um parque municipal, um ginásio de esportes, pista de skate, lago e vários lugares escuros com poucos guardas para fazerem ronda. Luis continuava correndo e sempre olhava para trás,para ver se o carro já havia chegado. Perto da escada que dá acesso ao parque, Luis vê o tal carro. Tão logo, corre mais ainda, chega num lugar escuro, vasculha a bolsa. Conseguiu Cinco Contos e umas moedinhas, com sorte, tinha mais quase outros cinco contos em moedinhas. Luis achou que já dava.
Um forte medo veio à cabeça de Luis, ele já havia roubado posto de gasolina, banca de revistas, lojas de cds e barraquinhas, mas nunca tinha roubado a bolsa de uma garota que estava esperando um carro. Por mais de dez minutos ficou indo e vindo nos lugares escuros desse parque, quando percebeu que deveria seguir, tomou folego e foi.
Foi até a pista de skate e viu a garota perto da pista, preferiu dar meia volta e sair pelo outro lado do parque. Afinal, ele só foi até lá porque, naquele lugar de esqueitista também tinham caras que vendiam drogas. Luis queria cinco conto de pedra.
Conseguiu sair daquelas redondezas com facilidade, mas a insegurança habitava cada passo de Luis. se questionou sim, no parque, sobre tudo isso e a única coisa que lhe vinha à mente era a lata furada, as cinzas e a pedra.
Nós sabemos que Luis está aprontando e sabemos que ele vai conseguir o que quer, afinal com o dinheiro tudo fica mais fácil, difícil vai ser ele se contentar...mas calma, nós vamos saber tudo que ele faz, porque quem conta esse conto também caminha pela noite. Vá Luis, estamos bem atrás de você.
Um.Dois : > A MAIOR OFENSA A SOCIEDADE →
Era noite, é claro que era noite. Os noctâmbulos tem como principal função vagar pela noite, e fica muito mais interessante andar só. As pessoas da noite, não podem ser estereotipadas como um só grupo sem diferenças. Se esquecêssemos, o passado e Spinosa estiver certo, talvez ainda hajam boêmios;mas fora eles, ainda temos marginais, delinquentes, prostitutas e prostitutos, sem caráteres e todo o tipo de gente, em suma, do fuleiro ao poeta que vagam só,esperançosos de conseguir traçar o mais belo poema, a própria vida.
Ele falou "até mais" para os amigos do bar e foi dar uma volta de rotina. Luis sempre gostou de beber com os amigos(ainda mais quando os amigos pagam) e depois andar sozinho por ruas escuras que Luis fazia de esconderijo. Luis, enquanto saia do bar, cantava em bom tom uma música que falava de gostar de garotos ou garotas, algo como Do you Like girl or boys?
A rua, escura e oculta, cantava junto, algo como se perder sem lembrar o porque da procura.
E Luis se consumia como que ansiando por mais de si mesmo.
Passava por murros e carros, via o sorriso de dezesseis anos e a angústia de dezoito anos. Conseguia até saber o que fazia, porém conseguia dizer porque fazia. Após ter bebido vinho tinto e branco, cerveja e fumado cigarro achou melhor conseguir uma dose de vodka, foi até um bar zona que era próximo.
Entrando no bar viu uma puta investigando a carteira de um cara casado e com três filhos, achou melhor ser cúmplice. Viu de relance alguns socos que eram disparados a um gay que estava no bar, viu sangue e terra. Foi até o balcão, esperou o dono acertar o cachê de uma puta e pediu:
_ Pega um Conto de Vodka.
Enquanto o dono do bar providenciava a mais nova encomenda, Luis começou a cantar a música que tocava no rádio e por consequência tornou-se oco:
_ Essa noite eu sou o homem mais feliz que o amor já fez...
_ Aqui, garoto, obrigado.
Luis pegou o copo descartável e novamente aventurou-se pelas ruas da constância. Seguiu para o norte e junto veio a desgraça.
O que poderia acontecer agora com Luis? Se fosse mais esperto, voltaria para a casa e viveria feliz por um dia com sua delicada mãe,como é errado, preferiu seguir seu norte, que aqui, logicamente, vemos como morte (esses trocadinhos infames!).Após alguns míseros seiscentos metros, encontra um velho conhecido. o jovem Lau que diz:
_ Ou dá um gole aí!
_ Bebe,é vodka.
_ Ou cê tá lembrado de mim?
_ Tô - diz Luis com um tom no mínimo duvidoso e sarcástico, olhando fortemente para o amigo antissocial e desinteressante do Lau. E O Lau prossegue, com sua proposta criminosa:
_ Tá afim de queimar alguma coisa hoje?
_ Ah Lau, eu tô é sem grana, só tinha o dinheiro da vodka.
_Mas você está afim de usar alguma coisa.
_ Eu tô, né? Mas acontece que eu não tenho mais dinheiro hoje.
_ Vamô então na casa dele aqui, é meu camarada. Lá é sossegado, ele mora sozinho e a gente vai fumar uma pedra junto...
_Vamos. - O Brilho nos olhos de Luis ofuscava até mesmo a escuridão opressiva da conversa que havia a noite num poço de perigos vaidosos e mundanos...Prometa-me,bela noite, que não receberá com cordialismo e afeição todo aquele que pretende te usar como caminho tortuoso e decadente . Prometa, que deixe a morte possuir de ti todos aqueles que mais colhem desgraças do que plantam produtividade. Prometa e olhe para o outro lado.
A casa é próxima do local onde eles conversavam. Era, na verdade, um quarto no fundo de quintal, com uma entrada independente,um portãozinho de madeira, pintado de preto.
_ Pode entrar.
Dizia com uma voz tímida e vergonhosa o menino misterioso, que não nos informou seu nome. Tinha uma certa dignidade a casa,em comparação a lugares mais bizarros e mucofentos que Luis já entrou. Dentro do quarto havia um velho, que trabalhava de pedreiro e agora gozava de seu nobre descanso. Não temos informações sobre o velho, o menino e o Lau. Nada importava para Luis senão seus próprios interesses.
Sentaram no colchão que havia perto do outro colchão onde o velho dormia e começaram a fumar cigarro para guardar cinzas. Foi tempo de cada um acender um cigarro e alguém bate na porta que estava devidamente trancada.
_ Fala que não tem ninguém aqui - falou Lau para o seu amigo.
O amigo do Lau foi abrir a porta: era um menino bem aparentado, alto,magro,olhos claros e cheiro agradável. E ele disse:
_ Posso fumar aqui?
Era um pouco de maconha. Isso, sim, era a salvação. Olhe, veja Luis, a sorte te dá outra chance: fumar maconha. Entre maconha e crack é evidente que deve-se ficar com a maconha...a sorte lhe dá outra chance e Luis questiona: por que a sorte não me dá mais cinco contos em pedras?
_ Fica à vontade, a casa é pobre mas é sossegada.
Esse anfitrião está me cheirando a político de situação, mas Luis se identificou com ele e com o seu quarto. O garoto liga o rádio a pilha que estava em cima da geladeira e deixa numa rádia sertaneja.
É Luis, você quem escreve textos, que sabe sobre músicas undergrounds e conceituais, agora, vê-se obrigado a ouvir o que você considera "O Lixo".
Qual música? Estou ouvindo mesmo o som das pedras. Por isso estou e sou. Assim pensava Luis.
E a noite segue descompassada...
Um.Três : -> AVULSOS →
A cidade está calma e vazia como uma madrugada de uma quarta feira, é uma quarta feira. A maioria da nata tradicionalista da cidade está dormindo. Uma ou outra choperia da cidade está aberta,mas prevalece o silêncio,pois os tradicionalistas necessitam de paz para arquitetarem seus fadários...mas, infelizmente, a arquitetação de como criar destinos, dos conservadores, não será abordada; pois o conto não fala de quem está dormindo,mas sim de quem está acordado. Pois, se é uma cidade pequena, numa quarta feira, depois de badaladas e badaladas de relógios tormentosos: em maioria, boas coisas não estão produzindo. O que poderia alguém estar fazendo em tais condições?
É uma cidade pequena, com poucas possibilidades de diversão intelectualizadas, são duas e meia da madruga e quem dorme nem imagina o que Luis está fazendo. Luis é um garoto da cidade que chama-se Matão. É um tormento andar pelas ruas, Luis está sem grana e ele gosta de fazer, digamos, "coisas-bem-ilegais". É uma quarta feira, são 2:33 e Luis está bem longe da sonolência(o oposto do noctâmbulo).
Luis até que tem momentos de contemplação, às vezes, ele ouve músicas que falam de "Raposas na Neve" , com o tempo entrando em feriado e pernas pretas e azuis. Luiz tem seus momentos de luz, pena serem raros e poucos. Mas agora, está andando com os olhos bem arregalados, por ruas escuras e sujas. Há pouco, passou em um posto de combustível 24 horas e pegou cervejas e cigarro,e agora, anda, bebe e fuma, tudo muito acerelado,pois ele jamais se cansa. Essa rua, que Luis está andando é de muita má fama, além de ser bem afastada, ele está bebendo,fumando e esperando conseguir mais grana. Luis está arriscando a sorte e dando pinta.
Luis estava andando, com suas multi-funções(beber,fumar,olhar) por uma marginal de má fama, ele olha para a rua a sua esquerda e vê, nitidamente, um amigo: O introspectivo. E nisso, O introspectivo, acaba também vendo Luis. "Como Luis está bizarro e pleno em ansiedade!", foi esse o primeiro pensamento dO introspectivo sobre esse inusitado encontro.
Luis esperou O introspectivo e ambos seguiram juntos por essa estrada de má fama. Depois da Saudação pitoresca, eles começam a dialogar um pouco. Luis sabe bem que "fazer um tipo", agora, nessa altura da loucura, seria uma atitude que, certamente, iria piorar mais ainda o que já estava piorado.
_ Ás vezes, você é tão pessimista, Luis! - Disse O introspectivo após ter dado um trago em um cigarro (O introspectivo sempre faz isso: põe o dedo indicador direito no queixo, faz um pequeno olhar, degusta de um pequeno trago e fala uma fala representativa).
_ Por quê? Por quê?
_ Não se preocupe. Eu não pretendo "caminhar" com você, acho que ainda quero cantar algumas canções.
_ Tudo...bem, então... nós... andaremos, só um tempo, juntos. E me fale, O introspectivo,onde você estava? ...Será que já se esqueceu que dia é hoje?
_ Não, Luis. Não me esqueci em que dia estoy. Eu estava num lugar bebendo. Eu estava sozinho. Eu apenas não estava com vontade de ficar em casa e resolvi dar uma volta rapidinho. Agora volto e ouço música em casa.
_ Eu estava por aí! Fazendo uma coisa ou outra,esperando o conforto e companhia nos encantos da noite. Nós, quando estamos sozinhos, fazemos cada coisa... tenho muito mais a procurar, não sei se me convidou para contigo seguir,mas sei que sozinho prefiro andar e tentar encontrar...
_ Eu já vou subir a próxima rua Luis. Só quis ver como estava. Mas antes, me diga: o que você tanto procura ou espera encontrar nessas ruas escuras e sujas?
_ Na esperança de ter novas visões me perdi. Procurava olhar a vida com outros olhos, e hoje, que me perdi, procuro encontrar, tudo aquilo que perdi enquanto eu procurava algo que me fizesse olhar o mundo com outros olhos.
_ Boa sorte, Luis. Luis, só,limpa... aqui... o nariz, tá... sujo. Eu me encontrei, tenho certeza que irá você se encontrar, e sei que da solidão utilizei para me achar.
_ Segue. Que eu ainda vou saber para onde seguir.
Enquanto O introspectivo subia uma rua, Luis continuava seguindo seu caminho em frente. O introspectivo foi para o conforto de seus prazeres artísticos, provavelmente foi ouvir umas houses finas num headset; Luis foi atrás de onde deveria seguir...tentando descobrir para onde deveria ir.
E é uma quarta feira, enquanto tradicionalistas dormem. E assim vemos Luis e O introspectivo seguindo por um caminho que fará um L, enquanto cada um segue as pessoas continuam por todas as partes, acordadas ou não. Continuam nas casas, nas ruas, nos bares,nas bocas e no ar. Enquanto as pessoas estão ao nosso redor...
Um.Quatro : O Conto De Luis:
Eu Vou Rir Ainda de Vocês
Eu sou um pobre garoto obrigado a viver em uma cidade pequena sem muito o que se fazer. Eu poderia ter encontrado um belo livro filosófico, ouvindo algum álbum conceitual ou ter descoberto a imensa que há inocula na poesia,mas acabei descobrindo o crack! E chamo-me Luis.
É incrível como em cidades pequenas tem-se mais acesso às drogas do que a diversão bem orientada ( intelectualizada, como diria um certo Narrador que andou escrevendo crônicas a meu respeito, não é mesmo, Edson Fernando de Souza? ), e se você já nasce como aquele gene pelos enigmas da vida,ou você se torna um gênio ou um dependente químico. Eu sei que existe um certo exagero neste exemplo extremista,mas, eu tinha dúvidas e curiosidades e de alguma certa forma tinha que deixar que aflorassem os sentimentos e para que me fizesse entender por satisfeito. E é, ser garoto não é nada fácil.
Eu gosto de dizer que o crack é igual aqueles programas populares de domingo,na teve: não há nada de bom neles,mas por algum motivo,as pessoas continuam a assisti-los.O crack não responde nenhuma das minhas perguntas, mas não consigo parar de usar; e para conseguir usar, minha moral teve teve que se resumir a um aforisma perigoso: faço TUDO para conseguir dinheiro sujo.
Conhecidos meus, ficam por aí, guardando carros para receber uns trocos; conhecidas minhas, vendem seus corpos por algo de 20 contos e sempre vamos piorando... É inacreditável ver como as pessoas se acabam pelo crack! São bizarros os atos que se concretizam por uma pedrinha a mais... Já vi promessas não serem, hoje, depois de uso constante, nada mais do que promessas antigas, daquelas que só são usadas para nos enganar. Agora, vejam,senhores e ladies, como transformar humanos conscientes em meros animais instintivos que reagem ao cheiro agridoce do crack! Aqueles que são compassivos e abusam da coisas certas, recomendo que não possível mais essa "agradável" leitura:
_ D'aqui, da aqui a lata.
_ Espera, tá na minha vez ainda.
_ Olha aqui, tem mais pedra no chão,olha aqui.
_ Tem nada, cê tá louco...tô, puxa logo,vai.
Nesta noite, estou eu e um amigo fumando pedra numa casa em construção,num destes bairros residenciais novos, afastados do centro desta querida cidade de Matão. São três da manhã de uma terça feira. Eu estava passando a mão no chão, achado que havia caído pedrinhas de crack no chão de terra. Nós havíamos assaltado uma borracharia e com as moedinhas,conseguimos comprar dois papelotes de pedra - e essa é da boa!
Enquanto eu fumava,meu amigo,no extremo da desconfiança, vigiava quase que estaticamente a construção,mexia lentamente os braços e olhava com a cabeça balbuciando. Até que, disse baixinho:
_ Fica quieto,não faz barulho, tem gente aqui.
_ Não tem,poe mais pedra aqui que acabou.
_ Oh Luis, tem mais pedra não,acabou.
_ Vamos pegar mais.
_ Cẽ tem dinheiro?
_ Vamô. Dỗ um jeito.
Quando disse, "eu dou um jeito", se meu amigo soubesse o que nós iríamos fazer, talvez ele tivesse desistido. Mas não me culpe, eu queria mais pedra,eu estava louco e queria ficar mais ainda. Então,saímos da casa em construção e fomos com os olhos bem arregalados,desconfiando de tudo e de todos e com o diabo no corpo,atrás de mais dinheiro para comprar mais pedra - e eu disse "oba" naquele momento. Andávamos pela madrugada numa tranquilidade incerta e aguentávamos cada instante sem pedra num esforço sobre-humano. Num devaneio sem sentido e tolo, tive a ideia "que vai nos trazer mais dinheiro", seria aquilo para obtermos mais droga e comuniquei ao meu amigo a minha idia que seria " a nossa salvação".
Andamos um belo tanto até chegar no local. Estávamos do outro lado da cidade,num bairro e sem movimento, ou seja, um bairro onde os "homê não cola", onde a polícia não recebia muito chamados.
Estávamos lá. Era um posto de gasolina afastados e por isso achamos que seria mais fácil. Olhamos bem e só havia um frentista ( quem colocaria dois ou mais frentistas num posto de uma cidade pequena, numa madrugada de segunda para terça? ),não tivemos dúvida: ali seria o fight. Não tínhamos dúvida: ali roubaríamos,la la la lala.
_ Pois bem, como estávamos louco,o plano era um pouco meia-boca,tenho que confessar isso agora, mas tínhamos certeza que seria um sucesso e era muito simples: meu amigo ia entrar e começar a procurar um produto que não tinha,lógico que o frentista iria até lá para ajudar, a procurar o produto, enfim, daí eu ia entrar e dar 4 facadas no frentista e meu amigo também estava armado.
Lá fomos nós: meu amigo, entrou e começou a olhar os salgadinhos, o frentista perguntou se precisava de ajuda e meu amigo disse que sim, o frentista foi até lá, eu entrei correndo e comecei a ameaçar a velho coma faca:
_ Dá a grana, velho!
O frentista olhou pro Marginho, ele estava tirando o revolver da calça. O velho sem muito o que fazer, limpou o caixa. Pegamos tudo e saímos correndo,tudo foi muito rápido e limpo. E lá fomos nós,novamente para a boca, pegar pedras de crack.
Meu amigo estava feliz,contente, por saber que iria fumar mais. Eu estava contente por não ter feito nada de que pudesse me arrepender depois. E seguimos até uma bocada perigosa que vendia crack,mas, o que era o perigo, agora, para nós?
Perto da boca, fomos abordados por dois caras que queriam grana para usar cocaína. Começamos a correr mas as balas de trinta e oito eram mais rápidas e caímos ao chão da quebrada inconscientes de nossos corpos. Por fim, devem ter pego todo o dinheiro e feito aquilo que não conseguimos realizar: usar mais droga.
Um.Cinco : Notas dos Noctâmbulos:
Da Diversão Municipal
Sexta feira, dia em que começa a vida socionoturna da querida cidade de Matão,onde todo o tipo de gente quer rodar. Do milionário atrás de travesti ao pobre e negro que guarda carros para ganhar um dinheiro pra comprar pedra) e entre "todo o tipo e "alguns tipos" podemos selecionar, de acordo com nossos critérios, as mais diferentes estereotipagens.
Façam suas apostas, senhores!
Ganhará o sexo, as músicas, a vodka, o bizarro, o risonho, o nariz branco, a lata furada...Apostem, senhores! Escolham o que achem ser mais "divertido". Façam em vão, pois lhes direi qual será a "diversão" que mais terá número de adeptos: o crack!
Prestem atenção, senhores: vejam como homens tornam-se animais irracionais, baixos, sem caráter, frios e incômodos, mesmo entre si mesmos.
Bem, como posso iniciar a descrição da tragédia urbana que é o crack? Vejamos, vamos tentar assim:
Suponhamos que você é jovem, tem dezessete anos; está com tudo em cima e a única coisa que não sobe é a grana. Você mora, com os outros irmãos, numa casa pequena, que não tem espaço nem pra trazer três visitas. Você mora num bairro perigoso, e seus amigos sabem muito bem que a primeira precaução a se tomar quando se sai na rua é fazer o "em nome do pai" depois de conferir se a faca está no bolso direito da calça cargo. É, as coisas estão quentes. E ou se aprende as regras e vive ou não aprende e morre.
Tudo na sua vida é ou acabará dando errado. Seu pai bebe, e briga com sua mãe; sua mãe, é evangélica e fica sem te dar a mínima o dia todo, só atrás "das coisas da Igreja"; seus irmãos, nos melhores dias deles, te dizem um pequeno "até mais", quando saem de casa.
As coisas não são fáceis mas na teve, você vê a garota gostosa (é, você é hétero e pior seria se fosse gay, teria de viver acorrentado ao preconceito) aparece na telinha, com um maluco bem pior que você; mas na novela dá tudo certo mesmo; e na sua vida, o fracasso não para de dar as caras.
Mas existem as festas. É só levar uma garrafa de vinho que o agito estará garantido. Numa dessas festas, depois de duas doses grandes, uma de caipirinha e outra de bombeirinho, sempre vem mais mais uma cervejinha e outras coisas com "um cara lá". E depois de tanto álcool e ânimos exaltados, um "amigo" seu faz a proposta: "Tá afim de dar umas pauladas? Hein, tá afim de fumar pedra?" E você nem faz a mínima ideia que a diferença entre o sim e o não, nesta hora, poderá custar por toda a sua vida, se você tiver o gene do adicto.
Porem, há aqueles que fumam pedras. Falam um vergonhoso "sim" para seus "amigos" e vão juntos para uma casa em construção. Quando chegam, furam uma lata de refrigerante e começar a guardar cinzas, para usá-las na lata. Abrem o papelote onde está a droga. E fazem isso da maldita substância.
Depois de ter usado a vontade muitos é permanecer usando, não percebem o absurdo que estão a fazer. E muitos nem acabam a loucura de uma pedra e já querem fumar outras duas ou três.
Seu "amigo", ao efeito da droga, começa a achar que tem alguém na casa e começa a paranoia de perseguição, anda em "câmera lenta" e exigi o silêncio extremo. Você, que usou com seu amigo, fica estranho e não entende muito bem o que está acontecendo, sente um pouco de medo e pode até se arrepender.
Porém fumará outra vez pedra, não entendeu muito bem o 1º efeito e a curiosidade lhe atenta como o diabo atenta os católicos. Fumará mais pedra. Descobrirá uma ou outra resposta,porém as perguntas se multiplicam como coelhos no êxtase da vontade e começará a fumar, vez ou outra, para conhecer melhor os efeitos do pedra. um belo dia, também pode ser uma bela noite, conhecerá pequenas doses de alucinação, como presente da pedra; ganhará respostas e também a chave do real inferno (inimaginável até mesmo para o teólogo com renome mundial em teses sobre cristianismo).
Não viverá.
Logo,você e sua família travarão o maior dos conflitos e a vida,dando um cheque mate na tragédia, vai piorar. Viverá,se viver, pelas ruas atrás de dinheiro, de cinquenta centavos de conto, de doses e pode fazer de tudo:roubos, assaltos,vendas de drogas (não é boa ideia, lembre-se que se endividaria e seria morto) e até mesmo venda do corpo, da alma. É você toparia tudo por dinheiro.E com dinheiro um só rumo: crack.
Aqui estamos no extremo do sim ou não; um não mais crack pode lhe salvar a vida, um sim para o crack pode trazer junto a morte. Usar mais droga significa,aqui, tentar conseguir mais dinheiro; e no estágio em que você se encontrará, tentar conseguir mais dinheiro, é desafiar a vida.
Será totalmente sem pensar, será um robô, será triste e sem saída. Cada segundo um insuportável seguir.
Faça a pergunta clássica: mas porque alguém escolhe isso como "diversão"?
A resposta está rodando ao redor de todos os curiosos. Como percebemos, não há opções, para um garoto como esse; o crack não é e nem nunca vai ser solução,porém tente dizer isso para alguém que não tem acesso nem a um dicionário ou a uma bíblia. Não sou psicólogo ou qualquer coisas que discuta com os filhos sobre os pais ou vice e versa, mas para que a tragédia urbana acima relatada deixe de ser ficção e torne-se estatística, basta que o garoto experimenta pedra e goste, ou numa linguagem mais científica, tenha o gene da adicção.
E por que ele experimentaria se um destino mau o aguarda já a partir da primeira dose de pedra?
Porque a curiosidade desperta o interesse; o interesse atiça a vontade; e a vontade realiza o ato.
Já que esse texto é provocativo porem não pessimista mas sim de visão crítica,vamos amais um questionar: como podemos deixar o "futuro" da nação nas mãos queimadas e nas mentes improdutivas dos usuários diários de crack? Como podemos esperar um melhor país se as chances atuais que o País dá aos patriotas é nada além de desprezo e boa sorte, onde o refúgio mais procurado é uma cela que prende, em liberto, em tudo que é ininteligente em inculto? Como esperar de "sem-rumos" uma melhora nacional?
Temos sorte, e nada mais que sorte que nem todos se curvaram ainda a desistência da ascensão; porem ajamos rápido, pois os que se curvam à decadência crescem como que sobre efeitos de poderosos adubos.
Os adeptos dizem que crack é "diversão", seria,então, divertido não produzir e viver atrás de errar; seria a estagnação um parque de diversão? Ou o crack que tem a capacidade de camuflar seus terríveis horrores com meio prazeres efêmeros? Eu creio que não, que a estagnação não é um lazer, ms sei que meios fáceis sempre nos chamam a atenção, sei que tudo que é trabalhoso nos entusiasma no princípio, no meio da muito trabalho, nos cansa e no fim, por fim, estaríamos dormindo. O fato de uma pessoa se tornar decadente usando pedra,provem de um uso constante ( que mesmo que inconscientemente é inevitável ), esse uso mais traz confusão do que luz às dúvidas e vazio, e, então, o uso se repete até que a pessoa seje outra. Poderia citar casos de onde o garoto tinha uma mente brilhante, era produtivo e odiava ser ocioso; quando fumou pedra a primeira vez sabia que viria a segunda vez e deixou de ser brilhante, pois começou a se preocupar com a pedra. depois vieram mais vezes; deixou de ser produtivo e achou graça na ociosidade. Hoje, passa todo o dia e toda a noite, na rua; vai até sua casa só para comer ( quando tem fome), tomar banho (quando acha necessário) e dormir (quando finalmente, depois de cinco dias fumando pedra,o sono vem). Arruma dinheiro com pequenos atos criminosos ou pedindo educadamente às pessoas que frequentam locais bem sociais, e que, na certa, devem ter dinheiro. É! Vejam como homens se tornam animais irracionais mais baixos, sem caráter, frios e incômodos, mesmo entre si mesmos.
É uma praga! Uma epidemia urbana.
Mas é sexta feira e quem fumam pedra está na rua desde segunda.
Talvez o texto mereça um enfoque maior na questão social /comportamental dos garotos pobres que não tem nada além do rap, talvez, eles se sintam 'tristes' e busquem em caminhos obscuros um cajado salvador, um aparo. Tudo bem desses garotos já falamos. Mas quando temos garotos mais socializados, o por que também dessa postura de marginalidade e renuncia familiar?
A curiosidade desperta o interesse, o interesse atiça a vontade a a vontade realiza o fazer. Veja, simulação dois:
Agora você é bem de vida, tem dezessete anos e não vê a hora de andar com o "carrinho" importado de sua mãe pelos points matonenses. Já tentou fazer ciência da computação mas não foi feliz no vestibular.
Mas ainda bem que existem as festas; e é só levar o cartão de crédito e comprar umas long necks num posto de combustível.
Há muito tempo você já sabia de histórias sobre o crack e sempre perguntava ( para seus amigos que usam) "como é que é?" Ou seja, a curiosidade desperta o interesse e essa era a sua curiosidade.
Nas festas, um dos seus "amigos", te oferece a pedra e como o interesse atiça a vontade, você sente um forte desejo de dizer sim. E se o interesse for grande a vontade também será; e um belo "sim" será dito ao seu amigo. E então, irão fumar pedra, terminando o ciclo, a vontade atiçou o ato.
Com dinheiro o caso complica mais, você pode vender seus aparelhos eletrônicos, suas roupas, tênis e muitas outras coisas, além do dinheiro que tem. Geralmente, o que ocorre nesses casos é a família intervir, internando ou cortando o dinheiro, se possível. Porém, o insucesso ou sucesso parcial é o mesmo. Poucos se recuperam de verdade e muitos ainda vivem vidas de meio viciados, onde tem suas profissões mas ainda se utilizam de drogas.
E as histórias se repetem, e chegam a se confundirem e só tornam quase que uma só: a fraqueza humana perante o crack.
Por mais incrível que sejam esses relatos é assim que as coisas são. Nossa sorte é que o cristianismo deixa as pessoas preocupadas com a vida futura e que todos temos um pouco de cristãos, em nossas mentalidades, senão. E o termo pecado, além de nos tirar a bravura, nos faz pensar se vale a pena arriscarmos uma vida eterna por uma "novidade", senão. Certamente muitos mais cairiam.
Cristianismo a parte, se se tiver muita curiosidade, com certeza, terá-se também interesse e creio que todos concordam com o ciclo que apresentei, de interesse para vontade,vontade ato, etc...
Não adianta em nada criticar escola, comportamento moderno, pais relapsos, amigos delinquentes e teve vulgar, quando o meio de existência da família atual ( a sociedade como um todo) está ruindo em desigualdade e fúria de rebeldia, não adianta nada querer achar um culpado. Pois não adianta mudar partes sem que o todo sinta as consequências dessas mudanças. Ao meu ver, não adianta nada políticas, educação, polícia contra os traficantes se a família não estiver fortalecida e valorizada.
Com toda a certeza democracia e capitalismo globalizado não combinam. A democracia é tão livres que as famílias podem escolher morar em barracos ou embaixo de pontes...sim, culpo o sistema atual por tudo que aconteceu com Luis e com tantos outros usuários de drogas, esses sistemas aniquilam as famílias e as famílias enfraquecidas, drogas como crack e pinga obsediam nossos irmãos.
Mas deixa, é sexta feira, vamos beber e conversar e resolver, teoricamente, todos os problemas do mundo.
Pois enquanto podemos pensar ainda podemos achar respostas; quando não mais pudermos pensar, ai sim, ai sim a vida será só alegria...
Um.Seis.Um : O INTROSPECTIVO
A festa deveria ter acabado a alguns segundos e ninguém percebeu. Fora igual quando a festa começou, o dj tinha começado a mixagem inicial e ninguém havia notado; o Dj se matava nas mixagens e ninguém aplaudia:
_ Quem esse pessoal pensa que é? Ninguém quer dançar? Pois bem, tocarei o que gosto e curto.
Havia dito, na cabine, o Dj, essas palavras para o seu equipamento de som. Um mixer, um par de toca discos e uma case com seu repertório que ia de tech house a cult bands.
Só O introspectivo soube quando o dj começou a tocar com gosto e percebeu agora, que o Dj tocava só para si.
A pista até tinha público. Um público tolo e ignorante, porem público. As luzes piscavam enquanto as caixas diziam: "Everybody is trying to make us, another a century of of fakes". Antes de Belle & Sebastian, já havia rodado radioread, coldplay, oasis, bjork e até, pasmem, Blur.
O introspectivo resolve sair da boate revolvendo a porta de entrada. O segurança resolver dar um belo "esquenta orelha", n'O introspectivo.
Ela sai da boate, da festa, do diabo a quatr o e ganha as ruas, as marginais, as avenidas e a escória da cidade. Pule, dance, não cante, paquere e beba umas long necks, fume qualquer coisa e sorria. Mas as músicas não saiam de sua cabeça, porem a festa já havia se extinguido em baixaria e hegemonia. A rua não era opção, era uma solução. Ele estava sem sono e como queria ouvir "Radioactive" ainda essa noite, como queria repetir conversas e ouvir os mesmos elogios. E ele abraçava a noite...não como na música do Capital Inicial, que fala da "cidade em trapos, das pessoas que saem, do que foi feito pra ele e você"; abraçava a noite com uma falsidade marcante e um feeling para encrenca raríssimo.
Deve ser por isso que ele saiu correndo ao ouvir o primeiro acorde daquele sucesso sertanejo do momento, o lugar todos sabemos onde era.
Por fim, lá estava O introspectivo, quatro e meia da manhã, numa marginal, mascando a própria boca, passando e olhando para as pessoas. Creio que sequer passaram três pessoas, estava eu um pouco distraído neste instante, mas ofato é que ele mal chegou e já saiu, falou com alguém, pegou algo e saiu.
Se alguém perguntasse para ele por que ele estava indo embora tão rápido, ele apenas diria " vou para casa porque temo ficar aqui e me tornar como vocês". Porém, ninguém mexeu com ele e logo, estava seguro, dentro de casa.
Um.Seis.Dois : → A IDENTIDADE DO INTROSPECTIVO
Durante algum tempo, houve rumores de um possível cara que ficava caminhando por ruas desertas,poucos escolhidas pela grande população. Ele era conhecido apenas por O introspectivo. Diziam que se tratava de uma pessoa singular ( em quase tudo que essa palavra pode significar ), alguns arriscavam até definí-lo: diziam que era eloquente, equilibrado, sempre estava comos olhos pequenos, fumando alguma coisa, se divertindo e ensinando & aprendendo; já Luis afirmava que O introspectivo é um bom amigo, justamente por não pegar muito no pé, pois como O introspectivo gostava de ser introvertido, dificilmente eles se falavam mais do que dez minutos, e Luis amava pessoas assim. Aliás, esse tempo é característico dO introspectivo, ele sempre pensa muito pelo método de introspecção ( onde o próprio sujeito examina seus próprios sentimentos e pensamentos ), porem, mesmo que ele se utilize de dias ou semanas para concluir suas introspecções, ele sempre dialogava em muito pouco tempo, não passando de dez minutos suas conversas. Dizem que ele certa vez, quando perguntaram aO introspectivo sobre esse mesmo assunto esses dez minutos ele respondeu " o difícil é aprender, ainda mais quando se aprende sozinho, depois que se entende por si só, tudo o mais fica fácil de se transmitir, e essa é a base de todo o tempo".
Mas o que, de fato,ele gosta? O introspectivo ouve mutia música. Ele gosta de sons alternativos; Gosta de não gostar do que os outros gostam,mas isso não é apenas rebeldia ( como fizeram O introspectivo crer na adolescência ) ,gostar do que os outros não gostam mostra apenas que O introspectivo ainda se mantêm lúcido, ao menos enquanto falarmos de conceitos estéticos-éticos como bom e mau, belo e feio, artístico e banal, comercial e alternativo.
Mas o que ele estava fazendo? A cerca de vinte minutos,O introspectivo estava em sua casa, ouvindo This is Just a Modern Rock Song do Belle & Sebastian, estava bebendo a cerveja criada em 1853 (ele gostava do nome), lendo 1984 e de súbito quis sair de sua casa...Ele mora sozinho, vive sozinho. O introspectivo se cansou de seu quarto e quis ver o que havia nas ruas. E agora ele está perto de um posto de gasolina e lembra de um trecho de uma música: É me observando que a garota pode ver/ Eu só estou lúcido quando eu estou escrevendo canções. Por um tempo se questionou sobre a sua lucidez, entendeu que sobriedade assim como voluptuosidade eram coisas opcionais, ora se podia ser sóbrio, outrora se podia ser voluptuoso, todos podemos ser, de ambos os modos, é apenas uma questão de gosto, cada um pode gostar do que bem quiser e do que bem puder, e O introspectivo preferia JAMAIS ficar sóbrio. Tudo é uma questão de gosto e ocasião.
Pegou uma cerveja no posto e continuou andando, com a visão meio nebulada ( o que não faz beber cerveja e fumar alguma coisa ). Mesmo com a visão bastante diferente era impossível não reconhecer Luis, mas que coisa,O introspectivo pensará que Luis estava internado no CTI depois de um terrível incidente perto de uma bocada quente, mas não havia dúvidas,era afeição de Luis e vinha em direção aO introspectivo.
_ Era você mesmo,precisava mesmo falar com você.
Disse Luis para O introspectivo que disse:
_ Fala, aproveita que tenho pressa...
_ De você mesmo? Você sempre está com pressa não é João? Sempre você tem pressa de ficar consigo mesmo. Pressa de se isolar. Pressa de ficar sozinho. Por quê? Por que você prefere ficar só?
O introspectivo calou-se, agora,num estalo de medo resoluto. O introspectivo não respirou,não pensou, apenas caiu em si e se calou.
_ Vai, me responde! - gritava Luis de segundo em segundo totalmente alterado. Vai por que não fala? - perguntou por fim.
O introspectivo deu um longo suspiro e disse com toda a calma:
_ Não estava pensando no seu questionar. Eu apenas ouvi meu nome, a quanto tempo não ouvia meu nome? Era O introspectivo daqui, O introspectivo dali e nunca João. Não me calei por suas perguntas duvidosas acerca de meu próprio gosto e vida. Me calei por ter novamente me descoberto. E se tenha pressa, tenho também meus motivos que não são os seus e até.
Estranhamente Luis não retrucou e deixou O introspectivo ir, o mais estranho ainda foi que logo que O introspectivo olhou para trás, depois de dar poucos passos, não estava mais Luis na rua e que com toda certeza,o lugar de Luis deveria mesmo, um leito no CTI.
Um.Seis.Três : → Três Momentos Introspectivos
I -
Draxina Vraz co có, daxina vu. O introspectivo estava ouvindo um cd do karnak enquanto ria sem parar do tamanho do seu pé direito. Ele ouve um som discreto de palmas,pede desculpas ao seu aparelho de som e vai até a sua porta. Era um garoto vendendo verduras sadias e apetitosas, porém O introspectivo queria verduras com caramujos e infelizmente nenhuma delas vinha com tal brinde. O garoto, educadamente, agradeceu e foi bater palmas em outra casa, em outra freguesia.
Era muito interessante, ficar em casa ouvindo boa e feliz música, porém O introspectivo resolve ir dar uma volta pelo bairro e adjacências. Antes resolveu fumar qualquer coisa. Riu sem parar e resolveu sair de casa.
Primeiro foi até a praça mais próxima, e como Matão tem praças próximas(Araraquara também), acompanhar umas garotas batendo um vôlei. Achou as garotas muito simpáticas mas um pouco vulgares com seus micro shorts, como direi, agarrado às coxas. Até pediu um pouco de cordialismo às Garotas mas elas o chamaram de Viado.
Continuou a andar. Passando por uma rua festiva, observou um bar lúdico onde homens jogavam bilhar. Foi compartilhar do jogo, só como espectador. Deu algumas opiniões ácidas sobre as músicas que tocavam no rádio e foi obrigado a sair do bar antes que levasse uma tacada na cabeça. Porém, coitado,não saiu ileso, foi presenteado com um ovo cru nas costas e quando foi, novamente ao bar agradecer a ovada, passou por uma situação desconcertante. Foi fortemente ameaçado e lhe disseram que se ele voltasse aquele bar, os dentes dele lá ficariam. O introspectivo começou a fazer escândalo, dizendo umas palavras de caos. Foi quando ligaram pra polícia. O introspectivo teve que expor suas físicas, correndo como lebre, se levasse uma revista, na melhor das hipóteses, seria preso.
Então, viu já longe do bar, garotos sentados em frente a uma casa, em uma calçada, jogando alguma coisa. Entusiasmou-se e pensou que talvez fosse um jogo de RPG e até pensou em se auto-convidar para jogar. Entretanto era um jogo estranho, onde o objetivo era chegar até o fim da linha(?). O dono da casa saiu na calçada e pediu que O introspectivo fosse embora, ele foi, entretanto reclamando da idiotice que era aquele jogo. O dona da casa deu com a caixa do jogo na cabeça dO introspectivo e os jogadores ofendiam demasiadamente nosso herói.
Resolveu voltar a sua casa, no caminho cachorros queriam sua perna.
Ao chegar em casa, fumou e riu sem parar. Por fim escreveu um texto para um jornal da cidade. O introspectivo intitulou
"Minha nobre Presença Junto a Sociedade"
II -
Era um sábado a noite, e O introspectivo resolve sair de seu esconderijo secreto, deixar os livros e os cds e ganhar a noite. Foi até seu singelo guarda-roupas e escolheu, na opinião dele, o visual mais adequado para a cidade. Uma calça trash que ele mesmo havia feito, uma camiseta hyper e um sider básico compunham O introspectivo pronto para a noitada. Comum aperto nas coxas, disse "um até mais", para seus pertences caseiros e foi-se.
No caminho foi ouvindo ofensas das pessoas, que na certa, não compreendiam o restilo solto e extravagante dO introspectivo. Pensou três vezes, em voltar para trás. Mas, depois da quarta long Neck começou a retribuir as ofensas em Dollar. Se animou e resolveu ir até a boate de maior renome da cidade. Pensou,nas músicas que na certa ouviria. Apollo Four Forty, Laurent Garnier, M4j, Dj Hype, Everything But the Girl, Leftfield e nas outras pérolas da dance music underground.
Porem, O introspectivo conhece a realidade. Ao entrar na boate, uma músicas meia-boca, uma fórmula batida e sem graça: break, vocal, break, e o dj mixava horrivelmente, sem compasso, nem no tempo. Pensou até em ir a sua casa e pegar uns cds mas o pessoal da pista gritava: Uhhrull. Num estalo de protesto , sentou no meio da pista de dança e tapou os ouvidos. O segurança, devidamente, põe O introspectivo para fora da boate. E o povo bate palmas com prazer e euforia de álcool.
Por sorte, perto da boate havia uma aglomeração de jovens ridículos e O introspectivo tenta se misturar. Porem a mistura pior ficou que as mixagens daqueles djs ultrapassados. O povo ria e tacava pedra nO introspectivo e o tadinho corria para se esquivar das investidas;pensou em parar um carro policial, mas poderia levar uma revista e isso, na melhor das hipóteses, seria uma bela chave de cadeia, pelo menos por alguns dias. Por fim, até nunca mais povão.
No caminho, fumou qualquer coisa e riu sem parar. De relance viu O Marginal que lhe deu um belo sorriso verdadeiro. Pensou em seguir em frente com ele,mas queria chegar logo em casa e assistir alguns clipes do The Cure.
E foi, abriu a porta de sua casa e naquele momento, o sábado começaria.
III
O introspectivo no auge de seus vinte anos, vai para a rua. Ele olha bem para os lados, nunca olha pra frente ou pra trás, ele só olha para os lados. Como não vê ninguém, apenas entra novamente.
O introspectivo resolve escrever uma crônica para um jornal da cidade. Pois bem, ele toma em mãos um cd do karnak e open, close and play.Pega sua singela máquina de escrever e começa com o título:
"A visão underground de Mundo,
pelo O introspectivo".
Mas o som era marcante, rural e e simples. E para de escrever para ouvir Jorge Mautner. Um poema, um texto, um diabo a quatro que seduzia e distraia o nosso O introspectivo.Resolveu tirar aquele cd, uma vez que era impossível concentrar-se com tamanha qualidade musical.
E lá estava. Olhou para a sua prateleira de cds e lá estava, branco, preto e vermelho: Amenesiac do Radiohead. Canção dois. Mas uma vez não conseguiu se concentrar. Pensou em pedir ao vizinho um cd de funk ou sambão; não não, melhor não apelar tanto.
Foi até a sua prateleira, onde guardava também alguns livros e procurou um livro filosófico para iniciar o seu texto com uma frase de efeito. E lembrou de uma “Quisera dar e repartir até os sábios tornarem a gozar de sua loucura e os pobres de sua riqueza”, achou se tratar de uma boa frase, agora era só procurar de quem era e em qual livro estava...Nem se importou e seguiu em frente, coisas rotineiras – pensava. Por um longo tempo,enquanto procurava, pensou na frase, na máxima, no aforisma e no diabo a quinta. Não achou resposta alguma a não ser que, realmente,os sábios necessitam da loucura e os pobres da riqueza. Porém O introspectivo já decidira: Não iria expressar no texto/crônica esse pensamento sublime,o deixaria oculto, desconhecido até.
Por hora, achou-se supremo,acendeu um cigarro ou qualquer outra coisa que fede e que faz lembrar e esquecer, fumou e riu sem parar de sua crônica/texto de vinte e uma linhas e cantou à Dionísio:
__ Never live in a glasshouse. Want to get, I am in trouble in affair, she is pain for me and i play, she explore and... never live in a glasshouse. Want só get...
Num inglês errado, sem letra correta, simplesmente gritava e ria. Essa música, de uma boêmia, que ele jura que ainda existe boêmia. Forever, Forever in a glasshouse.
O introspectivo mesmo tão pseudo inteligente, se esqueceu, que depois de Luis & o crack, não existia mais boêmia, mas sim um mundo perigoso e traiçoeiro, onde por muito pouco, é possível se perder.
Um.Sete : - > WOULDN'T YOU LIKE TO GET AWAY
Por que você não gosta de ir lá mais longe?
O vento passava entre a face avermelhada – de frio – do Marginal (Selin). Selin estava especial hoje, com a face rosada, com a marca do frio no rosto. Numa quinta-feira, em uma bela quinta-feira, numa bela noite de muita chuva e vento, e frio. Caminhava o Marginal sem muita proteção do frio, da chuva ou da própria noite.
Mesmo assim, ele caminha firme, pelas ruas escuras, ele não perde o passo, pouco se arrepia,apenas segue firme e disposto. Agora, ele estava indo pra casa.
Porém, andando por uma marginal, o Marginal avista um novo posto 24 horas e resolve ir usar o banheiro de lá.
Ele olha para os lados, caminha rumo a luz acesa. Olha o banheiro; um com a porta fechada e a luz acesa, o outro com a porta aberta e a luz apagada, nenhum tinha identificação de sexo.
O Marginal entra no banheiro escuro, acende a luz e fecha a porta.
Quando ele sai do banheiro e apaga a luz e fecha a porta, no mesmo instante sai do banheiro ao lado, que estava com a porta fechada e a luz acessa, O introspectivo que apaga a luz e fecha a porta praticamente no mesmo tempo do Marginal.
O introspectivo estava segurando uma long neck na mão esquerda e precisamente com o dedo indicador e o médio apertava a narina esquerda e inspirava fortemente o ar com a narina direita. O que poderia ele estar fazendo?
Que coisas-bem-ilegais. Até você caiu na Roda, O introspectivo? Aonde parará a humanidade? Dia após dia as drogas adquirem mais e mais seguidores( e “curtidas”). Nossos irmãos jovens passam cada vez mais dos limites.
Isso diria o pai do Marginal, pois já tinha observado O introspectivo várias e várias vezes e certa vez até pediu que O introspectivo desse bons conselhos aos Natineu, o nome de certidão do Selin. Selin veio depois, e vem de figurinha de bafo, que ele chamava de selin. Sabe aquelas figurinhas de copa, de chicletes, todas, pra ele eram selins...E o Marginal agora, nos nossos contos dos Noctâmbulos.
Selin é meio irmão de Luis. O Pai de selin e de Luis é o mesmo, O pai é pardo, a mãe de Luis é bem branca e a mãe de Selin já é bem negra, o resultado (Selin e Luis) é uma incrível semelhança física entre meio irmãos, de fato, quando juntos, parecem até gêmeos, se não fosse o fato de Luis ser claro e selin ser bem mulato. Mas são muito semelhantes de corpo, de feições de rosto, mas não é bom chama-los de irmãos não, a mãe do Selin até hoje acusa a mãe do Luis de ter tirado seu esposo, graças a essa gravidez de Luis, O pai dos meninos, diz que o amor havia acabado há tempo e que nada disso foi por acaso.
Intrigas a parte, sabe-se de uma coisa, os dois são muito parecidos.
O introspectivo sai do posto e anda pela marginal. Ele vê os neons anunciarem lojas que vendem itens confeccionados por humanos. O introspectivo pensa que que será que não existem lojas que vendem artigos confeccionados por ordens divinas ou não humanas? Exclusivamente, nos dias atuais, sinônimo de cruel, doentio e perverso; aqui, não humano é uma expressão que se refere a tudo que não humano; como árvores, pássaros, divinos, angelicais, super-humano...
E concluiu: “ não existem lojas que vendem produtos não humanos; por que se houvesse produtos feitos por força divinas, superiores ou “não-humanos”, esses produtos não seriam vendidos nas lojas administradas por homens. Mas sim, seriam distribuídos a todos aqueles que destes produtos viessem a se interessar.”
O introspectivo pensava em um exemplo para ilustrar o seu raciocínio,pensa em “digamos que existia um livro escrito por um escritor em morte; por exemplo, o escritor morreu, porem ele conseguiu, no além, escrever; para adquirir uma peça literal de tal espécie, se assim fosse possível, somente pela forte vontade de tê-la! Se fosse possível adquirir obras/produtos feitos por não humanos, essa aquisição não se daria numa loja iluminada por neons, essa aquisição se daria através de verdadeiríssimo de interesse pelo produto:só quem desejasse a fundo seria atendido.
Em frente a uma loja com um luminoso de neon O introspectivo diz em voz alta:
_ Não vou comprar mais nada que seja anunciado por você, não te suporto placa irritante. Como não gosto de ti! Me faz mal a tua falsa luz.
( E O introspectivo corre da placa)
Joana está em cima da laje da loja em que O introspectivo gritou seu digamos, “grito de repudio apo neon”. Ela o vê correr. E...?levar as duas mãos ao rosto em um sinal de choro. Ela diz um “eu, hein”, pega um cigarro e dá mais um longo trago volta pro canto em que estava e continua fumando.
Joana sempre gostou de ficar ali. Tinha uma torrinha de energia de escalada fácil, então, ela simplesmente subia e ficava atrás da placa, com o rosto iluminado, mesmo numa fria noite como essa. Agora que a chuva havia acalmado,e com toda essa gritaria desse garoto, fê-la sentir-se um pouco amedrontada e decidiu sair dali. Desce pela torrinha e logo está em solo firme, ela olha para trás e vê um moço – o Selim – que diz:
_ Você tem fogo – olhando para o cigarro dela.
_ Não.
_ Então, como o seu cigarro está aceso?
_ Não darei mais resposta alguma, até mais.
_ Hei, - Selim segura o braço de Joana – não acho necessário tanto pressa...Tudo bem – ele solta o braço dela – deixa...eu tenho fogo.
O Marginal acende um cigarro com uma caixa de fósforo. Joana olha abismada e incompreensiva, logo ela diz:
_ Se você já tinha fogo, por que o pediu a mim?
_ há há, eu gostei de te ver descendo da torrinha e queria puxar uma conversa, sabe? Como é mesmo o seu nome?
_ Joana.
_ Eu sou O Marginal.
Joana riu por fora. Por dentro ela ficou um pouco assustada. Como posso estar caindo na desse cara tão pateta...hum, mas ele tem uma bela boca - assim Joana pensava.
Ele a olha com admiração, ele a achou interessante. O jeito dela, de certo modo, ele achava que o ar que ela exalava era a própria essência da sedução. Por dois segundos, o Marginal quase se atirou em cima dela, de tão fascinado que ele ficou. Ela era a idealização da garota,ela é a Garota. Agora Selim pensa, se já terá realmente conhecido alguma outra garota antes? Todas as antigas mulheres e garotas que Selim conheceu antes de Joana, agora pareciam nada mais que menininhas de berçários voluptuosos. Joana é a garota, as outras,menininhas de uso descartável. Agora começarei a viver esse encontro mudará minha vida – deu pra vê o quanto o Marginal se animou.
Um profundo silêncio se fixou entre eles, um silêncio maior do que o que já estava antes dele dizer :
_ Esse encontro mudará minha vida. Prazer meu nome é Natineu.
Joana gostou muito de ouvir isso mas o fato do Marginal ter ficado mudo após ter dito essa última frase fê-la pensar que ele havia se arrependido de tê-las dito.
O fato é que Selim ficou envergonhado. Ele nunca tinha sido tão sincero e não tinha praticamente mais nada a dizer. Mais o fato dele nunca ter falado abertamente com essa garota, tudo isso, estava de fato, perturbando-o. Joana é a pessoa ideal e o que poderá pensar ela desse silêncio todo, entretanto, ele temia dizer alguma coisa e estragar tudo, com alguma besteira.
PRAFT!!!!
Pronto!Alguém rompeu o silêncio e agora o neon tinha meia dúzias de lâmpadas queimadas e ouvia-se um riso:
_ há há. Hahahaha
_ Veio dali – apontou o Marginal. E logo correu em direção às gargalhadas largas, ou fifty laughs, como gosta o Belle and Sebastian.
Quando o Marginal vê quem estava na frente dele, pasmem, O introspectivo. Joana acompanhou O Marginal mas um pouco mais atrás.
_ Que foi, o Marginal?
O marginal respirou fundo depois bravejou:
_ Você ficou louco?
_ Marginal, ah, se você soubesse a qual esquema perverso - começou a falar O introspectivo - pertence esse insano neon mundializado. Seu inútil, neon inútil.
_ Não é por nada – disse Joana – mas, por acaso não podemos cair fora daqui antes que alguém nos veja e nos culpe por vandalismo?
_ Vamos! Pra casa dO introspectivo- disse o Marginal.
_ O que pra minha casa!
Eles começaram a andar . Selim fumava. Joana cantava “ You will have a boy tonight, on a first bus out of town, you wiil have a boy tonight,and you hope never will see it”. E O introspectivo não parava de puxar o nariz.
Marginal bruscamente pergunta:
_ Você tá cheirando?
_ Dei uns dois tirinhos – fala O introspectivo repuxando um pouco o pescoço.
_ Ah, e nós vamos na sua casa, com você assim?
_ vocês quem quiseram ir lá.
_ Vocês não, – interfere Joana pela primeira vez na conversa - eu nunca falei que queria ir lá casa de filha da puta nenhum, neguinho.
_ Calma Joana – falou o Marginal - . O introspectivo, você pretende cheirar muito essa noite?
_ Eu peguei....
E ele fala a quantia e o que pegou
Nisso o Marginal começou a mudar de face. E joana ficou com medo da quantidade e queria ir embora.
_ Bem, falou Joana,eu vou-me embora, na verdade, eu nem sei o que eu vim fazer até aqui. Entrei na história de vocês, sem ter nada a ver com isso, na verdade, foi uma grande loucura eu ter vindo até aqui.
Joana se virá e vai no caminho oposto.
O introspectivo subia a rua que leva a sua casa. Joana seguiu o caminho inverso, voltando. O Marginal ficou parado no balãozinho da baixada, antes da subida para a casa dO introspectivo, pareceu uma eternidade, mas decidiu-se:
_ Seria terrível ter que continuar a noite sem você, divisora da minha existência.
Joana parou e olhou para trás e viu Selim que vindo correndo na direção dela, enquanto Selim corria olhava para trás, e acenava um tchau para O introspectivo, o Introspectivo por sua vez, somente puxava o nariz.
E verdadeiramente posso confessar para vocês que a noite deles começou no momento dessa despedida,na hora em que O introspectivo foi para o sossego de sua casa e o Marginal foi acompanhar Joana até a Casa dela, bem talvez não forão fazer só isso...
Um.Oito : E é assim que se vive →
Luis está deixando de morar com sua família, depois daquele incidente na biboca onde ele quase foi morto, passou um tempo na CTI e agora ele está na rua, como sempre. Porem, agora ele está com uma sacola em cada mão, carregando suas roupas e pertences. Ele está dando um tempo com sua família, está saindo de casa. Luis sabe que o val mora sozinho e sabe que não haverá problema algum se for morar lá. “ É só um tempo, quero ver se as coisas lá em casa esfriarão”, era isso Luis falaria para o Val, afinal, eram amigos de crack.
A briga ocorreu a cerca de uma hora atrás: o pai de Luis havia acabado de chegar dum bar, e se encontrava bêbado de pinga pura; logo a mãe de Luis começou a refutar o bêbado pai de Luis e esse bebum deu como resposta alguns belos/malditos ataques de agressões. Foi uma cena horrorosa que só os burocratas poderiam assistir com naturalidade, Luis não suportou mais olhar aquele ato repugnante, mesmo Luis sendo um delinquente, sabia muito bem que aquilo não se fazia, “ai não”, disse ele e fez algo no instinto de não poder apenas continuar vendo: Luis foi pra cima. Tudo foi muito confuso e irracional, eram pontapés, chutes, socos e empurrões, era o retorno a humanidade do animalismo que há pouco estava ali. De qualquer forma era uma cena sem lógica, sem sabedoria e sem racionalidade - não era uma cena humana - . Depois de trinta segundos, e não sei se o tempo foi esse mesmo, me pareceu trinta segundos, o pai de Luis cai ao chão. Luis fica se vangloriando, como que mostrando gosto por sua suposta vitória. Não sei, mas Luis cantou tanto pela sua vitória aquela hora, como se ele tivesse dado uma bela surra no pai, mas pelo que pareceu, o pai de Luis desmaiou foi de bêbado e não por ter sido nocauteado, como Luis está acreditando...O fato que ocorreu foi o pai de Luis ao chão e Luis em pé, só isso.
Mas subitamente Luis deu-se conta: e agora? O clima na casa dele já estava péssimo, desde que ele havia saído do hospital e agora isso? Luis não poderia mais ficar em casa, pelo menos por um tempo, Luis havia, acabado de massacrar o seu pai (ao menos Luis pensava isso), e agora seria necessário um tempo, para deixar as coisas esfriarem, deixar a poeira baixar ou simplesmente, esperar um pouco para tornar a olhar olho no olho. Luis resolveu sair de casa, comunicou sua mãe, que estava do lado dele e a mãe disse que realmente talvez fosse a melhor coisa para se fazer, afinal, Luis tem mais dois irmãos morando em casa. A mãe dele o ajudou a colocar as roupas deles em duas sacolas e lhe deu mais cinquenta contos, avisando, “Luis, faça dar pra um mês”, mas depois disse, “se quiser voltar antes, em duas ou três semanas, venha ver como está o clima”. Luis se despediu e ganhou novamente as ruas. Devem ser por volta de dez e quinze, de uma quinta feira e Luis espera que em mais dez minutos esteja em frente a Casa do Val enquanto andava e recordava todas essas coisas.
O val vivia em uma casinha de fundo de quintal. Na casa havia um pequeno banheiro, uma minuscula cozinha e um quarto que servia de dormitório, sala de TV, e local para festas: digamos, uma casa pequena mas funcional. Uma casa de funções, se é que sou compreendido. Um local bem precário e simples , mas que servia e a única coisa que Luis queria era um local para passar uns dias, com comida, bebida, banho, descanso e diversão, pela bagatela de cinquenta contos.
Agora Luis estava em frente a casa de Val e vê que ele estava no tanque, enchendo uma garrafa pet com a água da torneira, Luis logo fala:
_ E aí, Val?
Val para de encher a garrafa, fecha a torneira e fala par Luis:
_ Pode chegar, Luis. E aí, o que você conta de novo?
_ Então,cara. A situação lá em casa tá meio embaçada, será que não tem como eu ficar uns dias por aqui?
_ Ah, Luis. Sei lá, hein? Vá que você fica aqui e sua família vem atrás de você.
_ É por eles mesmo que eu sai de casa.
Um.Nove : COMO
LUIS COMEÇOU
Luis
não sabe para onde vai, ele está sentado numa calçada, ele está
fumando um petilho e pensando. Hoje o medo é um pouco maior e os
pensamentos mais assustam do que ascendem. “Preciso fazer algo,
quero fazer alguma coisa. Mas o que eu vou fazer, onde vou fazer e
com quem? Eu quero fumar mais pedra, preciso sair daqui e ir arrumar
dinheiro e vou fazer isso sozinho”, assim pensava Luis consumindo
cigarro feito de cigarro desfeito e crack na mistura...
Como
vocês podem reparar, Luis não está pensando em nada de
construtivo, ele está apenas ocupando o intelecto dele com obsessões
e desejos torpes de mais. Luis é um garoto de cidade pequena: ele
(como todo garoto) teve uma forte vontade de conhecer coisas “novas
& diferentes”, porem, como em cidades pequenas não existem
muitas coisas a se conhecer & fazer, Luis acabou conhecendo as
drogas; Não estou afirmando que as possibilidades das cidades
pequenas influem nos rumos das vidas das pessoas (apesar de isso ser
verdade) , estou apenas dizendo que se talvez houvessem outros tipos
de diversões, Luis não teria buscado na droga uma pseudo-diversão:
se o intelecto chegasse antes da droga, ele não estaria certo de
evitá-las (pois isso pode e acontece com Juízes e Indigentes) ,
mas, ao menos, se o intelecto chegasse antes do que as drogas, ele
estaria bem amparado e melhor preparado tanto para evitá-la, quanto
para administrá-la (administrar, aqui, aparece no sentido de
administrar uma situação envolvendo drogas e isso inclui: dizer um
não a um convite, dar bons conselhos e ter uma opinião forte e
convicta sobre às drogas).
E
é assim que Luis é hoje. Ele passa noites e noites atrás de
drogas, mas não é qualquer droga, ele gosta de crack! Se pegarmos o
começo da saga de Luis, se olhar para a juventude de Luis, a cerca
de três anos atrás, ela estará regada de vontade de descobrir.
Todos sabemos que a infância é repleta de curiosidade, mas como
essa curiosidade provem porém de uma criança apenas, cremos que é
uma brincadeira...porém, quando cresce retorna no caminho da
curiosidade, porem, agora, ele detém de uma liberdade totalmente
livre( me desculpem o pleonasmo: se acompanharmos,com a liberdade que
ele tinha antes - ou na infância - , a liberdade adolescente é
totalmente mais livre que a outra, isso o porque do pleonasmo); e
muitas vezes,existe a liberdade, porém não existe muito o que fazer
com ela, e é aí que se faz a besteira. A besteira é a falta de
orientação. Apenas digo que Luis tinha uma imensa vontade de se
aventurar, ele poderia ter descoberto uma boa sinfonia, poderia ter
conhecido uma obra de um grande artista plástico (como Da Vinci),
poderia ter lido Drummond, Will Durant...Nietzsche, mas nada disso:
apenas havia Luis com sede de conhecimento de coisas novas, porém a
única fonte que lhe era acessível, para saciar essa sede de
descobertas, eram as drogas. Luis apenas sabia que queria descobrir,
como ele poderia que melhor que cigarro é Maquiavel? Como poderia
saber que melhor do que pinga é Villa Lobos? Como poderia ele saber
que melhor do que Crack(pedra) é o prazer pelo bem saber e pelo bem
estar coletivo? Como saber ele, se ele só tinha acesso aos cigarros,
à pinga e à droga? Como Luis poderia saber o que realmente iria lhe
saciar se antes do intelecto veio a decadência?
Pobre
Luis! Era um garoto com um mundo inteiro a descobrir, porém, o único
mundo ao qual teve acesso,foi o submundo das drogas. Hoje Luis sofre
sem ao menos saber que sofre, ou o PORQUE desse sofrer. Luis sofre
porque usa drogas pesadas, que fazem mal ao corpo e a mente, drogas
criadas pelos homem, para enlouquecer mesmo. Deus permite às
substâncias entorpecentes para aliviar os sofrimentos dos doentes,
mas o homem que é ganancioso cria as drogas “recreativas”, que
deturpam o significado das drogas viciando seres em decadências e
tristezas. Luis mal sabe que no momento em que fumou pedra pela
primeira vez, ele poderia, se tivesse tido mais estímulos mentais,
poderia ter descoberto Cronicamente Inviável. Mas não foi o que
aconteceu. Luis queria algo novo e nós sabemos que esse algo novo
poderia ter sido o universo artístico, mas não foi. Luis poderia
ter descoberto a literatura, mas não foi isso o que descobriu.
Acabou experimentando drogas antes de descobrir qualquer coisa boa e
agora, não havia mais volta.
Entendam: Luis queria algo novo
e depois que esse novo veio, nada, nada mais importava.
Explicitamente: Luis queria novidade, obteve drogas e parou de
procurar as novidades: ele satisfez-se nas drogas. Afinal, foi o
único mundo que deram oportunidade para ele entrar. As ruas:
Ele
queria entrar por uma porta, queria ver outros lugares. Não sabia,
de fato, o que queria ver, e isso é lógico, pois se ele tinha um
forte anelo, pelo conhecer, como poderia ele conhecer? Se ele estava
buscando um novo, como poderia saber o que seria esse novo? Até
que, uma novidade vem “alteradores de estado”. ´E onde
finalmente surge o novo. Era tudo o
que ele queria, era o novo e eis
que ele entra por uma porta: A Passagem para as drogas.
que ele queria, era o novo e eis que ele entra por uma porta: A Passagem para as drogas.
Um.Dez: O CONTO DO NOCTÂMBULO
CREDO
Luis não se cansa. È mais uma noite fria na cidade e lá está ele: com sua calça streetwear, com seu blusão de frio e sua toca de um grupo de rap. Luis novamente toma as ruas para conseguir dinheiro. Novamente ele quer drogas, de novo ele pretende fumar pedra. Crack Luis,não tinha outra coisa pra você experimentar? Será que não sabe que gosta da pior das coisa que existe no mundo?
Nem todas as drogas são ruins: os remédios são drogas e alguns até fazem bem: a cerveja é droga, porem é liberado seu uso; o cigarro já foi considerado uma droga das boas, agora é visto como um grande vilão. Mas Luis, crack, nunca sequer foi mencionado como algo bom. Usar isso faz mal não sói à tua saúde como também a tua alma. Sua mente perverte-se, seu espírito se corrompe, suas lembranças acabam e a única coisa que aumenta é a vontade pela droga. Se há um meio, para de usar Luis, para de fumar isso.
E nada adianta. Ele segue pelas ruas, vai de bar em bar, de grupo em grupo, de carro em carro, ele pede dinheiro, e de cinquenta e cinquenta centavos de Conto, ela vai arrumando cinco Contos para comprar uma paranguinha de crack! Sempre tem um traficante por perto, é só ir até o mais perto.
Luis estava passando em um Posto de Gasolina, já tinha três Contos no bolso e mendigava por mais dois. Ele olha olha para o posto e vê um antigo amigo bebendo uma long neck, Luis não hesita, vai perto de ex-amigo e diz:
__ Nossa,... quanto tempo?
__ Pensei que nunca mais fosse te ver,mas pelo visto, sou azarado mesmo.... - assim disse o “amigo” de Luis.
__ Calma, vim ver como você estava.
__ Estava indo muito bem, antes de te ver...nunca deveríamos ter-nos encontrado. Com sua licença. Lembrei que tenho que ir a um lugar.
__ Escuta aqui:eu preciso de grana você tem e, então,você me dá a grana e eu saio.
__ Tudo bem, lhe darei 30 Contos, porem nunca mais dirija à sua palavra a mim.
__ Cinquenta Contos e nem saberei mais quem você é. Fumarei tanto pedra que vai fazer um buraco na minha memória e vou te esquecer.
__ Tô toma, Setenta pra você se mata logo. E vai, vaza daqui antes que eu me arrependa e chame a polícia, seu bandido.
__ Qual de nós as polícias prenderiam primeiro? - diz Luis enquanto vaza.
Nisto,Luis sai do posto. Ele finalmente conseguiu. Setenta e três reais no bolso, hoje a noite, segundo ele e para ele, será quente e longa. Meu Deus, por que será que os maldosos sempre conseguem realizar suas vontades? Por que é mais fácil conseguir a destruição do que não conseguir nada? Luis poderia ter ficado sem dinheiro e logo não conseguiria usar mais droga, bem talvez... mas, nem foi isso que aconteceu, ele achou muito mais, e de uma forma simples, e agora todos sabemos o que ele fará com o dinheiro.
Rapidamente, Luis já estava bem longe do posto, e agora ele estava indo rumo a uma boca de fumo. As bocas são as piores casas do mundo, só a perdição que é possível encontrar nelas, torna-as um antro da pior espécie. O templo do satanás, como gostam alguns. Mas devemos lembrar que as bocas existem porque há quem compra essas drogas e essas drogas são compradas porque é, em alguns casos, como já vimos, a única cousa que há para um garoto como o Luis, fazer.
Tão logo (é incrível como as pernas funcionam bem quando o corpo todo quer droga) Luis chegou na tal casa infame. Abriu o portão direto, entrou, bateu na porta e pediu 7 pedras de crack. O traficante abriu um olho...! Também pudera, várias vezes Luis foi lá com C$4,14(quatro conto e quatorze centavos de conto) e insistia para que o traficante fizesse uma pedra por 4 e umas moedinhas....Então, e agora, como esse garoto aparece e vai pegar tanta droga?
Logo o traficante volta com nove (ah é, muleque, duas de preza, cliente bom tem que ganhar um agradinho... - assim disse o traficante), e em um instante eufórico e alegre, Luis agradece à vida por ter tanta sorte. Sai da casa suspeita comum sorriso largo e abrangente. Afinal, era isso o que ele queria. Como estava feliz! Como era bom viver – assim ele pensava. Ah Luis, é uma pena que você ainda não saiba realmente os prazeres da vida.
Percorreu um belo pouco, mesmo com muita droga, as redondezas da bocada, atrás de um lugar e de uma lata. Passou de um bar, comprou uma lata de cerveja, foi até uma casa em construção, onde entrou e lá bebia mecanicamente a latinha de cerveja, uma vez que não era a cerveja que lhe interessava mas sim a lata. Interessava a lata vazia.
Pronto. Lata vazia.
A casa em construção em que Luis se escondia era bem silenciosa e escura. Luis sentia-se tranquilo por estar ali e percebeu que poderia ficar ali e “curtir” por toda a noite. Calmo? Luis ficaria a noite toda naquela casa em construção fumando pedra, como se pode chamar isso de calmaria? Luis novamente entraria num mundo tormentoso, rotineiro e sem graça;um mundo onde o importante é o uso contínuo, onde viciar-se é a certeza, onde seres degradam-se por mais uma pedra. Caso isso seja calmo Luis, não é essa calmaria que nós, humanos queremos...
Luis estava amassando a lata...para que ao contrário de cilíndrica ela obtivesse um formato de meia circunferência (com um lado reto).Assim, junto com o processo de furar a lata, por cinza e a droga, a lata vira um”moderno” cachimbo. O que iria acontecer é que a lata Luis iria usar para fumar crack! O processo é muito simples, amassa-se a lata, deixando uma superfície mais ou menos plana em um dos lados, nessa mesma superfície plana, faz-se furinhos, poe as cinzas, as drogas e pronto. É só se aniquilar...
E pronto, Luis começava a fumar.
O efeito é muito singular: um forte desejo por mais. Existe um pouco prazer, segundo Luis, no crack, acontece que esse prazer é muito curto e efêmero, daí a vontade de sempre usar mais, para buscar um prazer,um estado que não dura, assim, torna-se escravo de um prazer que não dura, não rende nada que presta... É uma droga terrível, pois o crack vicia-se na próxima dose, e sempre vem mais uma tragada. Crack é uma droga que pouco satisfaz, a satisfação dessa droga vem do fato de se ter mais droga para usar. É insatisfatória enquanto se usa, só sacia enquanto não acabou, acabou, pronto, nóia.
E ainda não acabou, Luis. Ainda você tem muita droga e olha que ele fuma incessantemente. Assim, várias vezes lhe faltou o ar e assim ele ia mais perdendo droga e desperdiçando do que usando e fazendo a cabeça. A gula. Passava mal, se afogava, dava ânsia de Vômito e por fim golfava... mesmo assim, Luis não sabia fazer outra coisa, ele só fumava pedra atrás de pedra. Compulsivamente. Obsessivamente. Contentando-se apenas que ainda tinha droga.
… Passadas umas cinco horas, Luis finalmente sai da casa em construção. Os dedos dele estavam cheios de bolhas causadas por queimaduras com o isqueiro. Luis estava com os olhos muito arregalados. Pela primeira vez, ele não queria mais droga,pelo contrário, sobrou um pouco, ele estava com fortes ânsias, muita dor de cabeça que ele nem conseguia forçar a vista, sem falar de um mal estar, uma aflição que lhe possuía todo o corpo. A casa dele era muito longe de onde ele estava. E ele nem conseguia caminhar direito, faltava-lhe o ar, não via direito... doía, enfim, quando ele respirava (credito isso aos pulmões dele estarem demais poluídos por crack), sua vista era uma mistura de imagens com vultos pretos: ele percebeu que estava muito mal.
Lembrou do dinheiro. Aquela “amigo”, tem um rabo preso com Luis, pois Luis foi testemunha de uma grande e terrível atrocidade que esse amigo fez. Por isso dinheiro veio rápido. Antes não tivesse vindo...
Morrendo e tropeçando em si mesmo, Luis caminhava rumo a casa dele. Pelo caminho teve que parar e sentar no caminho quatro vezes e vomitou outras duas vezes. Foi terrível!
A garganta estava seca. A cabeça doía. Os dedos queimados, com bolhas e amarelos... vermelhos, inchados. O gosto insuportável, ácido alcalino, inexplicável, gosto de crack n aboca de Luis. Tudo isso fez ele perceber em que estado o corpo dele se encontrava. Luis teve pena de si mesmo, acima de tudo, sentiu remorso por ter pedido o dinheiro.
Luis está preso em decadência. Ele não encontra saída para esse mundo atro e sub-humano, Luis dia a dia transformava-se num monstro que somente consumia crack! A pior das dietas. O alimento cáustico, aquele que corrompe até mesmo o mais sábio dos homens. Luis se alimentava daquilo que transforma o brilho dos homens em trevas opressivas...
Finalmente ele chega em casa. Logo deita na cama e a cabeça pesa mais do que nunca. Assim ele realizou o que queria. E assim foi feita a vontade dele.
Um.Onze : LUIS: APRESENTAÇÃO
Eu poderia falando com um tom romântico, alguma coisa a minha complicada vida, poderia duvidar e ousar, só por ser jovem. Mas como sou eu, o Luis, e adoro saltitar eufórico pelas ruas, vou começar de outro modo: eu cavalgo sobre as certezas dos cavalos da Lei, faço tudo sozinho, me altero e critico somente por ser Luis e viver em uma cidade pequena.
Existem vários tipos de garotos numa cidade. Uns namoram belas garotas e trabalham em refrigerados escritórios, outros estudam com seriedade e são bons filhos, também temos aqueles que comem, dormem e nada mais fazem, além de ver televisão, sem falar que também temos outros que usam drogas, vendem os corpos e vez ou outra entendem bem o lema dO introspectivo, baseado em uma canção do Belle And Sebastian "Agora nós somos fotogênicos e você sabe, nós não esperamos uma chance" ("Now, we're fotogenic / You know, we don't stand a chance" de Get Me Away From Here, I'm Dying). Mas ainda, mais fora de toda essa diversidade de hábitos, fora deste coletivo de hegemonias, existem garotos eu, garotos alheio a tudo isso, nós somos estranhos e difícil de estereotipar (dizem que somos noias, mas não é só isso, seria bom se fosse), e quando se mora em uma cidade pequena não é muito aconselhável ser um sem rótulo, ou com rótulo de noia. Sim, eu, Luis, sei bem como os olhares nos podem ferir, mas depois de um longo tempo com a solidão, você descobre forças e ânimos para novos duelos e então você luta; liga não se não faz sentido o que eu digo, tem vezes que fico assim mesmo, é o efeito, como dizem... E por fi, sai o resultado e alguns saem como vencedores e outros como perdedores dessa luta.
Eu ainda não alcancei esse estágio supremo e nem sei se um dia irei alcança-lo, mas sei que depois de olhares e solidões já é tempo de comemorar e compartilhar, por isso falo! Quero repartir e falo tentando triplicar as palavras, para que todos ouçam essas minhas experiências,não quero e nem espero palmas ou flores, selvagens que fossem, não, eu apenas espero que ouçam, analisem e concluam. Pois só falo pra quem é igual a mim, e não quem acha que o que eu tô falando, eu tô tirando, cai fora, aqui tudo mundo é igual, fazem a gente pensar que é menos do que os outros, por isso e por aquilo, mas na real, é todo mundo igual. Assim, eu falo para quem quer ouvir, ouviu minha letra, não trombou, cai fora, deixa minha área aqui, só quero falar com quem quer me ouvir. Afinal, já põe tantas fotos chocantes em maços de cigarros, é tanto absurdo que esse pessoal social faz, eu não posso dizer o que penso, levantar dúvidas, dizer o que vi pelas ruas...?
Eu sou um garoto de cidade pequena. Cresci ao lado dos tradicionalistas com grana, aprendi como agradá-los para ganhar uma lata de cerveja e faze-los rir para abençoarem quando eu passo. Mas como sou Luis, agora, ao contrário de ser como eles, resolvi experimentar e não saber o que é temer. Será que os tradicionalistas sabem que sempre os respeitei, mas que agora prefiro ver com meus próprios olhos e não quero ser mais do que eu mesmo?
Deveriam saber, deveriam considerar aqueles que são desprezados. Até que éramos infantis e obedientes, mas agora podemos caminhar sem muletas e olhar sem cabrestos. Despertem, semelhantes, que temiam e sofriam de repressão, agora já há condições para se ver além e se libertar de todas essas correntes infames; comemorem e fiquem chapados, pois a época de equívocos entrará em colapso.
Eu apresento-me.
Eu sou Luis. Fui uma criança que vivem idem (vocês pensam que não sei português, babacas) a todas as outras. Sou aquele que penso de forma diferente, singular e exótica. Eu quero o que todos acham pior. Sou eu, Luis, aquele que vaga pela noite, atrás de crack, que é decadente quando esforça-se para conseguir acender o cachimbo feito de latinha de refrigerante. um garoto que sabe bem que mesmo não havendo nada para se fazer em uma cidade pequena, eu vou me esforçar e conseguir fazer algo, é a história que sempre digo: talvez se houvesse um espaço legal para ir, no meu bairro, ao invés dos quatro traficantes, eu teria encontrado o prazer que há na cenografia, ao contrário do grande marginal que me fiz. No fim das contas, a nossa vida é apenas uma combinação de água terra, fogo e ar, brincadeira, no fim das contas, a nossa vida é uma combinação de nós mesmos como o lugar em que estamos, e com a hora em que estamos nesse lugar. Já ouvi dizer que chamam isso de focos de realidades, fotografias do nosso destino. Eu sou aquele que não aceitou as contradições impostas e deixou-se levar por tudo o quanto é diferente, sem temer ao experimentar. O problema é que as coisas que tive para experimentar, não eram extremamente de boa índole, mas que tentei, eu tentei, ora isso foi.
Eu poderia ter seguido o rumo dos meus condutores,poderia ser convencional e crível, mas, eu preferi um outro olhar das coisas, eu preferi ver o que era ignorado. Em resumo, eu não aceitei o que me davam e fui atrás de outras coisas, eu poderia ter encontrado um belo livro filosófico, mas no meu bairro só tinha drogas químicas na esquina, as festas e eu por perto de tudo isso, com um forte desejo por tudo isso, que para mim era novidade.
Mas quer saber? Deixa os manos viciado em paz, eles estão certo, pois essa sociedade que vocês oferecem não tem espaço para eles, eles não se dissimulam, nem aparentar ser o que não são, técnicos que passam de bonzinhos nas repartições federais, são os tiranos em casa, praticando violência doméstica e pousando em tudo o que é foto de coluna social e sites de gente. Deixa os maluco fritar o cérebro, esse é o jeito que eles acharam para encarar essa sociedade insana e corrupta em valores e comportamentos, pois até mesmo o pastor da igreja que fica falando mal da pedra, sempre depois das duas da manhã, eu vejo o carro dele parando na porta da boca.
Esse sou eu, eu poderia estar lançando o fagulho de um refletir sobre a carência de diversão intelectualizada na influência vital de uma pessoa, mas não tenho nenhum talento para pensar e acho que as drogas também está aí,porque o zé povinho e tudo de barca, todos gostam mas dizem que não, porque todos querem tirar o seu da reta e que os favelados que se danam,não é assim... por isso que não tem nem aí, não quero propor nada, e não se esqueçam: eu não sou um pensador, souum marginal.
Pra mim, tô nem ligando se a solução para a violência é a desarticulação e a desestimulação do crime, tô nem vendo, através de expansão de locais de propostas culturais educativas, quero nem saber. Não importa se os manos querem sair dessa vida, tudo mundo diz que não há saída para esse labirinto mesmo (de Consciência Ex Atual, "Esteja Em Paz"), sei que tá tudo um regaço, então não vou mandar tirar o moleque do vício, porque vamos dar uma mesma pornocracia de sociedade para ele, só vai mudar o modo como ele vai ser ferrado.
Dois.Um : PARTE II
1
Luis parece ser outro ser. Ele está mais equilibrado e menos bizarro. Mas ele continua sendo Luis e prossegue com suas chapações. Bem, ele saiu de sua casa em Matão e agora vive no último bairro da zona oeste da cidade de Cajulândia, adjacente à Matão... ele continua insensível e inescrupulosos, porém, agora ele está aprontando menos, ele parou (ou tenta parar) de usar drogas químicas...
Agora, num sábado à tarde, ele está num pastoque tem perto da nova casa dele. Ele está sentando embaixo de uma laranjeira, bebendo pinga numa garrafa de 600 ml e fumando um cigarro vagabundo. Ele está pensando sobre continuar ou não morrando com João (O introspectivo); de alguma forma os dois não combinam e Luis só mora alí, com ele, por falta de opção: Luis não quer mais ver pai e mãe brigando, ou irmãos de quatorze anos que chegam bêbados e Vomitados, ou até mesmo a influência de "amigos" tão sacanas por perto, e por tudo isso, ele preferiu sair daquela sua região, daquela cidade e como O introspectivo tinha essa casa e ia se mudar, Luis mudou com ele. Afinal, Luis sabia que o cenário ajuda a contar a sua história. Ao menos João (O introspectivo) é boa gente e intelectualizado. Luis sabe que ele se daria bem se lidasse com atividades mentais; mas ele não tem muita paciência para aprender; por exemplo, O introspectivo possui muitos livros, muitos gêneros, possui ainda uma vasta coleção de cds e sempre está disponível para falar de questões cabeça... O problema está em Luis. Ele está cansado da vida que teve e tem, os atos dele já o enfastiaram e ele precisa de algo mais. Talvez um bom trabalho, mas qual e onde, como?
Luis tem dúvidas sobre seus gostos e aptidões; mas o mato o acalenta, e acalentado respira fundo e começa a enrolar um cigarro de papel. Enquanto pensa que gostaria mesmo de se envolver em um grande projeto de construção de um novíssimo trator... mas se dá conta que esse caminho seria muito longo. Quantos cursosnão teria ele que fazer? Mas, ele poderia começar de outro ponto, poderia aprender na própria industria, o processo de construção de um trator. Passando vários anos em cada setor e desvendando os mistérios até finalmente conseguir o que quer... Mas isso é impossível: deu-se conta. "Não é mais possível entrar como aprendiz, peão, em uma empresa e ir crescendo até chegar emum cargo de chefia, a sustentabilidade não necessita justamente dos melhores recursos e aproveitamento desses recursos e não a improvisação?
_ Não é mais possível entrar como aprendiz numa empresa e ir crescendo até chegar a um cargo de chefia - disse Luis enquanto desenchavava o fumo - não existe mais essa possibilidade, eu nunca conseguiria desse modo. Acho que tudo isso é uma grande loucura.
Assim, só pensava que tudo aquilo era muito desnecessário e sem importância. Viu-se fechado por todos os lados e desistiu. E como isso é comum: não tem mais saída, acabou.
Ele risca o fósforo e acende o trabuco. Enquanto a fumaça rebelde se dissipa logo após de ter sido liberada pela boca de Luis. Ele respira fundo e se satisfaz só por existir e poder fumar. Era um momento de contemplação, com nossa condição tão limitada perante todo o resto. Mesmo com milhares de outras questões em sua vida, Luis se dava ao luxo e sorria simplesmente por puxar e soltar a fumaça. Ele repara ao seu redor, e vê que quase sentou em cima de uma trilha de formigas saúvas. Ele pega a garrafa e levanta-se, enquanto o fumo aceso está na boca.
Ele veste calça jeans e uma bota, uma camisa de botão e tem um boné preto.
Ele anda por perto, com seus passos lentos e despreocupados. Finalmente joga a ponta ao chão. Já estava bem distante de seu antigo lugar onde estivera sentado. Agora, Luis havia escolhido uma pequena inclinação perto de uma frondosa árvore centenária; o novo lugar escolhido para sentar era muito mais tranquilo e sombrio.
Deveriam ser cinco da tarde e ainda havia bastante pinga na garrafa, Luis deu um gole, no começo, achou esse gole fraco, com um certo gosto de água na boca. Mas depois da pinga descer goela abaixo, ele mudou de ideia e a considerou forte, queimante como que flamejando os tecidos de pele interna, e por fim, quando a pinga chega ao estômago, ele tosse e depois sorri, numa gargalhada que espirrou gotículas de saliva alcoólica.
Ele estava cansado de ficar ali naquele laranjal deserto e abafado, mas o que mais ele poderia fazer da vida? Não queria voltar para casa pois lá estava João (O introspectivo); não poderia ir a um bar pois o dinheiro que tinha, comprou a pinga e o fumo, o cigarro ele já tinha. O que ele poderia fazer? O que foi que ele fez? O que ele fez: foi pro mato beber e fumar. Sozinho, em uma tarde de sábado. Apesar que ultimamente,os sábados à tarde tornaram-se meros dias que ocorrem entre muitos outros dias da semana ou do ano: o que vale na modernidade é o tempo que se gasta em festas - assim dizem Os Atuais, que se baseiam apenas em suas próprias vidas.
Luis estava farto de toda aquela frescura que só venta e nunca traz mudança alguma: ele havia renegado toda e qualquer forma de sociedade dita como boa: seja ela tradicional, sofisticada, conceitual, hype, dub, o que fosse; ele decidiu ser por si só, era ele e nada mais. Ira vejam! Decidiu-se por ser uma pessoa reclusa que se fecha em suas próprias críticas - quando ia ao centro e via que lindos casarões antigos estavam sendo derrubados para construir galerias, lojas, casas de vidro,aquelas caçambas atrapalhando os pedestres, o consumo de mais e mais carros e ninguém exigindo transportes públicos de qualidade, tudo isso revoltava Luis - e o que sobrava a ele era isso, beber só no mato,para tentar esquecer em qual sociedade ele vivia. Isso tudo o fazia enfurecer.
Bem, ele se zangava facilmente e vez ou outra ele tinha razão. Uma razão que se baseava em valores como tranquilidade, equilíbrio, leveza e cumplicidade de ideais. Ele estava se trancando por não ter companhia e se consola com suas possibilidades mais simplórias:uma bela frase, um bom raciocínio, um belo cheiro e um grande prazer,sempre; Eu já disse antes, mas aqui o antes vem depois, Luis era raso e acho que continua sendo. Mas, será que ele faz mal, se faz, faz a mais alguém que não seja ele mesmo? A pessoa que ele mais pode machucar é a si mesmo, e isso, um dia, ou uma noite, ele vai aprender. Veremos... ele está em um caminho, falta saber se falará mais alto o orgulho ou a humildade e em quais tons.
Ele continua sentado, no laranjal, pensando sobre coisas possíveis e, ao mesmo tempo distantes e quase que inalcançáveis. Luis também aprenderá que quase não é, quase é apenas quase.
O sol descia que Luiz nem via, e ele muito bebia e sorria. Pensava no acaso, na soma de fatores que forma o destino, ou no mero redemoinho do nascer no que nos joga em uma realidade, boa ou má, pobre ou miserável, em uma família que terá que viver e que bom quando não te mandam pra adoção. Em qual família poderia nascer senão a tua? Talvez em uma pior. Luis pensava em até que ponto o destino de ser filho ou não de outra pessoa pode ou não mudar a sua vida - "preciso andar com uma garota com muito dinheiro e fértil que gere um filho meu" - pensava Luis bêbado. E continuava:
_ Não - começou um discurso solitário - , não. Não basta ser RICA. Tem que ser doída e gostar de aprontar, e também cheirar a sangue... tem que ter personalidade... é isso tem...porém, se assim for, o que me garante que ela deixe eu ter a custódia do menino e pagará a pensão...?...ih...seria mais fácil se eu fosse garota. Devo estar bêbado, falando sozinho...
E estava e cada vez ficava mais; a bebida nessa tarde quente e abafada de verão, havia se-lhe tornado a única companhia,o único amigo, o escape, e o desabafo, e sabemos como respingamos em nossas únicas companhias e elas em nós, estava muito bêbado - como sempre já era nas noites, nas madrugadas de tropeços e sinas (sinais?).
Havia, agora, se frustado com seu último pensamento, acreditava que estava inapto ao conciso pensamento e concluiu: "Estou fora de uma realidade consensual e já, ao sol pondo, nesse lindo dia, encontro-me em outro mundo, eu que eu crio e só eu entendo" . Por esses dias aprendeu palavras e ideias novas, agora acendia um cigarro e via como tudo ia se escurecendo.
Lembrou de um poema, ora vejam, que O introspectivo havia lido á ele, A Máquina do Mundo,de Drummond. Nesse instante associou: Nunca mais voltarei á casa dele. Um estranho sentimento de arrogância, com certeza e silogismo adentrava-lhe alma à cabeça. Seu corpo sabia que ia caminhar. Nessa chapação absurda Luis acabou por se decidir ganhar a estrada: perto dele havia uma rodovia e ele tornaria e seguiria até outra cidade. Dizia:
_ Eis me nesse início de sábado à noite, a percorrer estradas e chegar em outros ares.
Olhou para outro lugar dentro de si - a mudança tênue do dia para a noite - e viu, que já, caso houvesse, uma hora para partir, essa hora seria agora.
Levantou-se e falou:
_ A treva mais estrita já pousara
sobre a estrada de Minas, pedregosa,
e a Máquina do Mundo, repelida,
se foi miudamente recompondo,
enquanto eu, avaliando oq ue perdera,
seguia vagaroso, de mãos pensas.
- Drummond, A Máquina do Mundo.
Depois, ficou um instante em silêncio, bebeu da garrafa de vidro de pinga e se riu, mais internamente do que externa: os olhos não são a janela pr'alma, é a Alma - nos vemos intimamente nos olhos!; O introspectivo dizia que isso era ser íntimo, não as outras partes do corpo mas o olhar de olho a olho, isso era íntimo. E acalentou-se enquanto deixava o mato e ganhava o asfalto automobilístico. De certo, nem ele sabia porque diabos! estava ele a fazer tal coisa ilógica, talvez o álcool, ou o fumo, ou o sol, ou a vida mesmo, o deixaram demais atormentado, atordoado, abafado e agora, queria mais, talvez...mais ar. Goethe alcançou a LUZ, Luis ia atrás de melhores condições respiratórias, climatológicas: nem isso era; Ele não conseguiria mais, a tal ponto da (in)compreensão, ficar ali ele tinha que sair dali e ir a outros lugares, longe distante, desconhecido e novo, novo ao menos em suas lembranças, ele queria novos ares para esquecer aquele.
No canto esquerdo da rodovia sentido interior/capital, contornando o mato, com desastrosas entradas do pé direito no asfalto, Luis seguia um ritmo cadenciado e com clara demonstração de chapação, mas seguia firme: a firmeza que ele mesmo não tinha na Alma, ele a afirmava e dela provava e mais queria, viciando-se numa coisa que ele talvez nem tia, mas mesmo assim ele a sente, a usa e a transforma no que quer: pretexto de bêbado que se justifica, mesmo depois de caído e morto.
Firme e certo, mesmo bêbado, mesmo sem grana, com fome e cansado, ele seguia o que considerava o seu caminho,mesmo sem consciência dessa resolução. Ele acreditou que andar milhas a fundo o salvaria. De quê? Dele mesmo, de tudo. o maior mal que ele pode fazer é a si mesmo: e dele mesmo, ele fugia, depois de ter se visto, frente a frente, de algum modo - sem máscaras - como ele mesmo: um meio sóbrio, um bêbado, um sóbrio, um meio bêbado.
II
E lá estava ele, no breu, em pleno escuro, com álcool e sem rumo. Se alguém, de automóvel, claro, passasse certamente pensaria:
_ Olha que garoto mais parasitário e sem futuro - assim certamente pensaria uma família que viajava de uma cidade à outra, para levar as crianças pra ver os avôs.
Não havia sequer um único poste de luz para iluminar a alta estrada. Tudo era pardo, num grande escuro que devorava Luis, no mais forte negrume que os olhos podem ver enquanto abertos. Isso quando carros não irrompiam à escuridão com seus faróis de milhas quase a deixar os olhos de Luis cegos. Era muito assim: o escuro empenetrante era irrompido pelas luzes focalizadas. Tudo isso causa mal estar, a tontura, o medo e a vontade de fugir, se Luis fosse outro, talvez desse nele vontade de se atirar embaixo dos automóveis. Medo. E o medo de algum louco bêbado, perder o controle do carro e bater na fuça ébria de Luis... Pois é.
Cada carro que passava fazia ele estremecer e adentrar diretamente com os dois corpos no mato. Esses matos rasteiros que compenetram nossas rodovias.
Estava muito escuro essa hora, mas parece que Luis chegou a cair no mato quando, ao pensar que pisaria em solo firme, pisou em um buraco, encoberto pelo mato. Como Luis, assim como todos os Noctâmbulos, é guerreiro, ele cai, mas levanta rápido.
Entretanto, a um certo ponto da caminhada nos pareceu que psiquicamente, Luis estava esgotado. A tal ponto da caminhada, o simples ruído de motor que ele meio que percebia que vinha um veículo, já o fazia, além de adentrar no mato, no lado mais escuro da rodovia, nas sombras, ele também a certo ponto, começou a tapar os ouvidos com os braços, enquanto os antebraços cruzam-se-lhe a cabeça, onde gritou:
_ Eiha! Por quê? Essa luz me fere... ?
Ele pára e percebe ao perceber que estava derramando pinga nas suas costas. Ele se recompõe e percebe que não está nada certo. Percebe que nem só o crack o deixa louco, que nem só a loucura das madrugadas de fumadas é o que pira a mente. O sol e a pinga certamente o haviam feito muito mal, mas será que a alguém não faz? O treminhão havia passado e o escuro prosseguiu.
Muitas vezes, pensava em voltar, a todo instante... Mas não queria mais voltar alí, uma vez que morar com O introspectivo era bom, mas era o lugar dele, do próprio introspectivo e lá não era o lugar dele, Luis. O fato é que Luis se sentia mais a vontade na casa do Val, em Cajulândia, cidade dO introspectivo, Luis não se sentia em casa, Mas em Matão sim... ou em Capinga, a cidade do Menino Lobo, um maluco que conheceu em suas andanças sem rumo. Assim, não podia mais voltar para a sua casa, com as brigas insuportáveis entre o pai e a mãe dele, coisa feia que só os dois apreciam. Não queria mais morar com O introspectivo, com o Val haviam brigado por questões pessoais. O melhor opção era procurar o Menino Lobo, algo o chamava para Capinga e por fim, pensou, "Na certa, ninguém deu-se conta que não estou mais em Cajulâdia e nem fazem questão de sentir a minha falta.
Tentou dar um longuíssimo gole na branquinha, mas como a garrafa já estava zerada não conseguiu dar nada além de uma bicada. Um gole raso. Bateu-lhe uma tristeza. Mas essa tristeza pendurou por pouco tempo; uma vez que outro farol vinha a irromper o escuro, e sem o álcool criou coragem e disse:
_ Vou olhar de frente para o carro.
Nisso, sem fugir da luz, ele viu que havia uma espécie de altar à beira da estrada e nesse altarzinho, também tinha um corotinho de pinga, essas embalagens de plástico transparente, e Luis simplesmente esperou o automóvel passar para pegar o corote, lacrado,e fechadinho, Luis disse:
_ Um corote de pinga, minha dor de cabeça até passa. O que há de errado em beber desse corote? Nada, não para mim, pessoas mais numerosas e quantitativas podem achar que beber um corote desses, desses de entrega, fazem mal ou até mesmo deixam a pessoa louca ou morta entretanto Luis sabe que isso não é bem assim que funciona, exceto para aqueles que o problema não for o espírito mas sim a carne (poucos e raros, raríssimos, gente de multi-talentos, multi-facetas, habilidades antagônicas, aparentemente não ornáveis que alguns poucos e raros, raríssimos, gente que infelizmente não vemos por aí todo o dia e nem fazem parte de temas de exposição, possuem e normalmente presenteiam o mundo com suas obras, isso quando aceitos socialmente...), para a maior parte das pessoas que o problema, ou melhor a fraqueza está na parte espiritual, são carnalmente resolvidos, mas espiritualmente "reservados".
Não sei vocês, mas eu jamais beberia daquele corote, não foi intentado a mim, não é pra mim que ofertaram aquele corote, independente da opinião de Luis, que já creio não ser dele, deve sim ser da bebida, ou de alguma entidade, mas dele, acho difícil, até mesmo pelas palavras, mas a essa hora da noite, já não duvido de mais nada. Alias, sei sim, sei que daquele corote ele ou esse ser que estava nele naquela hora não deveria beber daquele corote, mas parece que Luis não queria nem saber, porque ele estava tentando abrir o corote que estava lacrado ainda, mas não estava conseguindo, é exatamente nesse momento que um carro vindo da direção de cajulândia aproxima e alguém grita:
_ Luis? É você?
_ É.
O carro pára e desce O introspectivo que vai próximo a Luis, uma vez que percebe que não havia carro algum por perto exceto o que ele tinha vindo até aí. O introspectivo, aproximando e dizendo a Luis:
_ O que você faz aqui? Vamos pra cidade...
_ Eu vim beber mais, olha o que achei...
_ tem bebida no carro. Deixa essa bebida aí.
_ Eu não conseguia abrir mesmo.
E foram pro carro, onde o Introspectivo ai perguntando o que Luis estava fazendo alí, que era perigoso andar na pista a qualquer hora, ainda mais à noite, etc. Luis, enquanto voltava pelo caminho que tinha feito, assim dizia, já ébrio e bebendo mais, claro... o corotinho tinha ficado lá, ainda lacrado:
_ Eu cheguei a parar no meio do caminho e pensei em voltar ou prosseguir, na verdade ainda não sei se quero voltar, eu queria andar de cidade em cidade, atras do por do sol, bebendo e fumando,to injuriado, cansado, nojento e queria ir embora de sua casa, lá é seu espaço, você me entende mano, sinceramente, obrigado por ter aberto a porta de sua casa pra eu aí, mas sabe, eu sou um peso, como você diz, O introspectivo, o entusiasmo de beber é maior do que o corote da pinga... e eu no sol, no mato...agora com vocês dois estão confuso e sem graça, não queria ir com vocês, vocês vão fumar, vão beber e andar de carro, mas eu tava cansado e com fome e tudo isso está tirando minha brisa. Vocês não vão roubar minha loucura com essas suas porcariada químicas não... eu tô com sono. mas quis sentir o gosto de passear pelo escuro e ia beber aquela pinga lá, se vocês tão tivessem chegado... quem é esse cara? oia, tá tão pego que nem fala, deu aquela fumada de travar o queixo?
Ninguém respondia nada e continuava a falar Luis asneiras de bêbados que a partir desse ponto se tornaram ininteligíveis e não davam para entender porque ele já arrastava muito a voz ao dizer essas coisas...
O carro ia mais rápido e quando Luis deu uma brecha, O introspectivo assim disse:
_ de dostoiévsky:
"Todos vós estais perdoados, já vos perdoei uma vez!"
III
_ Eu sempre soube que era alguém especial. Mesmo quando meu pai me obrigava a fazer a vontade e dele e fazia com que eu deixasse as minhas coisas de lado. Sempre soube que poderia chegar onde quisesse. Acontece, que eu só quero chegar com uma nota alta na casa do traficante, gastar tudo com química e de preferência, ter mais umas nota pro goró, agora, se tiver um funk pancadão, ou um rap de responsa, pode deixar rolar também. Que O introspectivo não me ouça falar assim, ele insiste tanto para eu ouvir o Belle And Sebastian, o Ez Rollers, a Clara Nunes e o Benito de Paula, se ele estiver por aqui ele não pode me ouvir falando assim...
_ Não, ele não está por aqui, estamos só nós aqui e agora, não se lembra? O Seu amigo foi embora, quem quando você começou a cantar aquele funk, lembra o bonde das decaídas, era isso, que base era aquela que você se referia, que fez O introspectivo corar e suar frio?
Estava então, Luis e seu amigo novo, Circassiano, em meio ao mato em uma noite da grande lua, O introspectivo já havia explicado há quase um mês que essa data viria, entretanto, não deram a mínima, mas quando cai na mídia, e agora,até aquele garoto novo, parece que o Circassiano, é muito popular nas redes sociais, apesar que Luis não tem perfil em lugar algum... e O introspectivo até tem, mas como não é muito feliz com suas postagens, ele acaba por nem escrever ou postar nada... quando não um boa noite, que um ou dois aprovam. Estavam a olhar as estrelas, os três, claro, fumaram alguma coisa, beberam umas sete garrafas e depois da performance desastrosa, agora a pouco, por um pouco não a pegamos, depois disso O introspectivo saiu em meio ao mato e só ficaram esses dois aí.
_ Não, sei - Disse Luis - não sei de nada, me deixa! Nada disso mais importa ou Circuano...
_ É Circassiano,
_ Que seja, mano. O que importa é que eu vou fumar outro. Tem mais daquele aí?
_ Tem.
_ Dá aqui então.
E subitamente, veio um silêncio profundo onde estavam, beirando a velha mata, da antiga estrada que ligava Cajulândia a Capinga, antiga e abandonada, ninguém mais a usa, é muito estreita e tem mato muito alto, bichos... as poucas chácaras e os dois sítios dessa imensa área estão muito afastados de onde chegou o progresso e o cultivo não é promissor nessas terras, o gado ia bem por aí, mas sabe como é interior. Alguns aminais começaram a morrer, definhados, com estranhas marcas no corpo e logo,claro, atribuíram isso ao chupa-cabras, podem crer... Eu acredito que tenha sido alguma virose (ou outra doença infecto contagiosa) que acabou se proliferando pelos campos de gado, o fato é que os animais cultivados por aí ficam muito mirrados e parecem que não se desenvolvem muito bem, além é claro de desenvolverem chagas e doenças.
Luis desconhece tudo isso. Circassiano, sabe de todas essas histórias e de muitas outras, dessas e de outras bandas isoladas do mundo.
O fato é que tudo ficou quieto, Luis, claro, preparava para fumar enquanto Circassiano, parecia estar ansioso, esperando que alguma coisa acontecesse a qualquer momento, que um raio partisse ao meio a cabeça de Luis, era essa a feição que trazia, Circassiano em seu semblante.
_ Fuma, aí?
Luis passava o cigarro de maconha para o seu novo comparsa, que dava um leve trago e já devolvia. Luis, claro, fumava com gosto, como sempre e perguntava:
_ Não tem uma dura aí não?
_ Não, só do verde e birita.
Estavam tomando cerveja com pinga, mas parece que tinha um corote de rabo de galo por aí também, Luis claro, não vi, mas ele deveria ter uma pedra nos bolsos,estava muito acelerado e parecia que tinha que fazer um esforço sobre-humano para não sair correndo ao contrário de ter enrolado calmamente o baseado.
_ Vou tomar mais dessa pinga. Mas e aí, cê não fuma não, ta de passeio?
_ Eu já estou louco, e preocupado com seu amigo...
_ Ué, Por quê? Foi ele que quis ir, não lembra, não, tô, fuma aí, véio.
_ Por quê? Você não sabe mesmo? Pensei que fosse um pouco mais esperto, na certa não sabe quem é o grande senhor dessa região profunda e profana.
_ É bom você não fumar nem beber mais nada, mano, cê já tá mais loco do que eu, veio. Cê tem ácido aí, é isso, não é mesmo?
_ Claro que não, falo da grande fome, da grande doença e do grande desprezo que existe por essa área, esses três são um só e...
Quando Circassiano iria prosseguir com seu discurso sobre a maldita coisa que (parece, supostamente) vive por aí, se bem que eu não tenho muita certeza se gostaria de continuar a ouvi-lo... mas quando eu iria dizer, um vento muito forte soprou, sabe quando dá aquela mudança brusca de tempo indicando que um dilúvio vem pela frente? Imediatamente subsequente a essa variação atmosférica, digamos assim, um bizarro e infame grito foi ouvido, em uma linguagem não conhecia, com uma voz agonizante e pavorosa, vinda da mata medonha que parecia ter ficado mais horripilante ainda quando a enorme e linda lua, subitamente viu-se encoberta por nuvens carregadas com raios e gelo. O vento sopra mais forte ainda os gritos aumentam e então algo move-se no mato, perto de Circassiano, que apavorado grita:
_ Não, Mestre, a mim não, é a ele que o senhor deseja...
enquanto disso isto corre no meio do começo da mata fechada e agora bem densa e escura, e o barulho aumenta, de vento e chuva que vem percorrendo a mata e o grito, bem próximo de Circassiano, que corre e corre, tentando fugir, mas infelizmente, Circassiano, enroscou na raiz de uma arvore e caiu, batendo a cabeça em uma enorme rocha que existe desde sempre neste lugar, bastante famosa na cidade, dizem que nessa rocha aconteciam antigos sacrifícios dos indígenas pré colombianos. Deve ter morrido na hora. Foi uma terrível fatalidade. Algo que, graças, estava escuro e não transformou a cena em algo pior ainda de ser visto. Luis mesmo não sabia o que tinha acontecido, ele só viu que tinha algo estranho.
1º com o lugar, que coisa é essa de tempestade e agora, como assim, Luis gostava tanto de fumar no mato, agora como fumar no mato com chuva grossa? Luis imediatamente pensou em sua caixa de fósforo,que logo estaria ensopada e do maço de cigarro que tinha, claro, mas dizia aos outros que não tinha, que logo seria suco de cigarro...
2º há algo estranho com esse Circense, ora vamos, Circassiano, como corre de algo assim, dizendo essas coisas, que coisas eram estas mesmos. imediatamente lembrou de seu mestre, na verdade não sabia se servia a Deus ou ao diabo, mas acabou acreditando que o capeta o deveria requerer quando partisse.
3º O barulho horripilante de voz humana, misturado com vento é muito estranho, e Luis tive a nítida impressão que a voz que dizia "Huahahuah, Vou... pegar..." deu uma leve risadinha quando o Circassiano saiu correndo e por fim, acabou por cair...
Subitamente, o barulho que se assemelha a alguma coisa humana ou não, para mas a água da chuva começa a cair e novo som se forma, o cheiro da terra se molhando é misturado com um cheio de ferro e de ferrugem quem vem quando o mornaço começa a subir. Luis diz:
_ Quem tá aí? Circano, você tá legal aí...
E Luis vai próximo de Circassiano que está imóvel, claro. A voz prossegue, e diz "não se aproxime, enquanto vou me alimentar de seu amigo, ou melhor seu namorado"... que isso?
Luis pensava o que é isso, aos e aproximar de Circassiano e ver "sangue?" E pensava O Que isso, enquanto ouvia dizer namorado, era isso mesmo,estava ouvindo certo, e aquela voz... Luis conhecia bem aquela voz. Em um ímpeto ferrenho, Luis deu saiu em disparada e pegou O introspectivo em meio ao mato, com uns bambus nas mãos que usava para mexer outras arvores e ele tinha amarrado uma folha de bananeira na boca par tentar alter sua voz, Luis reparou que o celular dele tocava uma estranha trilha de fundo... O introspectivo, gritou:
_ para , Luis, para para, sou eu, era só uma brincadeira...
_ Agora mesmo que devo bater em você, pior ainda,olha isso. Luis esfrega a mão que ele tinha passado na poça de sangue que se formava perto de Circassiano, na cara do Introspectivo. Tá vendo oque você fez... ele deve estar morto.
_ Eu fiz? Você sabe Luis que tem coisas que digo a você por confiar na nossa amizade mas não é pra falar na frente dos outros, ainda mais desse cara ai que conhecemos hoje.
_ Conhecemos..., disse bem, não existe mais ele.
Os dois foram perto dele, O introspectivo,com dificuldade na chuva, tentou ver se Circassiano estava respirando e pediu ao Luis:
_ Luis,faz casinha pro Circassiano como se ele fosse fumar uma dura, eu preciso ver se ele respira...
Depois de um certo tempo veio a confirmação - sem sinal vital.
_ Ele se foi...
_ Então é bom a gente ir embora também, eu estou me molhando todo a chuva mal começou, olha como que tá pra lá, a tempestade... vamos embora logo.
_ Mas e esse corpo? Não podemos deixar ele aqui. Ele é um alguém com família,precisamos avisar alguém, fazer alguma coisa, não podemos ir e deixar ele aqui, olha o que aconteceu;
Imediatamente, Luis lembrou de seu primeiro assassinato, ele matou uma vez, matou uma menina, uma antiga Namorada, a Carla. Lembrou que ainda não pagou por esse crime, na época a polícia o associou ao crime, mas um forte álibi dele acabou o livrando do crime e mais, muito mais, mas agora não é hora dessa história, ainda. O que posso dizer é que Luis lembrou das histórias que dizem sobre a cadeira, que lá o bicho te acompanha pelas costas, que a maldade corre solta e que psicóticos convivem com você em sua cela. O que pode acontecer com quem mata a namorada? Luis não queria saber, ainda mais dentro da cadeia e não falou dessa história para ninguém não que eu saiba, bem exceto se alguém tivesse contado algum segredo desse tipo antes para ele. O fato é que: Ele matou e por isso queria sair dali, queria fugir daquela sensação que sentiu uma vez, e apesar de nãos ser ele o assassino desta vez, sentia como se fosse e não queria sentir aquilo, parece que não mais. Enquanto isso...
Enquanto isso O introspectivo falava sobre a dignidade que deveria ser praticada, que não podiam simplesmente ir embora, algo deveria ser imediatamente feito. Enquanto isso,
Enquanto isso,quase que subitamente, os dois observam aquilo.
Era um ser meio translúcido, desfigurado, uma mistura de homem e bicho, mais bicho do que homem, estranho, com uma aparẽncia nada amistosa e que saia da mata e vinha em direção ao corpo de Circassiano. Acompanhado de uma névoa fria e espessa que parecia que contaminava o solo que tocava, deixando tudo com um limbo branco.
A reação dos dois foi a mais natural possível, correr, claro, pegaram o carro do Circassiano e foram embora,enquanto do retrovisor se via que o ser se alimentava do infeliz morto enquanto a criatura observava os dois irem embora no carro.
dentro do automóvel, pavor e silêncio. A chuva apertava, e na mente deles vinham flash daquela cena terrível... em determinado ponto eles pararam. A chuva tinha alagado a ponte e não poderiam chegar a cidade. O introspectivo comunicou ao Luis que havia uma propriedade abandonada ali perto e que ele iria passar a noite por lá. Guiou e disse que deixaria o carro ir no rio, para que se o ser viesse atrás deles, pensasse que caíram na água. Luis ainda deu uma tragada de seu bagulho no automóvel e depois ajudou o amigo a empurrar o carro no rio e logo em seguida correram para a chácara que O introspectivo conhecia. Parece que era da propriedade da família Mattos.
Foram parar lá morrendo de medo, enfrentaram a noite acordado, bebendo as bebidas e fumando alguma coisa. Fazendo silêncio para ouvir se alguém ou alguma coisa se aproximava, nem tossindo, nem falando alto, nem sequer cantando funk algum que fosse, e por lá ficaram, em meio a aranhas, ratos e cobras.
E quando o sol apontou, logo depois de uma hora de dia, e quando, por um breve momento a chuva passou, conseguiram ir embora e atravessaram pelo caminho da ponte alagada, por uma árvore que tombou e permitiu seguir em frente, não se antes observarem que em cima do carro em que estavam, tinham grandes e terríveis marcas, como se alguma coisa tivesse verificado o que tinha acontecido com o carro...
Foram embora a pé, e demoraram umas outras quatro horas andando, ou mais, se bem que portavam as garrafas de bebida e já estavam tão loucos e apavorados que vigiavam-se a si mesmos, com medo até mesmos de seus próprios pensamentos e das consequência de seus atos impensados... Andar era um tormento, cada passo um medo, dizer alguma coisa era totalmente improvável, uma vez que não sabiam do que se tratava e pelo que deu para entender, o único que poderia dizer que coisa era aquela, acabou sendo devorado por ela... ela a decifrou e foi devorado por ela ao mesmo tempo.
3.0 O FIM DO CONTO DO NOCTÂMBULO.
Os últimos Arrepios de Luis nesta
Página da Web
Jô Soares diz
que não se deve começar a mostrar um livro ao público sem antes concluí-lo,
Luis é praticamente, mais uma, uma antítese a isto. Meu melhor amigo, dos anos
90, viu uma das primeiras histórias de Luis e fez um respeitoso silêncio
eloquente ao terminar de ler, um conto de duas folhas de sulfites
datilografadas, em pouco mais de dez minutos, de pura tensão e sombras
soturnas, penso; mas sim, está se acabando os arrepios e as tensões que Luis causam em nós, ao menos
nesta página na web, e eu como narrador, agora, devo me esforçar para rememorar
os pontos mais marcantes desta história para poder, por fim, concluir e dar
clareza as escuridões da vida dele, se bem que, ao se tratar dele, dar fim as
escuridões significa, praticamente, nascer novamente, quiçá, em outra terra ou
galáxia.
Quando Luis perdeu a
cabeça com a Carla que não confessou com todas as letras, em berros e choros, implorando
perdão; mas não, ela não fez nada disso, só disse “Ai que frio” e queria
prosseguir cinicamente em mais uma noite chuvosa e fria (de maio) com as
gozadas e tesões da branda idade de Luis, na época; quando foi que Luis,
simplesmente, se rebelou, tal qual se rebelou Lúcifer quanto ao Pai, e assim
resolveu matá-la e deixar que o cinismo e a falsidade dela nunca mais
enganassem ninguém; “Ninguém mais vai
sofrer por ela, como eu sofri” era um pensamento muito comum dele, naquela
maldita noite de domingo na cidade de Matão, na época em que ele ainda pegava o
ônibus das onze horas para chegar em casa a meia-noite.
Ele aplicou um
“migue”, uma álibi para dizer que ele não tinha nada a ver com o assassinato de
Carla, pensou em dizer que ela era uma biscate, uma garota que cedia facilmente
suas partes sexuais aos caras que elas quisessem, mas achou isso um tanto
quanto inapropriado e por fim, os investigadores só fizeram perguntas
superficiais ao Luis, porque a própria mãe disse que a Carla era apenas amiga,
e não namorada de Luis, como eles se achavam que eram, enfim. A família da
menina colocou mesmo a culpa na violência do bairro na época, e um ou outro
noia, porque Luis ainda não conhecia o significado de noia naquela época,
acabou por “pagar indiretamente”, segundo a justiçada polícia e dos moradores
por mais aquele brutal crime de jovem linda que é morta por supostos
estupradores...
Seu álibi foi se
envolver com a comunidade homossexual da cidade e começar a se interessar por
toda a co-cultura gay. O pior é que
foi exatamente isto que aconteceu com ele, confesso que algumas situações
constrangeram a mim fazer a narração, mas não podia me furtar estes detalhes e
nem furtar de dar esses detalhes ao leitor, e ainda estou abrandando um pouco
as coisas; Luis, em uma sentença: Luis é
raso de pensamento e muito over em ações, em atitudes; conclusão: ele faz
coisas de mais e pensa de menos. E nós que resolvemo-nos aqui, eu narrando
esta história e, você, leitor, visitante deste site, ao ler e entender destas mesmas
palavras.
Mas Luis não se
“tornou” gay, não, foi só uma fase, uma álibi e mais outras possibilidades, e
isto, ainda, abriu um pouco mais o leque dele arrumar dinheiro, com o sexo gay.
Se vendendo, se prostituindo: se
oferecendo as délrias com bastante aqué (gays velhos com a carteira cheia
de notas de cem Reais). Além do que, com o sexo gay, Luis aprendeu a “fazer um
pouco a loucura e o estresse” passar, quando resolvia se catar com outros caras
no mato ou em um outro lugar que tinham ido fumar pedra na lata furada e cheia
de cinzas. Mas ele não era gay, não como O introspectivo era, bem, ao menos
Luis acha que O introspectivo é gay.
Sei lá, talvez Luis
deva gostar de Meninos e Meninas – tal qual a música da Legião Urbana. Mas,
depois de passar uma temporada comendo os viados, com i mesmo, porque com e, é
veado, do campo... Desde que ele deixou de ir lá, nas bichas, enfim, vamos nos
poupar destes detalhes, ele começou a usar cocaína, para dar uma ligada e uma
segurada no tesão; pura conversa; mas bem, ele acreditou nisto e lá ia
cheirando as carreiras. Naquela mesma época ele começou a entornar uma cerveja
velhaca, começou a beber muito; horrores,
como dizia as monas – os gays. Cocaína, cerveja, sexo, ânus e penetrações; um
som bem nostálgico, como uma Gloria Gaynor, um Abba, um Charôt, um David Bowie,
Boy George, Sade, Frenéticas, Banca Escândalo, Sidney Magal, Gal, Nana Caymmi,
enfim... um monte roupa pra se montar, brincos, revistas de tatuagem e de
homens pelados, talvez, ser mais gay seria impossível.
O fato é que Luis
gostou mais de chapar (beber e cheirar) do que de comer rabo de viado; talvez
fosse isso, ou talvez fosse que os próprios gays – um casal de amigos que
deixavam ele ficar na asa deles – tinham se arrependido de acolher o Luis ao
seio, nas pernas, do lar.
Quando deixou de
sair com os gays, Luis começou a andar com o pessoal mais louco e bêbado do
bairro dele, e juntos, iam na Marginal beber e chapar; sem muito dinheiro, Luis
bebia pinga com groselha, vodka, conhaque e pinga pura, e esperava até
conseguir usar alguma outra droga, foi neste período que ele conheceu a pedra –
o crack.
E assim vivia: sem
cultura, com o cu na mão de um crime que cometeu e não contou a ninguém (exceto
a mim, claro, que conto a história do noctâmbulo), sem trabalho, sem estudo, só
pensando em beber, cheirar, fumar e usar mais drogas. Desiludido amorosamente,
pensa que não mais poderá amar mulher – depois de matar sua jovem namorada
infiel, a Carla -, pensa, ainda, que nem entre os gays foi aceito, ou bem introduzido
na sociedade deles... assim, não amava nem um nem outro, mas poderia, em tese,
ficar com quem bem entendesse e eles aceitassem ter.
Neste embalo, Luis
começou a cometer crimes para sustentar seus vícios e suas loucuras: roubou
bolsas, pequenos objetos, roubou droga e dinheiro dos outros viciados, roubou
postos de combustíveis, e mais...
Ele tentou parar com
as drogas químicas, e ir levando a vida apenas com álcool ou maconha, mas
parece que ele vive às turras com as substâncias químicas, o que é uma pena,
mas creio que isto se deve ao fato dele ainda não ter se libertado das drogas
mais fortes e menos interessantes de se usar.
Por causa de pedra –
crack – ele deve ter morrido duas ou três vezes, já, nesta vida. E como ele
ainda está entre nós? Simples, ele não morreu, mas sobreviveu para contar a história
a mim, e eu contei a vocês, os leitores mais atentos deste Conto do Noctâmbulo
devem ter notado, um dos únicos trechos lineares – cronologicamente – desta história
e justamente esta parte final...
Ele morreu na
ocasião que roubou o posto de combustível e houve aquela terrível fatalidade,
mas sobreviveu aquela situação, apesar dele me garantir que uma parte dele
morreu, sem dúvida alguma, naquela madrugada; morreu quando matou a Carla e viu
a sua vida dar uma reviravolta total; morreu ao ver Circassiano ser arrastado
ao mato embrenhado da parte mais afastada de suas vistas, por aquele estranho
ser, provavelmente ancestral e autóctone.
E deve ter morrido
ais uma vez, após ter ficado longo período sem crack, mas quando infelizmente
voltou a usar, talvez, por opções melhores de passar os seus dias, na concepção
dele, claro.
Ele é um refém de
seus consumos; está preso ainda nas lembranças das madrugadas viradas, passadas
sem dormir, que viveu ou naquelas [madrugadas] que queria ter usado muito mais
droga e ter enlouquecido muito mais, e que não conseguiu realizar. E a pedra
deve ser exatamente assim mesma: onde você começa usando uma pedra por noite e quando
vê, chega um momento em que a pessoa está usando mais de 10 pedras por dia e
nem acha que isto, ainda, é muito. O foda de o Caso de Luis é que ele até
chegou a ficar de boa, ficar de cara, isto é, sem usar crack e cocaína, por um
tempo, mas a continuidade no consumo de substâncias inebriantes e alcoólicas o
fizeram retornar muito mais intensa e perigosamente ao mundo da loucura das
drogas.
Mas ele e ajeita, ou
então se joga de vez e vai morar na rua e / ou virar trecheiro (que vive no “trecho”)
e ir de um ponto a outro do país atrás daquilo que jamais o irá satisfazer; mas
que ele busca, porque é tudo o que ele acha que quer ter, ou seja, é o que ele
acha que o faz feliz e completo – pleno.
Mas ele sabe que
pode muito mais, que pode chegar a até ouros lugares, fazer outras coisas, ele
que já fez de um tudo nesta vida mesmo; mas não, o país parece que não muda, as
oportunidades começam e até vêm, mas elas não acabam pro se concretizarem realmente
e o que fica é só a frustação; talvez seja por isto que Luis prefere continuará
a usar as suas drogas proibidas, nelas a frustação e parte integrante, ao menos
não vendem ideia de que a droga irá lavar a sua vida. A droga vai destruir a
vida de Luis, e é exatamente isto que ela está fazendo com isto, mas talvez
seja isto mesmo que ele queira da vida dele. Ao menos, são sinceros, um com o
outro. No mais, talvez drogado, Luis veja o mundo um tanto quanto
diferentemente do que os demais, mas isto, nem é bom nem nada, porque os outros
talvez jamais possam entender estas percepções que cá aqui estamos traduzir, eu
com minha escrita, e vós outros, leitores, que as exercitais com vossa leitura.
Percepções estas provindas diretamente das experiências de vida in-vividas que
o sr. Luis fez da existência e dos desejos dele.
Mas, já aviso aos
leitores mais sensíveis e que se esforçaram muito para concluir a leitura deste
manuscrito web-enviado, ou deste
texto digitalizado, aviso que sim, Luis pode se esforçar no caminho da Luz, que
tanto sabemos ser importante para poder evoluir ou superar as dores. Mas que
isto estará subordinada-mente relacionado ao fato de alguma outra experiência
sobre-humana, como escapar da morte, ou ver (ou mesmo sentir o cheio da chuva e
do vento no mato) de algum ser parecido com aquele outro no mato, alguma
entidade de algum lugar muito estranho e inóspito. Se Luis chegar perto novamente
de algum ser da in-saciedade, de entidades da escuridão, de energias de pura
maldade, certamente, ele irá pensar muito em acometer outro incidente ligado ao
crack ou demais bizarrices e vãos tolices de prazeres que não se conservam,
senão disformes sensações e lembranças fragmentadas. Quando ele perceber que se
perdeu demais em ondas de pura maldade, ou que sua vida está em risco, ou algo
muito terrível e traumático, pode acontecer (instintivamente perceptível por
ele), ele sem dúvida deverá recuar e sair de cena. Ou como se diz no Brasil:
quando o dele estiver na reta ele sai-fora; assim, Luis achou uma zona de
conforto em seu uso de droga e vida marginal, e talvez, só, por isto, ele permanece
nesta condição. Mas, eu acho que ele aprendeu alguma lição ao longo destes
anos, principalmente, quando passou dos 26 anos, ou dos 32... o seu instinto de
conservação passou a falar mais alto, exatamente como um animal de certa idade,
que se precaveu, de jeito a não mais estar participando de funções e confrarias
com demais animais.
Talvez, ainda, Luis
se esqueceu de viver, ou se esqueceu que tem outra vida fora do crack e da embriaguez.
Eu mesmo, como narrador, poderia escrever mais livros, ou páginas na web sobre
a vida dele, poderia escrever a Casa de macumba, dizendo como era a vida de
Luis antes e após matar a carla; poderia escrever mais outros conteúdos,
discorrendo sobre o aspecto espiritual e material (epistemológico e ontológico,
etc....) da vida dele, de seus amigos e dos lugares em que ele frequentou, mas,
veremos, como o TEMPO se resolve a respeito deste assunto.
O fato é que Luis
queria uma porta, conheceu o caminho que leva as drogas; deste caminho, meio
ébrio, meio esquisito, soube de outros assuntos, descobriu roupas íntimas de
gays, descobriu outros aristas e outras formas de ver o mundo, conheceu gente
interessante e gente que não fale nem a droga que usa... Viu o sol nascer de
cara louca, e viu o sol nascer com uma ânsia danada de usar algo e de nada ter.
Enganou os gays, matou a namorada e se fechou em um mudo que ninguém mais quer
estar, exceção dos adictos, dos noias e dos Luises, e que com isto, não há mais
como dizer que estas pessoas não existem nem que não são como nós, se fictícias
ou reais, estas são elas, e seus contos, daquilo que elas nos representam; a
uma luz no fim do túnel, que não é a luz que apresentamos neste final de livro
/ página de blog; porque tal como os humanos, material de inspiração a este
texto, se há aqueles que querem abandonar o vício e começar a vida nova, há
também, os que pretendem se manterem loucos e chapados, e que ninguém s tire
deste caminho, e tal como os humanos, o Luis de aqui não parou com nada, apesar
de ter diminuído muito, mas prossegue doido, pretendendo estar num caminho que
de fato só há quando se chapa, mas não se pode se chapar a toda hora.
Mas que o próprio
Luis experimentou ser possível andar do outro lado da escala de cor da
existência. É possível superar a dependência e a decadência da alma e do corpo.
Só que para isto, deve-se querer e desejar ter outras coisas, e fazê-las, como
Luis sempre fez qualquer coisa, e é isto que ele ainda não conseguiu desejar e
querer, uma outra vida senão a vida marginal. Enquanto isto, ele vai levando a
vivinha dele, querendo o que ele quer e que ele acha ser o melhor pra ele; só
que não, um dia ele verá que isto, não era o melhor pra ele; era necessário para
ele aprender, isto, sim; e quando ele aprender, não precisará mais de nada
disto.
Porque um dia ele se
liberta, ou então a sociedade se libertará do peso que ele impõem a ela.
Dois.Um : PARTE II
1
Luis parece ser outro ser. Ele está mais equilibrado e menos bizarro. Mas ele continua sendo Luis e prossegue com suas chapações. Bem, ele saiu de sua casa em Matão e agora vive no último bairro da zona oeste da cidade de Cajulândia, adjacente à Matão... ele continua insensível e inescrupulosos, porém, agora ele está aprontando menos, ele parou (ou tenta parar) de usar drogas químicas...
Agora, num sábado à tarde, ele está num pastoque tem perto da nova casa dele. Ele está sentando embaixo de uma laranjeira, bebendo pinga numa garrafa de 600 ml e fumando um cigarro vagabundo. Ele está pensando sobre continuar ou não morrando com João (O introspectivo); de alguma forma os dois não combinam e Luis só mora alí, com ele, por falta de opção: Luis não quer mais ver pai e mãe brigando, ou irmãos de quatorze anos que chegam bêbados e Vomitados, ou até mesmo a influência de "amigos" tão sacanas por perto, e por tudo isso, ele preferiu sair daquela sua região, daquela cidade e como O introspectivo tinha essa casa e ia se mudar, Luis mudou com ele. Afinal, Luis sabia que o cenário ajuda a contar a sua história. Ao menos João (O introspectivo) é boa gente e intelectualizado. Luis sabe que ele se daria bem se lidasse com atividades mentais; mas ele não tem muita paciência para aprender; por exemplo, O introspectivo possui muitos livros, muitos gêneros, possui ainda uma vasta coleção de cds e sempre está disponível para falar de questões cabeça... O problema está em Luis. Ele está cansado da vida que teve e tem, os atos dele já o enfastiaram e ele precisa de algo mais. Talvez um bom trabalho, mas qual e onde, como?
Luis tem dúvidas sobre seus gostos e aptidões; mas o mato o acalenta, e acalentado respira fundo e começa a enrolar um cigarro de papel. Enquanto pensa que gostaria mesmo de se envolver em um grande projeto de construção de um novíssimo trator... mas se dá conta que esse caminho seria muito longo. Quantos cursosnão teria ele que fazer? Mas, ele poderia começar de outro ponto, poderia aprender na própria industria, o processo de construção de um trator. Passando vários anos em cada setor e desvendando os mistérios até finalmente conseguir o que quer... Mas isso é impossível: deu-se conta. "Não é mais possível entrar como aprendiz, peão, em uma empresa e ir crescendo até chegar emum cargo de chefia, a sustentabilidade não necessita justamente dos melhores recursos e aproveitamento desses recursos e não a improvisação?
_ Não é mais possível entrar como aprendiz numa empresa e ir crescendo até chegar a um cargo de chefia - disse Luis enquanto desenchavava o fumo - não existe mais essa possibilidade, eu nunca conseguiria desse modo. Acho que tudo isso é uma grande loucura.
Assim, só pensava que tudo aquilo era muito desnecessário e sem importância. Viu-se fechado por todos os lados e desistiu. E como isso é comum: não tem mais saída, acabou.
Ele risca o fósforo e acende o trabuco. Enquanto a fumaça rebelde se dissipa logo após de ter sido liberada pela boca de Luis. Ele respira fundo e se satisfaz só por existir e poder fumar. Era um momento de contemplação, com nossa condição tão limitada perante todo o resto. Mesmo com milhares de outras questões em sua vida, Luis se dava ao luxo e sorria simplesmente por puxar e soltar a fumaça. Ele repara ao seu redor, e vê que quase sentou em cima de uma trilha de formigas saúvas. Ele pega a garrafa e levanta-se, enquanto o fumo aceso está na boca.
Ele veste calça jeans e uma bota, uma camisa de botão e tem um boné preto.
Ele anda por perto, com seus passos lentos e despreocupados. Finalmente joga a ponta ao chão. Já estava bem distante de seu antigo lugar onde estivera sentado. Agora, Luis havia escolhido uma pequena inclinação perto de uma frondosa árvore centenária; o novo lugar escolhido para sentar era muito mais tranquilo e sombrio.
Deveriam ser cinco da tarde e ainda havia bastante pinga na garrafa, Luis deu um gole, no começo, achou esse gole fraco, com um certo gosto de água na boca. Mas depois da pinga descer goela abaixo, ele mudou de ideia e a considerou forte, queimante como que flamejando os tecidos de pele interna, e por fim, quando a pinga chega ao estômago, ele tosse e depois sorri, numa gargalhada que espirrou gotículas de saliva alcoólica.
Ele estava cansado de ficar ali naquele laranjal deserto e abafado, mas o que mais ele poderia fazer da vida? Não queria voltar para casa pois lá estava João (O introspectivo); não poderia ir a um bar pois o dinheiro que tinha, comprou a pinga e o fumo, o cigarro ele já tinha. O que ele poderia fazer? O que foi que ele fez? O que ele fez: foi pro mato beber e fumar. Sozinho, em uma tarde de sábado. Apesar que ultimamente,os sábados à tarde tornaram-se meros dias que ocorrem entre muitos outros dias da semana ou do ano: o que vale na modernidade é o tempo que se gasta em festas - assim dizem Os Atuais, que se baseiam apenas em suas próprias vidas.
Luis estava farto de toda aquela frescura que só venta e nunca traz mudança alguma: ele havia renegado toda e qualquer forma de sociedade dita como boa: seja ela tradicional, sofisticada, conceitual, hype, dub, o que fosse; ele decidiu ser por si só, era ele e nada mais. Ira vejam! Decidiu-se por ser uma pessoa reclusa que se fecha em suas próprias críticas - quando ia ao centro e via que lindos casarões antigos estavam sendo derrubados para construir galerias, lojas, casas de vidro,aquelas caçambas atrapalhando os pedestres, o consumo de mais e mais carros e ninguém exigindo transportes públicos de qualidade, tudo isso revoltava Luis - e o que sobrava a ele era isso, beber só no mato,para tentar esquecer em qual sociedade ele vivia. Isso tudo o fazia enfurecer.
Bem, ele se zangava facilmente e vez ou outra ele tinha razão. Uma razão que se baseava em valores como tranquilidade, equilíbrio, leveza e cumplicidade de ideais. Ele estava se trancando por não ter companhia e se consola com suas possibilidades mais simplórias:uma bela frase, um bom raciocínio, um belo cheiro e um grande prazer,sempre; Eu já disse antes, mas aqui o antes vem depois, Luis era raso e acho que continua sendo. Mas, será que ele faz mal, se faz, faz a mais alguém que não seja ele mesmo? A pessoa que ele mais pode machucar é a si mesmo, e isso, um dia, ou uma noite, ele vai aprender. Veremos... ele está em um caminho, falta saber se falará mais alto o orgulho ou a humildade e em quais tons.
Ele continua sentado, no laranjal, pensando sobre coisas possíveis e, ao mesmo tempo distantes e quase que inalcançáveis. Luis também aprenderá que quase não é, quase é apenas quase.
O sol descia que Luiz nem via, e ele muito bebia e sorria. Pensava no acaso, na soma de fatores que forma o destino, ou no mero redemoinho do nascer no que nos joga em uma realidade, boa ou má, pobre ou miserável, em uma família que terá que viver e que bom quando não te mandam pra adoção. Em qual família poderia nascer senão a tua? Talvez em uma pior. Luis pensava em até que ponto o destino de ser filho ou não de outra pessoa pode ou não mudar a sua vida - "preciso andar com uma garota com muito dinheiro e fértil que gere um filho meu" - pensava Luis bêbado. E continuava:
_ Não - começou um discurso solitário - , não. Não basta ser RICA. Tem que ser doída e gostar de aprontar, e também cheirar a sangue... tem que ter personalidade... é isso tem...porém, se assim for, o que me garante que ela deixe eu ter a custódia do menino e pagará a pensão...?...ih...seria mais fácil se eu fosse garota. Devo estar bêbado, falando sozinho...
E estava e cada vez ficava mais; a bebida nessa tarde quente e abafada de verão, havia se-lhe tornado a única companhia,o único amigo, o escape, e o desabafo, e sabemos como respingamos em nossas únicas companhias e elas em nós, estava muito bêbado - como sempre já era nas noites, nas madrugadas de tropeços e sinas (sinais?).
Havia, agora, se frustado com seu último pensamento, acreditava que estava inapto ao conciso pensamento e concluiu: "Estou fora de uma realidade consensual e já, ao sol pondo, nesse lindo dia, encontro-me em outro mundo, eu que eu crio e só eu entendo" . Por esses dias aprendeu palavras e ideias novas, agora acendia um cigarro e via como tudo ia se escurecendo.
Lembrou de um poema, ora vejam, que O introspectivo havia lido á ele, A Máquina do Mundo,de Drummond. Nesse instante associou: Nunca mais voltarei á casa dele. Um estranho sentimento de arrogância, com certeza e silogismo adentrava-lhe alma à cabeça. Seu corpo sabia que ia caminhar. Nessa chapação absurda Luis acabou por se decidir ganhar a estrada: perto dele havia uma rodovia e ele tornaria e seguiria até outra cidade. Dizia:
_ Eis me nesse início de sábado à noite, a percorrer estradas e chegar em outros ares.
Olhou para outro lugar dentro de si - a mudança tênue do dia para a noite - e viu, que já, caso houvesse, uma hora para partir, essa hora seria agora.
Levantou-se e falou:
_ A treva mais estrita já pousara
sobre a estrada de Minas, pedregosa,
e a Máquina do Mundo, repelida,
se foi miudamente recompondo,
enquanto eu, avaliando oq ue perdera,
seguia vagaroso, de mãos pensas.
- Drummond, A Máquina do Mundo.
Depois, ficou um instante em silêncio, bebeu da garrafa de vidro de pinga e se riu, mais internamente do que externa: os olhos não são a janela pr'alma, é a Alma - nos vemos intimamente nos olhos!; O introspectivo dizia que isso era ser íntimo, não as outras partes do corpo mas o olhar de olho a olho, isso era íntimo. E acalentou-se enquanto deixava o mato e ganhava o asfalto automobilístico. De certo, nem ele sabia porque diabos! estava ele a fazer tal coisa ilógica, talvez o álcool, ou o fumo, ou o sol, ou a vida mesmo, o deixaram demais atormentado, atordoado, abafado e agora, queria mais, talvez...mais ar. Goethe alcançou a LUZ, Luis ia atrás de melhores condições respiratórias, climatológicas: nem isso era; Ele não conseguiria mais, a tal ponto da (in)compreensão, ficar ali ele tinha que sair dali e ir a outros lugares, longe distante, desconhecido e novo, novo ao menos em suas lembranças, ele queria novos ares para esquecer aquele.
No canto esquerdo da rodovia sentido interior/capital, contornando o mato, com desastrosas entradas do pé direito no asfalto, Luis seguia um ritmo cadenciado e com clara demonstração de chapação, mas seguia firme: a firmeza que ele mesmo não tinha na Alma, ele a afirmava e dela provava e mais queria, viciando-se numa coisa que ele talvez nem tia, mas mesmo assim ele a sente, a usa e a transforma no que quer: pretexto de bêbado que se justifica, mesmo depois de caído e morto.
Firme e certo, mesmo bêbado, mesmo sem grana, com fome e cansado, ele seguia o que considerava o seu caminho,mesmo sem consciência dessa resolução. Ele acreditou que andar milhas a fundo o salvaria. De quê? Dele mesmo, de tudo. o maior mal que ele pode fazer é a si mesmo: e dele mesmo, ele fugia, depois de ter se visto, frente a frente, de algum modo - sem máscaras - como ele mesmo: um meio sóbrio, um bêbado, um sóbrio, um meio bêbado.
II
E lá estava ele, no breu, em pleno escuro, com álcool e sem rumo. Se alguém, de automóvel, claro, passasse certamente pensaria:
_ Olha que garoto mais parasitário e sem futuro - assim certamente pensaria uma família que viajava de uma cidade à outra, para levar as crianças pra ver os avôs.
Não havia sequer um único poste de luz para iluminar a alta estrada. Tudo era pardo, num grande escuro que devorava Luis, no mais forte negrume que os olhos podem ver enquanto abertos. Isso quando carros não irrompiam à escuridão com seus faróis de milhas quase a deixar os olhos de Luis cegos. Era muito assim: o escuro empenetrante era irrompido pelas luzes focalizadas. Tudo isso causa mal estar, a tontura, o medo e a vontade de fugir, se Luis fosse outro, talvez desse nele vontade de se atirar embaixo dos automóveis. Medo. E o medo de algum louco bêbado, perder o controle do carro e bater na fuça ébria de Luis... Pois é.
Cada carro que passava fazia ele estremecer e adentrar diretamente com os dois corpos no mato. Esses matos rasteiros que compenetram nossas rodovias.
Estava muito escuro essa hora, mas parece que Luis chegou a cair no mato quando, ao pensar que pisaria em solo firme, pisou em um buraco, encoberto pelo mato. Como Luis, assim como todos os Noctâmbulos, é guerreiro, ele cai, mas levanta rápido.
Entretanto, a um certo ponto da caminhada nos pareceu que psiquicamente, Luis estava esgotado. A tal ponto da caminhada, o simples ruído de motor que ele meio que percebia que vinha um veículo, já o fazia, além de adentrar no mato, no lado mais escuro da rodovia, nas sombras, ele também a certo ponto, começou a tapar os ouvidos com os braços, enquanto os antebraços cruzam-se-lhe a cabeça, onde gritou:
_ Eiha! Por quê? Essa luz me fere... ?
Ele pára e percebe ao perceber que estava derramando pinga nas suas costas. Ele se recompõe e percebe que não está nada certo. Percebe que nem só o crack o deixa louco, que nem só a loucura das madrugadas de fumadas é o que pira a mente. O sol e a pinga certamente o haviam feito muito mal, mas será que a alguém não faz? O treminhão havia passado e o escuro prosseguiu.
Muitas vezes, pensava em voltar, a todo instante... Mas não queria mais voltar alí, uma vez que morar com O introspectivo era bom, mas era o lugar dele, do próprio introspectivo e lá não era o lugar dele, Luis. O fato é que Luis se sentia mais a vontade na casa do Val, em Cajulândia, cidade dO introspectivo, Luis não se sentia em casa, Mas em Matão sim... ou em Capinga, a cidade do Menino Lobo, um maluco que conheceu em suas andanças sem rumo. Assim, não podia mais voltar para a sua casa, com as brigas insuportáveis entre o pai e a mãe dele, coisa feia que só os dois apreciam. Não queria mais morar com O introspectivo, com o Val haviam brigado por questões pessoais. O melhor opção era procurar o Menino Lobo, algo o chamava para Capinga e por fim, pensou, "Na certa, ninguém deu-se conta que não estou mais em Cajulâdia e nem fazem questão de sentir a minha falta.
Tentou dar um longuíssimo gole na branquinha, mas como a garrafa já estava zerada não conseguiu dar nada além de uma bicada. Um gole raso. Bateu-lhe uma tristeza. Mas essa tristeza pendurou por pouco tempo; uma vez que outro farol vinha a irromper o escuro, e sem o álcool criou coragem e disse:
_ Vou olhar de frente para o carro.
Nisso, sem fugir da luz, ele viu que havia uma espécie de altar à beira da estrada e nesse altarzinho, também tinha um corotinho de pinga, essas embalagens de plástico transparente, e Luis simplesmente esperou o automóvel passar para pegar o corote, lacrado,e fechadinho, Luis disse:
_ Um corote de pinga, minha dor de cabeça até passa. O que há de errado em beber desse corote? Nada, não para mim, pessoas mais numerosas e quantitativas podem achar que beber um corote desses, desses de entrega, fazem mal ou até mesmo deixam a pessoa louca ou morta entretanto Luis sabe que isso não é bem assim que funciona, exceto para aqueles que o problema não for o espírito mas sim a carne (poucos e raros, raríssimos, gente de multi-talentos, multi-facetas, habilidades antagônicas, aparentemente não ornáveis que alguns poucos e raros, raríssimos, gente que infelizmente não vemos por aí todo o dia e nem fazem parte de temas de exposição, possuem e normalmente presenteiam o mundo com suas obras, isso quando aceitos socialmente...), para a maior parte das pessoas que o problema, ou melhor a fraqueza está na parte espiritual, são carnalmente resolvidos, mas espiritualmente "reservados".
Não sei vocês, mas eu jamais beberia daquele corote, não foi intentado a mim, não é pra mim que ofertaram aquele corote, independente da opinião de Luis, que já creio não ser dele, deve sim ser da bebida, ou de alguma entidade, mas dele, acho difícil, até mesmo pelas palavras, mas a essa hora da noite, já não duvido de mais nada. Alias, sei sim, sei que daquele corote ele ou esse ser que estava nele naquela hora não deveria beber daquele corote, mas parece que Luis não queria nem saber, porque ele estava tentando abrir o corote que estava lacrado ainda, mas não estava conseguindo, é exatamente nesse momento que um carro vindo da direção de cajulândia aproxima e alguém grita:
_ Luis? É você?
_ É.
O carro pára e desce O introspectivo que vai próximo a Luis, uma vez que percebe que não havia carro algum por perto exceto o que ele tinha vindo até aí. O introspectivo, aproximando e dizendo a Luis:
_ O que você faz aqui? Vamos pra cidade...
_ Eu vim beber mais, olha o que achei...
_ tem bebida no carro. Deixa essa bebida aí.
_ Eu não conseguia abrir mesmo.
E foram pro carro, onde o Introspectivo ai perguntando o que Luis estava fazendo alí, que era perigoso andar na pista a qualquer hora, ainda mais à noite, etc. Luis, enquanto voltava pelo caminho que tinha feito, assim dizia, já ébrio e bebendo mais, claro... o corotinho tinha ficado lá, ainda lacrado:
_ Eu cheguei a parar no meio do caminho e pensei em voltar ou prosseguir, na verdade ainda não sei se quero voltar, eu queria andar de cidade em cidade, atras do por do sol, bebendo e fumando,to injuriado, cansado, nojento e queria ir embora de sua casa, lá é seu espaço, você me entende mano, sinceramente, obrigado por ter aberto a porta de sua casa pra eu aí, mas sabe, eu sou um peso, como você diz, O introspectivo, o entusiasmo de beber é maior do que o corote da pinga... e eu no sol, no mato...agora com vocês dois estão confuso e sem graça, não queria ir com vocês, vocês vão fumar, vão beber e andar de carro, mas eu tava cansado e com fome e tudo isso está tirando minha brisa. Vocês não vão roubar minha loucura com essas suas porcariada químicas não... eu tô com sono. mas quis sentir o gosto de passear pelo escuro e ia beber aquela pinga lá, se vocês tão tivessem chegado... quem é esse cara? oia, tá tão pego que nem fala, deu aquela fumada de travar o queixo?
Ninguém respondia nada e continuava a falar Luis asneiras de bêbados que a partir desse ponto se tornaram ininteligíveis e não davam para entender porque ele já arrastava muito a voz ao dizer essas coisas...
O carro ia mais rápido e quando Luis deu uma brecha, O introspectivo assim disse:
_ de dostoiévsky:
"Todos vós estais perdoados, já vos perdoei uma vez!"
III
_ Eu sempre soube que era alguém especial. Mesmo quando meu pai me obrigava a fazer a vontade e dele e fazia com que eu deixasse as minhas coisas de lado. Sempre soube que poderia chegar onde quisesse. Acontece, que eu só quero chegar com uma nota alta na casa do traficante, gastar tudo com química e de preferência, ter mais umas nota pro goró, agora, se tiver um funk pancadão, ou um rap de responsa, pode deixar rolar também. Que O introspectivo não me ouça falar assim, ele insiste tanto para eu ouvir o Belle And Sebastian, o Ez Rollers, a Clara Nunes e o Benito de Paula, se ele estiver por aqui ele não pode me ouvir falando assim...
_ Não, ele não está por aqui, estamos só nós aqui e agora, não se lembra? O Seu amigo foi embora, quem quando você começou a cantar aquele funk, lembra o bonde das decaídas, era isso, que base era aquela que você se referia, que fez O introspectivo corar e suar frio?
Estava então, Luis e seu amigo novo, Circassiano, em meio ao mato em uma noite da grande lua, O introspectivo já havia explicado há quase um mês que essa data viria, entretanto, não deram a mínima, mas quando cai na mídia, e agora,até aquele garoto novo, parece que o Circassiano, é muito popular nas redes sociais, apesar que Luis não tem perfil em lugar algum... e O introspectivo até tem, mas como não é muito feliz com suas postagens, ele acaba por nem escrever ou postar nada... quando não um boa noite, que um ou dois aprovam. Estavam a olhar as estrelas, os três, claro, fumaram alguma coisa, beberam umas sete garrafas e depois da performance desastrosa, agora a pouco, por um pouco não a pegamos, depois disso O introspectivo saiu em meio ao mato e só ficaram esses dois aí.
_ Não, sei - Disse Luis - não sei de nada, me deixa! Nada disso mais importa ou Circuano...
_ É Circassiano,
_ Que seja, mano. O que importa é que eu vou fumar outro. Tem mais daquele aí?
_ Tem.
_ Dá aqui então.
E subitamente, veio um silêncio profundo onde estavam, beirando a velha mata, da antiga estrada que ligava Cajulândia a Capinga, antiga e abandonada, ninguém mais a usa, é muito estreita e tem mato muito alto, bichos... as poucas chácaras e os dois sítios dessa imensa área estão muito afastados de onde chegou o progresso e o cultivo não é promissor nessas terras, o gado ia bem por aí, mas sabe como é interior. Alguns aminais começaram a morrer, definhados, com estranhas marcas no corpo e logo,claro, atribuíram isso ao chupa-cabras, podem crer... Eu acredito que tenha sido alguma virose (ou outra doença infecto contagiosa) que acabou se proliferando pelos campos de gado, o fato é que os animais cultivados por aí ficam muito mirrados e parecem que não se desenvolvem muito bem, além é claro de desenvolverem chagas e doenças.
Luis desconhece tudo isso. Circassiano, sabe de todas essas histórias e de muitas outras, dessas e de outras bandas isoladas do mundo.
O fato é que tudo ficou quieto, Luis, claro, preparava para fumar enquanto Circassiano, parecia estar ansioso, esperando que alguma coisa acontecesse a qualquer momento, que um raio partisse ao meio a cabeça de Luis, era essa a feição que trazia, Circassiano em seu semblante.
_ Fuma, aí?
Luis passava o cigarro de maconha para o seu novo comparsa, que dava um leve trago e já devolvia. Luis, claro, fumava com gosto, como sempre e perguntava:
_ Não tem uma dura aí não?
_ Não, só do verde e birita.
Estavam tomando cerveja com pinga, mas parece que tinha um corote de rabo de galo por aí também, Luis claro, não vi, mas ele deveria ter uma pedra nos bolsos,estava muito acelerado e parecia que tinha que fazer um esforço sobre-humano para não sair correndo ao contrário de ter enrolado calmamente o baseado.
_ Vou tomar mais dessa pinga. Mas e aí, cê não fuma não, ta de passeio?
_ Eu já estou louco, e preocupado com seu amigo...
_ Ué, Por quê? Foi ele que quis ir, não lembra, não, tô, fuma aí, véio.
_ Por quê? Você não sabe mesmo? Pensei que fosse um pouco mais esperto, na certa não sabe quem é o grande senhor dessa região profunda e profana.
_ É bom você não fumar nem beber mais nada, mano, cê já tá mais loco do que eu, veio. Cê tem ácido aí, é isso, não é mesmo?
_ Claro que não, falo da grande fome, da grande doença e do grande desprezo que existe por essa área, esses três são um só e...
Quando Circassiano iria prosseguir com seu discurso sobre a maldita coisa que (parece, supostamente) vive por aí, se bem que eu não tenho muita certeza se gostaria de continuar a ouvi-lo... mas quando eu iria dizer, um vento muito forte soprou, sabe quando dá aquela mudança brusca de tempo indicando que um dilúvio vem pela frente? Imediatamente subsequente a essa variação atmosférica, digamos assim, um bizarro e infame grito foi ouvido, em uma linguagem não conhecia, com uma voz agonizante e pavorosa, vinda da mata medonha que parecia ter ficado mais horripilante ainda quando a enorme e linda lua, subitamente viu-se encoberta por nuvens carregadas com raios e gelo. O vento sopra mais forte ainda os gritos aumentam e então algo move-se no mato, perto de Circassiano, que apavorado grita:
_ Não, Mestre, a mim não, é a ele que o senhor deseja...
enquanto disso isto corre no meio do começo da mata fechada e agora bem densa e escura, e o barulho aumenta, de vento e chuva que vem percorrendo a mata e o grito, bem próximo de Circassiano, que corre e corre, tentando fugir, mas infelizmente, Circassiano, enroscou na raiz de uma arvore e caiu, batendo a cabeça em uma enorme rocha que existe desde sempre neste lugar, bastante famosa na cidade, dizem que nessa rocha aconteciam antigos sacrifícios dos indígenas pré colombianos. Deve ter morrido na hora. Foi uma terrível fatalidade. Algo que, graças, estava escuro e não transformou a cena em algo pior ainda de ser visto. Luis mesmo não sabia o que tinha acontecido, ele só viu que tinha algo estranho.
1º com o lugar, que coisa é essa de tempestade e agora, como assim, Luis gostava tanto de fumar no mato, agora como fumar no mato com chuva grossa? Luis imediatamente pensou em sua caixa de fósforo,que logo estaria ensopada e do maço de cigarro que tinha, claro, mas dizia aos outros que não tinha, que logo seria suco de cigarro...
2º há algo estranho com esse Circense, ora vamos, Circassiano, como corre de algo assim, dizendo essas coisas, que coisas eram estas mesmos. imediatamente lembrou de seu mestre, na verdade não sabia se servia a Deus ou ao diabo, mas acabou acreditando que o capeta o deveria requerer quando partisse.
3º O barulho horripilante de voz humana, misturado com vento é muito estranho, e Luis tive a nítida impressão que a voz que dizia "Huahahuah, Vou... pegar..." deu uma leve risadinha quando o Circassiano saiu correndo e por fim, acabou por cair...
Subitamente, o barulho que se assemelha a alguma coisa humana ou não, para mas a água da chuva começa a cair e novo som se forma, o cheiro da terra se molhando é misturado com um cheio de ferro e de ferrugem quem vem quando o mornaço começa a subir. Luis diz:
_ Quem tá aí? Circano, você tá legal aí...
E Luis vai próximo de Circassiano que está imóvel, claro. A voz prossegue, e diz "não se aproxime, enquanto vou me alimentar de seu amigo, ou melhor seu namorado"... que isso?
Luis pensava o que é isso, aos e aproximar de Circassiano e ver "sangue?" E pensava O Que isso, enquanto ouvia dizer namorado, era isso mesmo,estava ouvindo certo, e aquela voz... Luis conhecia bem aquela voz. Em um ímpeto ferrenho, Luis deu saiu em disparada e pegou O introspectivo em meio ao mato, com uns bambus nas mãos que usava para mexer outras arvores e ele tinha amarrado uma folha de bananeira na boca par tentar alter sua voz, Luis reparou que o celular dele tocava uma estranha trilha de fundo... O introspectivo, gritou:
_ para , Luis, para para, sou eu, era só uma brincadeira...
_ Agora mesmo que devo bater em você, pior ainda,olha isso. Luis esfrega a mão que ele tinha passado na poça de sangue que se formava perto de Circassiano, na cara do Introspectivo. Tá vendo oque você fez... ele deve estar morto.
_ Eu fiz? Você sabe Luis que tem coisas que digo a você por confiar na nossa amizade mas não é pra falar na frente dos outros, ainda mais desse cara ai que conhecemos hoje.
_ Conhecemos..., disse bem, não existe mais ele.
Os dois foram perto dele, O introspectivo,com dificuldade na chuva, tentou ver se Circassiano estava respirando e pediu ao Luis:
_ Luis,faz casinha pro Circassiano como se ele fosse fumar uma dura, eu preciso ver se ele respira...
Depois de um certo tempo veio a confirmação - sem sinal vital.
_ Ele se foi...
_ Então é bom a gente ir embora também, eu estou me molhando todo a chuva mal começou, olha como que tá pra lá, a tempestade... vamos embora logo.
_ Mas e esse corpo? Não podemos deixar ele aqui. Ele é um alguém com família,precisamos avisar alguém, fazer alguma coisa, não podemos ir e deixar ele aqui, olha o que aconteceu;
Imediatamente, Luis lembrou de seu primeiro assassinato, ele matou uma vez, matou uma menina, uma antiga Namorada, a Carla. Lembrou que ainda não pagou por esse crime, na época a polícia o associou ao crime, mas um forte álibi dele acabou o livrando do crime e mais, muito mais, mas agora não é hora dessa história, ainda. O que posso dizer é que Luis lembrou das histórias que dizem sobre a cadeira, que lá o bicho te acompanha pelas costas, que a maldade corre solta e que psicóticos convivem com você em sua cela. O que pode acontecer com quem mata a namorada? Luis não queria saber, ainda mais dentro da cadeia e não falou dessa história para ninguém não que eu saiba, bem exceto se alguém tivesse contado algum segredo desse tipo antes para ele. O fato é que: Ele matou e por isso queria sair dali, queria fugir daquela sensação que sentiu uma vez, e apesar de nãos ser ele o assassino desta vez, sentia como se fosse e não queria sentir aquilo, parece que não mais. Enquanto isso...
Enquanto isso O introspectivo falava sobre a dignidade que deveria ser praticada, que não podiam simplesmente ir embora, algo deveria ser imediatamente feito. Enquanto isso,
Enquanto isso,quase que subitamente, os dois observam aquilo.
Era um ser meio translúcido, desfigurado, uma mistura de homem e bicho, mais bicho do que homem, estranho, com uma aparẽncia nada amistosa e que saia da mata e vinha em direção ao corpo de Circassiano. Acompanhado de uma névoa fria e espessa que parecia que contaminava o solo que tocava, deixando tudo com um limbo branco.
A reação dos dois foi a mais natural possível, correr, claro, pegaram o carro do Circassiano e foram embora,enquanto do retrovisor se via que o ser se alimentava do infeliz morto enquanto a criatura observava os dois irem embora no carro.
dentro do automóvel, pavor e silêncio. A chuva apertava, e na mente deles vinham flash daquela cena terrível... em determinado ponto eles pararam. A chuva tinha alagado a ponte e não poderiam chegar a cidade. O introspectivo comunicou ao Luis que havia uma propriedade abandonada ali perto e que ele iria passar a noite por lá. Guiou e disse que deixaria o carro ir no rio, para que se o ser viesse atrás deles, pensasse que caíram na água. Luis ainda deu uma tragada de seu bagulho no automóvel e depois ajudou o amigo a empurrar o carro no rio e logo em seguida correram para a chácara que O introspectivo conhecia. Parece que era da propriedade da família Mattos.
Foram parar lá morrendo de medo, enfrentaram a noite acordado, bebendo as bebidas e fumando alguma coisa. Fazendo silêncio para ouvir se alguém ou alguma coisa se aproximava, nem tossindo, nem falando alto, nem sequer cantando funk algum que fosse, e por lá ficaram, em meio a aranhas, ratos e cobras.
E quando o sol apontou, logo depois de uma hora de dia, e quando, por um breve momento a chuva passou, conseguiram ir embora e atravessaram pelo caminho da ponte alagada, por uma árvore que tombou e permitiu seguir em frente, não se antes observarem que em cima do carro em que estavam, tinham grandes e terríveis marcas, como se alguma coisa tivesse verificado o que tinha acontecido com o carro...
Foram embora a pé, e demoraram umas outras quatro horas andando, ou mais, se bem que portavam as garrafas de bebida e já estavam tão loucos e apavorados que vigiavam-se a si mesmos, com medo até mesmos de seus próprios pensamentos e das consequência de seus atos impensados... Andar era um tormento, cada passo um medo, dizer alguma coisa era totalmente improvável, uma vez que não sabiam do que se tratava e pelo que deu para entender, o único que poderia dizer que coisa era aquela, acabou sendo devorado por ela... ela a decifrou e foi devorado por ela ao mesmo tempo.
3.0 O FIM DO CONTO DO NOCTÂMBULO.
Os últimos Arrepios de Luis nesta
Página da Web
Jô Soares diz
que não se deve começar a mostrar um livro ao público sem antes concluí-lo,
Luis é praticamente, mais uma, uma antítese a isto. Meu melhor amigo, dos anos
90, viu uma das primeiras histórias de Luis e fez um respeitoso silêncio
eloquente ao terminar de ler, um conto de duas folhas de sulfites
datilografadas, em pouco mais de dez minutos, de pura tensão e sombras
soturnas, penso; mas sim, está se acabando os arrepios e as tensões que Luis causam em nós, ao menos
nesta página na web, e eu como narrador, agora, devo me esforçar para rememorar
os pontos mais marcantes desta história para poder, por fim, concluir e dar
clareza as escuridões da vida dele, se bem que, ao se tratar dele, dar fim as
escuridões significa, praticamente, nascer novamente, quiçá, em outra terra ou
galáxia.
Quando Luis perdeu a
cabeça com a Carla que não confessou com todas as letras, em berros e choros, implorando
perdão; mas não, ela não fez nada disso, só disse “Ai que frio” e queria
prosseguir cinicamente em mais uma noite chuvosa e fria (de maio) com as
gozadas e tesões da branda idade de Luis, na época; quando foi que Luis,
simplesmente, se rebelou, tal qual se rebelou Lúcifer quanto ao Pai, e assim
resolveu matá-la e deixar que o cinismo e a falsidade dela nunca mais
enganassem ninguém; “Ninguém mais vai
sofrer por ela, como eu sofri” era um pensamento muito comum dele, naquela
maldita noite de domingo na cidade de Matão, na época em que ele ainda pegava o
ônibus das onze horas para chegar em casa a meia-noite.
Ele aplicou um
“migue”, uma álibi para dizer que ele não tinha nada a ver com o assassinato de
Carla, pensou em dizer que ela era uma biscate, uma garota que cedia facilmente
suas partes sexuais aos caras que elas quisessem, mas achou isso um tanto
quanto inapropriado e por fim, os investigadores só fizeram perguntas
superficiais ao Luis, porque a própria mãe disse que a Carla era apenas amiga,
e não namorada de Luis, como eles se achavam que eram, enfim. A família da
menina colocou mesmo a culpa na violência do bairro na época, e um ou outro
noia, porque Luis ainda não conhecia o significado de noia naquela época,
acabou por “pagar indiretamente”, segundo a justiçada polícia e dos moradores
por mais aquele brutal crime de jovem linda que é morta por supostos
estupradores...
Seu álibi foi se
envolver com a comunidade homossexual da cidade e começar a se interessar por
toda a co-cultura gay. O pior é que
foi exatamente isto que aconteceu com ele, confesso que algumas situações
constrangeram a mim fazer a narração, mas não podia me furtar estes detalhes e
nem furtar de dar esses detalhes ao leitor, e ainda estou abrandando um pouco
as coisas; Luis, em uma sentença: Luis é
raso de pensamento e muito over em ações, em atitudes; conclusão: ele faz
coisas de mais e pensa de menos. E nós que resolvemo-nos aqui, eu narrando
esta história e, você, leitor, visitante deste site, ao ler e entender destas mesmas
palavras.
Mas Luis não se
“tornou” gay, não, foi só uma fase, uma álibi e mais outras possibilidades, e
isto, ainda, abriu um pouco mais o leque dele arrumar dinheiro, com o sexo gay.
Se vendendo, se prostituindo: se
oferecendo as délrias com bastante aqué (gays velhos com a carteira cheia
de notas de cem Reais). Além do que, com o sexo gay, Luis aprendeu a “fazer um
pouco a loucura e o estresse” passar, quando resolvia se catar com outros caras
no mato ou em um outro lugar que tinham ido fumar pedra na lata furada e cheia
de cinzas. Mas ele não era gay, não como O introspectivo era, bem, ao menos
Luis acha que O introspectivo é gay.
Sei lá, talvez Luis
deva gostar de Meninos e Meninas – tal qual a música da Legião Urbana. Mas,
depois de passar uma temporada comendo os viados, com i mesmo, porque com e, é
veado, do campo... Desde que ele deixou de ir lá, nas bichas, enfim, vamos nos
poupar destes detalhes, ele começou a usar cocaína, para dar uma ligada e uma
segurada no tesão; pura conversa; mas bem, ele acreditou nisto e lá ia
cheirando as carreiras. Naquela mesma época ele começou a entornar uma cerveja
velhaca, começou a beber muito; horrores,
como dizia as monas – os gays. Cocaína, cerveja, sexo, ânus e penetrações; um
som bem nostálgico, como uma Gloria Gaynor, um Abba, um Charôt, um David Bowie,
Boy George, Sade, Frenéticas, Banca Escândalo, Sidney Magal, Gal, Nana Caymmi,
enfim... um monte roupa pra se montar, brincos, revistas de tatuagem e de
homens pelados, talvez, ser mais gay seria impossível.
O fato é que Luis
gostou mais de chapar (beber e cheirar) do que de comer rabo de viado; talvez
fosse isso, ou talvez fosse que os próprios gays – um casal de amigos que
deixavam ele ficar na asa deles – tinham se arrependido de acolher o Luis ao
seio, nas pernas, do lar.
Quando deixou de
sair com os gays, Luis começou a andar com o pessoal mais louco e bêbado do
bairro dele, e juntos, iam na Marginal beber e chapar; sem muito dinheiro, Luis
bebia pinga com groselha, vodka, conhaque e pinga pura, e esperava até
conseguir usar alguma outra droga, foi neste período que ele conheceu a pedra –
o crack.
E assim vivia: sem
cultura, com o cu na mão de um crime que cometeu e não contou a ninguém (exceto
a mim, claro, que conto a história do noctâmbulo), sem trabalho, sem estudo, só
pensando em beber, cheirar, fumar e usar mais drogas. Desiludido amorosamente,
pensa que não mais poderá amar mulher – depois de matar sua jovem namorada
infiel, a Carla -, pensa, ainda, que nem entre os gays foi aceito, ou bem introduzido
na sociedade deles... assim, não amava nem um nem outro, mas poderia, em tese,
ficar com quem bem entendesse e eles aceitassem ter.
Neste embalo, Luis
começou a cometer crimes para sustentar seus vícios e suas loucuras: roubou
bolsas, pequenos objetos, roubou droga e dinheiro dos outros viciados, roubou
postos de combustíveis, e mais...
Ele tentou parar com
as drogas químicas, e ir levando a vida apenas com álcool ou maconha, mas
parece que ele vive às turras com as substâncias químicas, o que é uma pena,
mas creio que isto se deve ao fato dele ainda não ter se libertado das drogas
mais fortes e menos interessantes de se usar.
Por causa de pedra –
crack – ele deve ter morrido duas ou três vezes, já, nesta vida. E como ele
ainda está entre nós? Simples, ele não morreu, mas sobreviveu para contar a história
a mim, e eu contei a vocês, os leitores mais atentos deste Conto do Noctâmbulo
devem ter notado, um dos únicos trechos lineares – cronologicamente – desta história
e justamente esta parte final...
Ele morreu na
ocasião que roubou o posto de combustível e houve aquela terrível fatalidade,
mas sobreviveu aquela situação, apesar dele me garantir que uma parte dele
morreu, sem dúvida alguma, naquela madrugada; morreu quando matou a Carla e viu
a sua vida dar uma reviravolta total; morreu ao ver Circassiano ser arrastado
ao mato embrenhado da parte mais afastada de suas vistas, por aquele estranho
ser, provavelmente ancestral e autóctone.
E deve ter morrido
ais uma vez, após ter ficado longo período sem crack, mas quando infelizmente
voltou a usar, talvez, por opções melhores de passar os seus dias, na concepção
dele, claro.
Ele é um refém de
seus consumos; está preso ainda nas lembranças das madrugadas viradas, passadas
sem dormir, que viveu ou naquelas [madrugadas] que queria ter usado muito mais
droga e ter enlouquecido muito mais, e que não conseguiu realizar. E a pedra
deve ser exatamente assim mesma: onde você começa usando uma pedra por noite e quando
vê, chega um momento em que a pessoa está usando mais de 10 pedras por dia e
nem acha que isto, ainda, é muito. O foda de o Caso de Luis é que ele até
chegou a ficar de boa, ficar de cara, isto é, sem usar crack e cocaína, por um
tempo, mas a continuidade no consumo de substâncias inebriantes e alcoólicas o
fizeram retornar muito mais intensa e perigosamente ao mundo da loucura das
drogas.
Mas ele e ajeita, ou
então se joga de vez e vai morar na rua e / ou virar trecheiro (que vive no “trecho”)
e ir de um ponto a outro do país atrás daquilo que jamais o irá satisfazer; mas
que ele busca, porque é tudo o que ele acha que quer ter, ou seja, é o que ele
acha que o faz feliz e completo – pleno.
Mas ele sabe que
pode muito mais, que pode chegar a até ouros lugares, fazer outras coisas, ele
que já fez de um tudo nesta vida mesmo; mas não, o país parece que não muda, as
oportunidades começam e até vêm, mas elas não acabam pro se concretizarem realmente
e o que fica é só a frustação; talvez seja por isto que Luis prefere continuará
a usar as suas drogas proibidas, nelas a frustação e parte integrante, ao menos
não vendem ideia de que a droga irá lavar a sua vida. A droga vai destruir a
vida de Luis, e é exatamente isto que ela está fazendo com isto, mas talvez
seja isto mesmo que ele queira da vida dele. Ao menos, são sinceros, um com o
outro. No mais, talvez drogado, Luis veja o mundo um tanto quanto
diferentemente do que os demais, mas isto, nem é bom nem nada, porque os outros
talvez jamais possam entender estas percepções que cá aqui estamos traduzir, eu
com minha escrita, e vós outros, leitores, que as exercitais com vossa leitura.
Percepções estas provindas diretamente das experiências de vida in-vividas que
o sr. Luis fez da existência e dos desejos dele.
Mas, já aviso aos
leitores mais sensíveis e que se esforçaram muito para concluir a leitura deste
manuscrito web-enviado, ou deste
texto digitalizado, aviso que sim, Luis pode se esforçar no caminho da Luz, que
tanto sabemos ser importante para poder evoluir ou superar as dores. Mas que
isto estará subordinada-mente relacionado ao fato de alguma outra experiência
sobre-humana, como escapar da morte, ou ver (ou mesmo sentir o cheio da chuva e
do vento no mato) de algum ser parecido com aquele outro no mato, alguma
entidade de algum lugar muito estranho e inóspito. Se Luis chegar perto novamente
de algum ser da in-saciedade, de entidades da escuridão, de energias de pura
maldade, certamente, ele irá pensar muito em acometer outro incidente ligado ao
crack ou demais bizarrices e vãos tolices de prazeres que não se conservam,
senão disformes sensações e lembranças fragmentadas. Quando ele perceber que se
perdeu demais em ondas de pura maldade, ou que sua vida está em risco, ou algo
muito terrível e traumático, pode acontecer (instintivamente perceptível por
ele), ele sem dúvida deverá recuar e sair de cena. Ou como se diz no Brasil:
quando o dele estiver na reta ele sai-fora; assim, Luis achou uma zona de
conforto em seu uso de droga e vida marginal, e talvez, só, por isto, ele permanece
nesta condição. Mas, eu acho que ele aprendeu alguma lição ao longo destes
anos, principalmente, quando passou dos 26 anos, ou dos 32... o seu instinto de
conservação passou a falar mais alto, exatamente como um animal de certa idade,
que se precaveu, de jeito a não mais estar participando de funções e confrarias
com demais animais.
Talvez, ainda, Luis
se esqueceu de viver, ou se esqueceu que tem outra vida fora do crack e da embriaguez.
Eu mesmo, como narrador, poderia escrever mais livros, ou páginas na web sobre
a vida dele, poderia escrever a Casa de macumba, dizendo como era a vida de
Luis antes e após matar a carla; poderia escrever mais outros conteúdos,
discorrendo sobre o aspecto espiritual e material (epistemológico e ontológico,
etc....) da vida dele, de seus amigos e dos lugares em que ele frequentou, mas,
veremos, como o TEMPO se resolve a respeito deste assunto.
O fato é que Luis
queria uma porta, conheceu o caminho que leva as drogas; deste caminho, meio
ébrio, meio esquisito, soube de outros assuntos, descobriu roupas íntimas de
gays, descobriu outros aristas e outras formas de ver o mundo, conheceu gente
interessante e gente que não fale nem a droga que usa... Viu o sol nascer de
cara louca, e viu o sol nascer com uma ânsia danada de usar algo e de nada ter.
Enganou os gays, matou a namorada e se fechou em um mudo que ninguém mais quer
estar, exceção dos adictos, dos noias e dos Luises, e que com isto, não há mais
como dizer que estas pessoas não existem nem que não são como nós, se fictícias
ou reais, estas são elas, e seus contos, daquilo que elas nos representam; a
uma luz no fim do túnel, que não é a luz que apresentamos neste final de livro
/ página de blog; porque tal como os humanos, material de inspiração a este
texto, se há aqueles que querem abandonar o vício e começar a vida nova, há
também, os que pretendem se manterem loucos e chapados, e que ninguém s tire
deste caminho, e tal como os humanos, o Luis de aqui não parou com nada, apesar
de ter diminuído muito, mas prossegue doido, pretendendo estar num caminho que
de fato só há quando se chapa, mas não se pode se chapar a toda hora.
Mas que o próprio
Luis experimentou ser possível andar do outro lado da escala de cor da
existência. É possível superar a dependência e a decadência da alma e do corpo.
Só que para isto, deve-se querer e desejar ter outras coisas, e fazê-las, como
Luis sempre fez qualquer coisa, e é isto que ele ainda não conseguiu desejar e
querer, uma outra vida senão a vida marginal. Enquanto isto, ele vai levando a
vivinha dele, querendo o que ele quer e que ele acha ser o melhor pra ele; só
que não, um dia ele verá que isto, não era o melhor pra ele; era necessário para
ele aprender, isto, sim; e quando ele aprender, não precisará mais de nada
disto.
Porque um dia ele se
liberta, ou então a sociedade se libertará do peso que ele impõem a ela.
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